Junho 2013. O impacto das manifestações e o despreparo da vanguarda institucional
Brasília, 17/06/2013 – Manifestantes ocupam teto do Congresso Nacional em protesto contra gastos na Copa, corrupção e por melhorias no transporte público, na saúde e na educação. Foto ABr
Quando as manifestações nas ruas já ganhavam proporções inimagináveis, veio da boca do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a expressão mais significativa do estado em que políticos, partidos, sindicatos e movimentos sociais de vanguarda se encontravam. Segundo Carvalho, o país acompanhava tudo o que estava ocorrendo um pouco “atônito”. “Nós temos que entender isso, se não seremos atropelados pela história”, disse.
As redes sociais foram fundamentais para que todas essas manifestações chegassem até o ponto de se transformarem num fenômeno mundialmente conhecido e observado. O depoimento do fotógrafo Douglas Agostinho Teodoro, de 34 anos, é um bom exemplo do que significaram as redes sociais para a ampliação das manifestações: “Acho que eles (os políticos) ainda não entenderam o que está acontecendo”. Acrescentando: “Eles são de uma geração analógica, e nossa revolução é digital. Eles não entenderam que a gente não precisa mais esperar quatro anos para dar nossa opinião nas urnas. A gente dá nossa opinião a hora que quiser, na internet. O Brasil não funciona, mas o Facebook funciona”.
O economista Carlos Lessa considera que “o aumento das tarifas de transporte coletivo urbano foi a gota d’água que produziu uma metamorfose espetacular. Uma novíssima geração de brasileiros foi para as ruas protestar e se situar como sujeito que faz história. O paradigma das antigas mobilizações foi estruturalmente modificado com a rapidez do uso das redes sociais”.
Esse novo paradigma das mobilizações parece ter gerado insegurança e perturbação para as centrais sindicais, que tiveram que se justificar ressaltando que “a pautas ‘das ruas’ é basicamente a mesma do movimento sindical, mas precisa ser ‘organizada’ para que dê resultados”. “Nunca deixamos de pleitear concomitantemente recursos para educação, saúde e questões sociais”, disse Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Já Paulo Pereira da Silva (Paulinho), presidente da Força Sindical, enfatizou: “Nós estamos na rua há muito tempo, só que as nossas manifestações não têm a mesma cobertura”. Será mesmo?
O jornalista Ricardo Kotscho considera que as autoridades de todos os níveis “ficaram tanto tempo ilhadas em seus gabinetes, afastadas da interlocução com o movimento social e o empresariado, que agora não sabem nem por onde começar a conversa e que medidas tomar primeiro”. Também salientou que “os governos demoraram demais para perceber a mudança dos ventos e do humor das populações urbanas, sufocadas pela deterioração dos serviços públicos, que transformaram a vida nas cidades numa permanente gincana pela sobrevivência”. Kotscho citou uma das intervenções do senador petista Lindbergh Farias, do Rio de Janeiro, que reconheceu que partido político “virou coisa de eleição (…), deixou de ser instrumento de mobilização das ruas (…) Houve um afastamento principalmente desse contato com a juventude. (…). Um deslocamento de todos os governos de uma realidade e da vida das pessoas”.
Não por acaso, os partidos políticos, com seus exíguos militantes, padeceram diante da fúria de multidões apartidárias, indispostas, saturadas e desacreditas das bandeiras partidárias. A espontaneidade, horizontalidade e anarquia das massas preocupam as lideranças partidárias. Renato Simões, secretário nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT, chegou a mencionar a necessidade de separar o joio do trigo, ressaltando a importância da participação e disputa dos rumos do movimento. Diante da atual fragilidade do elo entre partidos e sociedade, seria esta a saída correta?
O fato do movimento não ser galvanizado pelas organizações e instituições mais ‘tradicionais’, não pode ser pretexto para deslegitimá-lo, nem desmerecê-lo. A militante do Movimento Passe Livre (MPL), Mayara Vivian, precisou esclarecer, ao longo do desdobramento das manifestações, que o movimento é apartidário, mas isto não significa que seja contra os partidos. O movimento é contra qualquer tipo de pauta conservadora representada por alguns manifestantes presentes nos atos. “O MPL é anticapitalista e contra qualquer forma de opressão”, disse.
Além disso, Mayrara também rebateu as críticas quanto ao uso da violência. Disse que os atos isolados de violência não os representam, sendo que a violência policial só instiga o apoio da sociedade ao movimento. “Qual violência é pior? Os jovens assassinados na periferia de São Paulo que ninguém está nem aí? Ou uma pessoa que bota fogo em um saco de lixo indignado por ter levado pancada da polícia?”, questionou Mayara.
A análise da Conjuntura da Semana é uma (re) leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, parceiro estratégico do IHU, com sede em Curitiba-PR, e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, parceiro do IHU na elaboração das Notícias do Dia.
(Ecodebate, 05/07/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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