Acidente vascular cerebral (AVC) mata 6 milhões de pessoas por ano em todo o planeta e 68 mil no Brasil
AVC, as letras do perigo – O acidente vascular cerebral mata 6 milhões de pessoas por ano em todo o planeta e 68 mil no Brasil. No Distrito Federal, 220 são internadas por mês somente na rede pública. Hoje, na véspera do dia mundial de combate à doença, conheça as formas de preveni-la
Começou com uma súbita dor de cabeça. Depois, veio a tontura seguida de vômito. Alguns minutos mais tarde, Reinaldo Pereira da Silva estava desmaiado. Levado às pressas para o hospital, ficou internado por 26 dias, sendo quatro deles em coma. Ao sentir os sintomas, o aposentado de 71 anos não sabia do que se tratava, mas havia tido um acidente vascular cerebral (AVC). Ele recebeu tratamento e, desde março, recupera-se. Reinaldo engrossa uma assustadora estatística. Só na rede pública de saúde do Distrito Federal, 220 pessoas são internadas por mês com derrame. Mas os números são maiores, uma vez que os dados da rede privada não foram incluídos nessa conta. Não à toa, foi instituído o Dia Mundial de Combate ao AVC, lembrado amanhã em todo o planeta. Matéria de Saulo Araújo, no Correio Braziliense, socializada pelo ClippingMP.
No DF, a média preocupante de sete casos por dia indica a necessidade da implementação de uma política pública voltada para a prevenção da doença. Na opinião da Diretora de Assistências às Urgências e Emergências da Secretaria de Saúde do DF, Marinice Cabral Moraes, as campanhas deveriam focar no problema geral, e não apenas nos fatores de risco. “Tudo em relação ao AVC é muito tímido. Existe uma campanha para o combate à diabetes, outra para a hipertensão, outra voltada para o tabagismo. Não deixam de ser importantes, mas ações direcionadas para o AVC seriam bem-vindas”, comentou.
A especialista ainda considera fundamental que a população saiba reconhecer os sintomas de um derrame. “O AVC não mata na hora, a não ser o hemorrágico. Portanto, saber identificar os sintomas e receber o tratamento a tempo podem fazer a diferença entre salvar ou não uma vida”, afirmou.
Marinice é direta ao responder à pergunta sobre os cuidados para evitar ser vítima de um derrame. “O segredo é simples: não espere para cuidar da doença; cuide da saúde. Controle a pressão arterial, a diabetes, faça acompanhamento regular com o médico e se alimente de forma saudável. São recomendações que parecem óbvias, mas são eficientes para prevenir a doença”, complementou a médica.
O mais clássico indício de derrame é a alteração súbita da sensibilidade, com sensação de formigamento no braço. No entanto, as manifestações da doença podem aparecer pela paralisação parcial de uma das pernas ou de um lado da face. A perda momentânea da visão também pode ser um sinal de algo errado com o organismo. Dor de cabeça súbita é outro indicativo de AVC (leia Os sintomas da doença).
O maior problema da demora em iniciar o tratamento de alguém com derrame é a possibilidade de sequelas. Estima-se que 50% das pessoas com AVC ficam com lesões permanentes. As mais comuns são dificuldades na fala, paralisia de um dos lados do corpo e a perda da capacidade motora.
“Escapei da morte”
O aposentado Reinaldo Pereira da Silva não ficou com sequelas, mas lembra que passou pelo pior momento da vida. “Era 16 de março (último). Eu já deitei com uma dor de cabeça. Por volta das 5h, acordei com uma dor mais forte e muita tontura. Parecia que o lençol estava me jogando no chão. Era uma sensação muito estranha e ruim. Vomitei, caí da cama e não lembro de mais de nada. Eu, literalmente, escapei da morte”, contou.
Para a neurologista da rede pública de saúde e do Hospital Santa Luzia Adriana Ferreira Barros Areal, a maioria das vítimas de AVC negligencia a prevenção. “Quando os fatores de risco modificáveis são negligenciados, as pessoas ficam mais suscetíveis ao AVC. Todo mundo tem acesso a um clínico, sendo possível fazer controle da pressão arterial, da glicose”, disse.
A profissional entende que as campanhas nas empresas são mais eficientes do que outras iniciativas do governo. “Muitas vezes, as pessoas até se sensibilizam com as campanhas na tevê, mas, como elas têm de faltar um dia no trabalho para ir ao médico, vão adiando a consulta. Quando existem programas dentro das empresas, elas não têm mais desculpas. No fim das contas, todos ganham”, afirmou.
Famosos que já tiveram AVC
Sharon Stone
Em 2001, a atriz americana Sharon Stone sofreu um pequeno AVC. Em entrevista para um jornal, ela declarou que teve uma experiência de quase morte e que chegou a ver uma luz branca quando teve o derrame cerebral.
Solange Souto
Em 2008, aos 52 anos, a atriz Solange Couto sofreu uma isquemia cerebral, que provocou a obstrução das artérias. Ela ficou com a fala comprometida por alguns minutos, mas o diagnóstico rápido contribuiu para que ela se recuperasse completamente.
Netinho
No início de 2013, o cantor baiano sofreu dois derrames e teve de ser encaminhado às pressas para o hospital. Ele passou por duas cirurgias a fim de remover coágulos do cérebro.
Emílio Santiago
O consagrado cantor da música popular brasileira não resistiu às complicações decorrentes de um derrame. O cantor se sentiu mal em casa, no Rio de Janeiro, e já chegou ao hospital com um quadro grave. Morreu aos 66 anos, no último 20 de março.
Sylvia Kristel
A atriz holandesa que ficou famosa ao interpretar a protagonista do filme erótico Emanuelle sofreu um AVC no início do ano passado. Ficou alguns dias internada e, ao receber alta, estava com a saúde bastante fragilizada para enfrentar um câncer na garganta. Em outubro, perdeu a batalha contra as duas doenças e morreu, aos 60 anos.
Palavra do especialista
É preciso atenção
“No Brasil, são registrados mais de 200 mil AVCs por ano. Segundo o Datasus, é a principal causa de morte e de sequelas no país. Diante desse cenário, é preciso que todos fiquem mais atentos. As pessoas têm de estar sempre investigando a saúde, analisando o estado das artérias e, se detectar algo de anormal, iniciar o tratamento o quanto antes. Nós (da Academia Brasileira de Neurologia), ao realizarmos campanhas, percebemos que tem aumentado o grau de conhecimento das pessoas, e isso é muito bom. A maioria conhece o clássico sintoma de dormência no braço, e outras tantas já começam a perceber que dores súbitas de cabeça, comprometimento na fala ou da visão também podem ser indício de AVC. Nesses casos, corra para o hospital.”
Rubens Gagliardi, vice-presidente da Academia Brasileira de Neurologia
Os sintomas
- » Diminuição ou perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do corpo
- » Alteração súbita da sensibilidade com sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo
- » Perda súbita de visão num olho ou nos dois olhos
- » Alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular, expressar ou para compreender a linguagem
- » Dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente
- » Instabilidade, vertigem súbita intensa e desequilíbrio associado a náuseas ou vômitos.
EcoDebate, 29/10/2013
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