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Le Monde denuncia ameaças contra a tribo Ianomâmi no Brasil

 

Os Ianomâmis são índios que habitam o Brasil e a Venezuela.

Os Ianomâmis são índios que habitam o Brasil e a Venezuela. Wikipédia

 

As ameaças para a sobrevivência da comunidade Ianomâmi denunciadas pelas Ongs de defesa dos povos indígenas ganharam uma extensa reportagem no vespertino francês Le Monde desta quinta-feira. O enviado especial do jornal à região leste de Roraima constatou as dificuldades da população Ianomâmi em preservar seu território diante do apetite cada vez mais voraz dos garimpeiros e dos lobbies agrícolas interessados nas riquezas de suas reservas.

A visita dos índios Ianomâmi a uma unidade móvel de saúde com médicos voluntários é o ponto de partida para uma leitura crítica que o Le Monde faz sobre a dura realidade vivida pela tribo. Mais de cem deles vêm em busca de tratamento diariamente para todo tipo de doença e uns chegam a viajar até quatro dias a pé para serem atendidos, escreve o jornal.

As salas de operação ambulantes, instaladas nas colinas da cidade de Surucuru pela segunda vez em onze anos, se tornam um laboratório privilegiado para observar os males que atingem os 16 mil Ianomâmis e suas terras onde vivem como na pré historia, escreve o jornal relatando o modo primitivo da tribo.

Em entrevistas ao Le Monde, militantes de Ongs afirmam que a situação dos índios não apenas é preocupante como piorou muito nos últimos anos. Yanomamis ouvidos pelo jornal relataram um cotidiano de sofrimento com a ofensiva dos garimpeiros que estão poluindo os rios, desequilibrando o meio ambiente e provocando conflitos em total impunidade.

Com o aumento do preço do ouro, os garimpeiros voltaram a se interessar pelo território indígena, rico também em outros minerais.

Le Monde lembra que até o começo do século 20 os Ianomâmis pensavam estar protegidos em sua reserva, mas o contato com os brancos e estrangeiros trouxe uma mudança profunda da comunidade que passou a conviver com doenças e até com a presença de religiosos nas periferias do território. O jornal lembrou até a ameaça representada com o projeto da rodovia transamazônica na década de 70.

Uma conjunção de pressão internacional com ações locais e mudanças de governo em Brasília resultou numa interrupção da atividade dos garimpos e em 1992 as autoridades demarcaram a Terra Indígena Ianomâmi com um extensão de mais de 96 mil quilômetros quadrados, uma área maior que Portugal e onde vivem 300 grupos.

Depois de uma experiência de transferência de gestão à Ongs, o governo durante a presidência de Lula, retomou o comando das ações e embora mais verbas tenham aparecido, muitos problemas como corrupção contaminaram o sistema, entre eles o de atendimento de saúde.

Em entrevista ao Le Monde, o porta-voz do grupo diz que os índios se tornaram menos nômades com a invasão dos garimpeiros e defendeu que o ouro, os diamantes e até o urânio permaneçam no solo.

O jornal informa que além do número de garimpeiros em alta, atualmente cerca de 1.300, os Ianomâmis também enfrentam as ambições e pressões cada vez mais fortes dos empresários do agribusiness por suas terras. Le Monde lembra inclusive uma reunião no mês de setembro entre os ministros e deputados da bancada ruralista que lutam para promover mudanças no texto de demarcação de terras indígenas.

Uma advogada que defende a causa Ianomâmi diz ao jornal ter o sentimento de que o atual governo olha para a Amazônia como no tempo da ditadura, ou seja, através do prisma de recursos naturais, do desenvolvimento e crescimento econômico. Daí a conclusão do Le Monde no título de sua reportagem: “Ianomâmi, estado de urgência”.

Matéria da RFI, publicada pelo EcoDebate, 27/09/2013


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