Estados Unidos versus China: cooperação ou conflito à vista? artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O mundo está passando por uma mudança de hegemonia macroeconômica, com o dinamismo das atividades produtivas indo do Ocidente para o Oriente, do Atlântico para o Pacífico e dos Estados Unidos (EUA) para a China. Sempre que acontece este tipo de mudança, potencialmente, há perigo para a paz mundial.
Em 1980, o mundo tinha uma população de 4,45 bilhões de habitantes, a China 983,2 milhões de habitantes (22,1% do total mundial) e os Estados Unidos 230 milhões de habitantes (5,2% do total mundial), segundo a divisão de população da ONU. O Produto Interno Bruto mundial era de 11,3 trilhões de dólares em 1980, sendo de 2,8 trilhões de dólares nos EUA (com renda per capita anual de 12,3 mil dólares) e de 250,1 bilhões de dólares na China (com renda per capita anual de somente 251 dólares), segundo dados do FMI (em poder de paridade de compra – ppp). Ou seja, O PIB dos EUA representava 24,7% da economia mundial e o PIB da China representava apenas 2,2% da economia mundial. A renda per capita americana era cerca de 50 vezes maior do que a renda per capita dos chineses em 1980.
As projeções para 2017 indicam um quadro bem diferente. A população mundial deve chegar a 7,44 bilhões de habitantes, sendo 1,38 bilhão na China (18,5% do total mundial) e 329 milhões nos EUA (4,4% do total mundial). A perda relativa de população tem sido mais rápida na China entre 1980 e 2017. O contrário acontece na economia, pois o PIB mundial em 2017 deve ser de 112 trilhões de dólares, sendo de 20,4 trilhões na China (18,2% da economia mundial) e de 20 trilhões nos EUA (17,9% da economia mundial). A renda per capita dos americanos em 2017 deve ficar em 61,1 mil dólares e a dos chineses em 14,7 mil dólares, uma diferença de apenas 4,2 vezes.
Entre 1980 e 2017 o PIB mundial deve crescer cerca de 10 vezes, mas o PIB chines apresentará um crescimento de 83 vezes e o PIB dos EUA 7,2 vezes. A renda per capita chinesa que era 50 vezes menor do que a americana em 1980 e deve reduzir a diferença para 4,2 vezes. O PIB da China será maior do que o PIB dos EUA em 2017 marcando, provavelmente, o começo de uma nova hegemonia nacional na comunidade global. Ou seja, a China diminuiu mais rapidamente o tamanho relativo da sua população e aumentou o tamanho relativo da sua economia no panorama internacional. Os Estados Unidos seguiram caminho inverso.
Mas a despeito dos conflitos localizados, as duas economias estão muito interligadas. O fim das exportações chinesas para os EUA poderia ser um desastre para a China, mas o fim da compra chinesa de títulos americanos poderia ser um desastre para os EUA. Um país depende do outro. Uma guerra entre as duas potências seria horrível para ambos os países e para o resto do mundo.
A mudança de hegemonia no mundo já trouxe conflitos internacionais no passado. A Inglaterra superou a França na virada do século XVIII para o século XIX, porém só consolidou sua hegemonia após sair vencedora do período das guerras napoleônicas. A Alemanha tentou superar o Reino Unido na liderança global, sem sucesso, e a disputa gerou duas grandes guerras mundiais. Os Estados Unidos só consolidaram sua liderança mundial depois de jogar papel decisivo na Segunda Guerra Mundial.
O mundo caminha para uma nova mudança na liderança econômica mundial ainda na corrente década do século XXI, que não é apenas nacional, mas regional. A China é líder na produção de alimentos, de aço, de construções civis, de celulares, computadores, etc. A China é considerada a “fábrica do mundo” e tem avançado na ciência e tecnologia, inclusive deve lançar uma nave tripulada para a lua nos próximos dez anos. Também tem feitos investimentos diretos e aumentado seus empréstimos financeiros para todo o mundo, inclusive se tornando a força externa predominante na América Latina. A China também já é líder na emissão de gases de efeito estufa (GEE) e na poluição ambiental.
Resta saber, como será a transição de hegemonia entre Estados Unidos e China? Como o mundo vai enfrentar os problemas ambientais gerados por estes dois gigantes da depleção da natureza?
Outros artigos de referência:
ALVES, JED. Países ricos perdem a maioria no PIB mundial em 2013, Ecodebate, Rio de Janeiro, 09/01/2013
ALVES, JED. Fim do crescimento demo-econômico do G-20? Ecodebate, Rio de Janeiro, 16/01/2013
ALVES, JED. China ultrapassa os Estados Unidos no comércio mundial. Ecodebate, Rio de Janeiro, 25/02/2013
LILY KUO & RITCHIE KING. Many Countries Think China’s Economy Is The World’s Most Powerful. Jul 19 2013
The Economist. China and the environment, The East is grey. Aug 10th 2013
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 23/08/2013
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José Eustáquio, o gráfico que você colocou no início do artigo (extremamente interessante e bem feito, por sinal) mostra um ponto bastante curioso:
Apesar do investimento em saúde na China ser minúsculo perto do investimento em saúde dos EUA, (e, fora do gráfico, de todos os problemas drásticos de poluição do ar da China que são bem conhecidos e se esperaria que cobrassem seu preço), a expectativa de vida na China é quase igual à dos EUA (tudo bem, três anos de diferença, mas ainda assim próximas).
Alguma idéia do porque disso? Hábitos alimentares mais saudáveis dos chineses em relação ao junk food americano? Menos sedentarismo? A medicina chinesa funciona para os chineses? Extrema desigualdade de condições + genética?