Agricultura familiar é a mais afetada pelas mudanças do clima, aponta Embrapa
Os agricultores familiares são os produtores agrícolas mais intensamente afetados pelas mudanças do clima, como a alteração do ciclo das chuvas e o aumento das temperaturas causado pelo efeito estufa, informou o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Eduardo Assad, um dos palestrantes do seminário Caminhos para uma Agricultura Familiar sob Bases Ecológicas: Produzindo com Baixa Emissão de Carbono, na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
O evento vai discutir as formas de produção agrícola familiar de forma sustentável nos diversos biomas brasileiros.
Sobre os efeitos do clima na produção agrícola, o pesquisador da Embrapa, Eduardo Assad, explicou que a chuva é um dos fatores mais importantes. No caso do Brasil, a quantidade total de chuvas não tem tido alterações, mas a intensidade das precipitações, sim. Isso resulta no aumento da erosão, na perda de fertilizantes e em inundações de áreas produtivas – como em áreas ribeirinhas, ocupadas, principalmente, por pequenos produtores.
Assad também explicou que, em relação ao aumento das temperaturas, deverá haver uma mudança na geografia das produções agrícolas no Brasil, com o deslocamento de algumas plantações para o sul, onde o clima é mais ameno. No caso dos agricultores familiares, esse deslocamento ocorre em menor escala, pois a maioria das famílias está fixada em local determinado. Para elas, portanto, o prejuízo é mais intenso – também por ser, em muitos casos, a única fonte de subsistência.
Os exemplos de prejuízos são as produções de laranja e do café. Picos de temperatura, tanto para o quente quanto para o frio, alteram a floração da lavoura – o que faz com que as frutas e os grãos percam qualidade.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, em 2010, só o estado de São Paulo perdeu 250 mil hectares de café por causa das alterações de temperaturas. Atualmente, muitas plantações no estado foram substituídas por seringueiras, o que fez com que São Paulo tenha ultrapassado o Acre, como o maior produtor de borracha no país.
Para tentar minimizar os impactos do clima sobre a produção agrícola familiar, Assad citou o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que propõe ações que minimizem as emissões de gases causadores do efeito estufa. Essas medidas têm o objetivo de evitar e, sobretudo, não intensificar os problemas já existentes, decorrentes das mudanças climáticas. O programa tem vigência de 2010 a 2020 e oferece linhas de crédito.
Para o pesquisador, o programa parte da adoção de sistemas agrícolas (aplicação de técnicas e tecnologias), que podem ser conduzidos tanto por agricultores empresariais quanto por familiares – variando a escala das iniciativas. Segundo ele, no caso da agricultura familiar, é importante a participação de atores estratégicos, no sentido de conscientizar as famílias para a adoção desses sistemas. Entre esses atores estão cooperativas (só de grão, carnes e leite são mais de 900 no Brasil), produtores de sementes (mais de 700 entrepostos), postos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Aters) e universidades com cursos de ciências agrárias (atualmente, há mais de 400, considerando zootecnia e medicina veterinária).
Reportagem de Carolina Sarres, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 14/06/2013
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Confesso que o parágrafo abaixo chama a atenção:
“De acordo com o pesquisador da Embrapa, em 2010, só o estado de São Paulo perdeu 250 mil hectares de café por causa das alterações de temperaturas. Atualmente, muitas plantações no estado foram substituídas por seringueiras, o que fez com que São Paulo tenha ultrapassado o Acre, como o maior produtor de borracha no país.”
Em apenas 2 frases o pesquisador conseguiu dizer 3 inverdades e cometer uma falácia.
Vamos por partes:
1) De acordo com o pesquisador da Embrapa, em 2010, só o estado de São Paulo perdeu 250 mil hectares de café (inverdade)
2) por causa das alterações de temperaturas (inverdade)
3) Atualmente, muitas plantações no estado foram substituídas por seringueiras, o que fez com que São Paulo tenha ultrapassado o Acre, como o maior produtor de borracha no país. (inverdade e falácia non-sequitur)
Vamos às evidências:
1) Conforme trabalho publicado pelo IEA no VI Simpósio Brasileiro de Cafés do Brasil, entitulado ESTRUTURA PRODUTIVA DA CAFEICULTURA PAULISTA, de autoria de pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola de SP (IEA) e disponível aqui (http://www.sbicafe.ufv.br/bitstream/handle/10820/3524/119.pdf?sequence=2), em 2007/2008 a área total plantada com café no estado de SP era, em número redondos, 211 mil hectares. Ora, se só em 2010 SP perdeu 250 mil ha, como afirma o pesquisador, então temos cerca de 39 mil hectares negativos com aquela lavoura.
De fato, no trabalho acima fica comprovada uma diminuição da área da cultura entre 1995/1996 e 2007/2008 (cerca de 8,7 mil ha). Entretanto, a produtividade do café aumentou em razão de novas técnicas de cultivo, em especial o adensamento. A diminuição da área é apontada pela concorrência com a cana-de-açucar e pela silvicultura. Pode-se ainda especular que, já que as propriedades diminuiram em 15,20% mas a área em apenas 4,2%, que a especulação imobiliária esteja transformando as pequenas plantações em volta das cidades que se expandiram em condomínios habitacionais.
Para a safra de 2012/2013 a Secretaria de Agricultura do estado de SP diz o seguinte:
“A estimativa de área ocupada com lavouras de café somou 186 mil hectares, dos quais 168 mil hectares em produção e 17,9 mil hectares em formação. Enquanto as lavouras em produção exibem densidade de cultivo de 2.890 plantas por hectare, as em formação já alcançam 3.400 pl/ha, indicando que os cafeicultores incorporaram a tecnologia de adensamento das lavouras visando o incremento da produtividade média,”
Fonte:
Café: Safra 2013/14 deve superar 4,2 milhões de saca (http://www.agricultura.sp.gov.br/noticias/2940-cafe-safra-201314-deve-superar-42-milhoes-de-saca)
2) Creio não haver nenhuma evidência, ou trabalho publicado, que comprove que a diminuição da área de café diminuiu por causa das temperaturas. Isto está mais para especulação ou desejo do pesquisador. O que pode existir são exercícios de modelos duvidosos que projetam o desaparecimento desta cultura em SP em um futuro, caso as predições de temperatura do IPCC se confirmem.
3) A plantação de seringueiras no estado de SP é algo que remonta da década de 1910. Houve disposição política e técnica para o seu cultivo incluindo a adaptação de variedades. Se investiu muito esforço para isto. SP é apto a plantar seringueiras muitas razões, entre as quais, aa questão sanitária (http://www.infobibos.com/artigos/borracha/). Desde 1993 São Paulo é lider em produção de borracha no Brasil (http://www.fundagres.org.br/eventos/congresso_seringueira/downloads/apresentacao_palestras/Heiko/palestra.pdf). Do jeito que o ilustre pesquisador coloca, dá a entender que a floresta tropical avançou para o estado de São Paulo em razão do aquecimento global. Não existe nenhuma evidência que as seringueiras estejam substituindo os cafezais (ver item 1, acima).
4) No acre a extração da seringa é baseada no extrativismo. Em São Paulo, a seringueira e cultivada. São Paulo ultrapassou o Acre na produção de Borracha por ter investido recursos para isto. Foi uma ação voluntária do estado de SP.
É preocupante ver tais informações circulando na mídia, pois elas podem desestimular os produtores estabelecidos, fazendo-os converter suas lavouras para outras culturas, bem como desestimular novos produtores e empreendimentos rurais com o café. A EMBRAPA não deveria permitir tais especulações infundadas com uma cultura tão valorizada no mercado interno e externo. Além do que, informações infundadas ou especulativas como estas, sem o amparo de estudos sérios (excluindo cenários) podem manchar a boa reputação que a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA) desfruta junto à sociedade brasileira e até de outros paises.
Para terminar, a chamada do texto (Agricultura familiar é a mais afetada pelas mudanças do clima) também carece de comprovação técnico-científica. Isto é alarmismo terrorista. O alarmismo em si já é questionável. Mas amparar o alarmismo em inverdades é inadmissível e imperdoável, considerando a fonte.