Contabilidade do capital natural e social preocupa empresas, diz especialista
O mundo empresarial está pensando nas formas de contabilizar o capital natural e social envolvidos em seus negócios. De acordo com o diretor presidente da empresa de madeira certificada Amata-Brasil, Roberto Waak, essa preocupação é a principal discussão sobre a sustentabilidade atualmente.
“É isso que está acontecendo com a sustentabilidade no mundo, não tem nada mais relevante do que isso no momento. Que você não pode continuar depredando a natureza, a questão social, todo mundo já sabe, a parte qualitativa já está definida. Agora há um esforço muito grande da sociedade em geral, do mundo empresarial, do mundo financeiro, do mundo dos investidores para por na conta, fazer a conta disso”, avaliou.
Waak participou da mesa “Desafios e oportunidades para o desenvolvimento econômico baseado em espécies nativas, raras e ameaçadas”, dentro das comemorações da Semana do Meio Ambiente, promovida pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ele explicou que órgãos internacionais de contabilidade, empresas de seguro, de rating e grandes fundos de investimento já estão analisando essa questão.
“A ação da empresa gera externalidades, às vezes positivas, às vezes negativas. Ela reduz o capital natural na medida em que converte uma floresta para produzir, ou pode aumentar o capital natural se a operação for de reflorestamento. Então esse cálculo de quanto custa o que ela deixa, além do capital financeiro, é algo que veio para ficar”.
Segundo Waak, o movimento ocorre principalmente por causa de pressões, inclusive econômicas, impostas pelas causas ambientais. “Por exemplo, o caso da BP [British Petroleum, responsável pela plataforma que explodiu no Golfo do México em 2010, causando a morte de 11 pessoas e o vazamento de 4 milhões de barris de petróleo], o dano de valor para a BP, para o acionista da BP do que aconteceu com o desastre foi monstruoso, a empresa perdeu valor. Então eu posso dizer que é bacana o resultado econômico, mas se você não está contabilizando todo o resto que você causa em termos ambientais e sociais, você não está passando o valor correto da sua empresa”.
O diretor disse que os modelos sobre a contabilidade do capital natural das empresas começaram a ser elaborados no fim do ano passado e devem ficar prontos em dois ou três anos.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que o Brasil passa por mudanças nas políticas de conservação da biodiversidade, depois das discussões sobre o Código Florestal, sancionado em 2012, em que a questão passa a ser “algo tão importante que não pode ficar restrita aos círculos de ambientalistas”.
“Eu acho que nós viveremos um novo ciclo de disputas e de afirmação de uma narrativa de desenvolvimento sustentável e conservação da biodiversidade em que nós não somos mais os únicos atores com protagonismo nessa disputa. Teremos que entender como vai ser essa repartição de benefícios, assim espero, do ponto de vista dos atores políticos. E tem muita gente que defende isso, mas que não está com o nosso olhar. Isso que é o mais complicado”.
Durante o evento, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e o Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro assinaram um acordo de cooperação para o desenvolvimento do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), que vai investir US$ 1 milhão do Fundo Mundial para o Meio Ambiente para tornar acessíveis as informações do Herbário Virtual Reflora e repatriar 640 mil imagens da flora nacional que estão em posse de outros herbários no mundo.
Por Akemi Nitahara, da Agência Brasil.
EcoDebate, 03/06/2014
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