Calor liberado por oceanos pode acirrar mudanças no clima, diz estudo
Pesquisadores dizem que aquecimento global foi reduzido temporariamente pelos mares. Mas liberação do calor absorvido pode acirrar mudanças no clima.
Os efeitos da mudança climática podem se intensificar rapidamente se grandes quantidades de calor absorvidas pelos oceanos forem liberadas de volta para a atmosfera, afirmaram cientistas, depois de apresentarem uma nova pesquisa, apontando que os oceanos têm ajudado a mitigar os efeitos do aquecimento global desde o ano 2000.
Gases de efeito estufa vêm sendo emitidos para a atmosfera em ritmo cada vez mais rápido. E os dez anos mais quentes desde que os registros de temperatura começaram a ser realizados ocorreram todos de 1998 em diante. Mas a taxa na qual a superfície da Terra está se aquecendo diminuiu um pouco desde o ano 2000, levando os cientistas a procurarem uma explicação para o fenômeno.
Especialistas de França e Espanha afirmaram no domingo (07/04) que os oceanos absorveram mais calor da atmosfera em torno do ano 2000. Isso ajudaria explicar a desaceleração do aquecimento global, ao mesmo tempo que sugere que a pausa pode ser apenas temporária.
“A maior parte desse excesso de energia foi absorvida na camada submarina que vai até os 700 metros de profundidade na fase inicial desta pausa de aquecimento, 65% tendo sido absorvidos nas regiões tropicais dos oceanos Pacífico e Atlântico”, escreveram os pesquisadores na revista Nature Climate Change.
A chefe da equipe de pesquisa, Virginie Guemas, do Instituto Catalão de Ciências de Clima, disse que o calor absorvido pode voltar à atmosfera na próxima década, acelerando novamente o aquecimento do planeta. “Se depender apenas das variações naturais, a taxa de aquecimento logo poderá aumentar”, alertou.
Caroline Katsman, do Instituto Real de Meteorologia da Holanda, especialista que não esteve envolvida no estudo, afirmou que o calor absorvido pelo oceano vai voltar para a atmosfera como parte dos ciclos dos oceanos, como os fenômenos de aquecimento e de resfriamento do Pacífico, respectivamente chamados de “El Niño” e “La Niña”.
Implicações econômicas
Ela ressalta que o estudo confirmou pesquisas anteriores realizadas por seu
instituto, mas que é improvável que seja a única explicação para a pausa do aquecimento, já que só se aplica ao período inicial da desaceleração, em torno do ano 2000.
O ritmo da mudança climática tem grandes implicações econômicas, já que quase 200 Estados concordaram em 2010 em limitar o aquecendo global para menos de 2 graus celsius acima dos níveis pré-industriais, principalmente através de medidas para limitar a queima de combustíveis fósseis. As temperaturas já subiram 0,8 grau. Dois graus já são amplamente reconhecidos como um limite que poderá causar mudanças perigosas,como mais secas, deslizamentos de terra, inundações e elevação dos mares.
Alguns governos e os céticos do clima argumentam que a desaceleração da tendência de aquecimento é uma prova de que há menos urgência em agir. Os governos concordaram em cooperar para fechar até o final de 2015 um acordo global para combater as mudanças climáticas.
O ano passado foi o nono mais quente desde que os registros começaram, em 1850, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial da ONU, e 2010 foi o mais quente, à frente de 1998. Fora 1998, os dez anos mais quentes ocorreram todos a partir de 2000.
O estudo, baseado em observações e modelos de computador, demonstrou que os eventos climáticos naturais do fenômeno “La Niña” no Pacífico por volta do ano 2000 levaram águas frias à superfície que absorveram mais o calor do ar. Num outro conjunto de variações naturais, o Atlântico também absorveu mais calor.
Turbulências
Outra pesquisa, realizada por cientistas britânicos, indica que as alterações do clima poderão provocar um aumento de turbulências em viagens transatlânticas. Segundo escrevem Paul Williams (University of Reading) e Manoj Joshi (University of East Anglia), na edição online da revista Nature Climate Change, a partir de meados deste século pode aumentar a ocorrência das chamadas “turbulências de ar claro”, ou seja, aquelas que ocorrem em um céu sem nuvens. Ao contrário das ocorridas perto de zonas atingidas por tempestades, tais turbulências são muito difíceis de serem previstas. Elas são causadas por correntes opostas de vento, através das quais até aviões de grande porte podem ser puxados abruptamente para cima ou para baixo.
Em sua análise, os pesquisadores se limitaram à zona de voo sobre a metade norte do Atlântico Norte nos meses de inverno de dezembro a fevereiro. Usando simulações de modelos climáticos, eles calcularam que a ocorrência de turbulências na região poderá aumentar de 40% a 170% nos próximos 40 anos. Além de poderem se tornar de 10% a 40% mais fortes. Como consequência, empresas aéreas podem ser obrigadas a planejar novas rotas para seus voos, aumentando o consumo de combustíveis e a duração das viagens.
MD/rtr/dpa
Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 11/04/2013
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