Duas enormes Pegadas Ecológicas: EUA grande consumo e China grande população, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Duas enormes Pegadas Ecológicas: EUA grande consumo e China grande população, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Os Estados Unidos da América (EUA) e a China são as duas maiores economias globais e os dois países com maior impacto negativo sobre o meio ambiente do mundo.
Ambos possuem aproximadamente a mesma extensão territorial. Mas os EUA, com apenas 4,5% da população mundial, possui alto padrão de consumo, enquanto a China, com gigantescos 20% da população mundial, possui um padrão médio e crescente de consumo.
Utilizando-se a metodologia da Footprint Network, há duas medidas úteis para se comparar o impacto das atividades antrópicas dos EUA e da China sobre o meio ambiente. A Pegada Ecológica serve para medir o impacto que o ser humano exerce sobre a biosfera (em termos de hectares globais – gha). A Biocapacidade avalia o montante de terra e água, biologicamente produtivo, para prover bens e serviços do ecossistema à demanda humana por consumo, sendo equivalente à capacidade regenerativa da natureza. O planeta Terra possui aproximadamente 12 bilhões de hectares globais (gha) de terra e água biologicamente produtivas.
Em 2008, a Pegada Ecológica per capita dos EUA era de 7,19 gha, a biocapacidade per capita era de 3,86 gha e a população era de 305 milhões de habitantes. Isto quer dizer que os EUA tinham uma Pegada Ecológica total de 2,2 bilhões de gha, para uma biocapacidade total de 1,2 bilhão de gha. O deficit ecológico era de 1 bilhão de hectares globais.
A China, no mesmo ano, tinha uma Pegada Ecológica per capita de 2,13 gha, uma biocapacidade per capita era de 0,87 gha, mas uma enorme população de 1,359 bilhão de habitantes. Isto quer dizer que a China tinha uma Pegada Ecológica total de 2,9 bilhões de gha, para uma biocapacidade total de 1,2 bilhão de gha. O déficit ecológico chinês foi de 1,7 bilhão de hectares globais, em 2008.
Ou seja, os EUA e a China possuem aproximadamente a mesma biocapacidade total, em torno de 1,2 bilhão de gha, representado, cada um, 10% da biocapacidade do Planeta. Mas por conta do alto consumo, os EUA possuem uma Pegada Ecológica total que é equivalente a 18% dos recursos naturais da Terra. Já a China, por conta da enorme população, possui uma Pegada Ecológica total equivalente a 24% dos recursos da biocapacidade da Terra. Mesmo sendo mais pobre, a China se transformou no inimigo número 1 do meio ambiente global.
Desde a década de 1970 a Pegada Ecológica per capita dos Estados Unidos está mais ou menos estável, mas a biocapacidade tem diminuído, o que tem aumentado o déficit ecológico do país. Em 2009, houve uma queda da Pegada Ecológica per capita americana por conta da crise econômica e o menor nível de atividade econômica. Mesmo assim, historicamente, os Estados Unidos se transformaram no país que causou os maiores danos à natureza e que mais impactou negativamente o meio ambiente mundial.
Já a China tinha superavit ambiental até a década de 1960, porém com o acelerado crescimento econômico e com o intenso processo de urbanização e industrialização o Gigante Asiático passou a ter o maior déficit ecológico do mundo. Quanto mais rica fica a China, mais pobre fica o meio ambiente local e mundial. Mesmo durante a crise econômica mundial de 2009, a China continuou elevando rapidamente a sua Pegada Ecológica per capita.
Os dois grandes poluidores poderiam dar uma inestimável contribuição ao mundo se chegassem a um acordo na Conferência Internacional que vai ocorrer em Paris em 2015, a COP-21, no sentido de construir um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, de 1997, que teve resultados decepcionantes e foi incapaz de garantir a redução das emissões dos gases de efeito estufa. A emissão de CO2 é um dos principais componentes da Pegada Ecológica.
Considerando que o nível da Pegada Ecológica está altamente correlacionada com o padrão de consumo, verifica-se que a China tem um padrão de consumo per capita cerca de 3 vezes menor do que os EUA, mas agride mais o meio ambiente, pois tem uma população cerca de 4 vezes maior.
Portanto, comete um erro elementar aqueles que focam suas críticas apenas no tamanho da população ou somente no tamanho do consumo. Para evitar o déficit ambiental é preciso que o resultado da multiplicação do nível médio de consumo pelo número de habitantes caiba dentro dos limites da biocapacidade de cada país. É preciso considerar também os efeitos diferenciados da desigualdade social, pois as elites consomem mais do que os trabalhadores, mas o impacto ambiental destes últimos não é desprezível.
O fato é que EUA e China são os dois maiores poluidores do Planeta e os dois países que mais degradam o meio ambiente global. Como utilizam muito mais recursos ambientais do que possuem, precisam buscar no resto do mundo a biocapacidade necessária para sustentar suas populações e estilos de vida. A conjugação de alto consumo e grande população, não necessariamente nesta ordem, é desastrosa para a natureza, a biodiversidade e a continuidade da vida na Terra. Nem o modelo americano e nem o modelo chinês são sustentáveis e precisam ser modificados, pelo bem do Planeta.
Referências:
ALVES, JED. Pegada ecológica, população e desenvolvimento, EcoDebate, RJ, 26/01/2011
ALVES, JED. Pegada Ecológica e Biocapacidade, EcoDebate, RJ, 23/05/2012
ALVES, JED. O relatório Planeta Vivo e as projeções da Pegada Ecológica, EcoDebate, RJ, 01/06/2012
ALVES, JED. População, Pegada Ecológica e Biocapacidade: como evitar o colapso? , EcoDebate, RJ, 04/07/2012
ALVES, JED. Pegada Ecológica: e se eliminarmos os países ricos? , EcoDebate, RJ, 19/07/2013
ALVES, JED. Pegada Ecológica e declínio da biocapacidade, EcoDebate, RJ, 07/08/2013
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, Doutor em demografia e professor titular do mestrado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 07/05/2014
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Ótimo artigo!