Técnica pode melhorar a sustentabilidade de sistema tradicional de agricultura familiar na Amazônia, por Valdir Lamim-Guedes
[EcoDebate] O desmatamento na região amazônica para ampliação das áreas destinadas ao plantio de soja e criação de gado bovino exige iniciativas como a criação de unidades de conservação, um dos principais alvos da gestão de Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente (2003-2008) durante o governo Lula, tornando-se uma força contrária ao processo degradatório. Outra ação importante é a criação/manutenção de atividades agrícolas de subsistência ou geração de renda que estimulem a manutenção da floresta em pé, por exemplo, ao fazer a extração de produtos não madeireiros, como látex, sementes, frutos e essências.
Além de reduzir o desmatamento, são necessárias ações de recuperação das áreas degradadas. Neste sentido, são importantes técnicas que auxiliem na regeneração de florestas secundárias. Tais áreas são utilizadas pelo sistema tradicional de roças de queima e abandono das áreas cultivadas. Isto é, após algumas colheitas, as roças são abandonadas para que ocorra o restabelecimento da fertilidade do solo, depois de alguns anos, o chamado pousio, há o desmatamento da área para novo plantio, geralmente com a utilização de fogo.
O sistema de pousio é utilizado na região amazônica deste antes da colonização portuguesa, inclusive com a formação de solos muito ricos em matéria orgânica, a “terra preta de índio”. Contudo, o encurtamento do tempo de pousio, pela redução dos terrenos familiares ou aumento populacional, tem levado a um sistema de agricultura familiar que não se mostra mais sustentável. Assim, são relevantes as iniciativas que reduzam o tempo de pousio, sem a perda gradativa da fertilidade do solo.
O pesquisador do Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental da EMBRAPA, Silvio Brienza Junior, apresenta uma técnica que reduz o tempo de pousio e aumenta a capacidade de produção da agricultura tradicional no artigo Enriquecimento de florestas secundárias como tecnologia de produção sustentável para a agricultura familiar, publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi de Ciências Naturais, em setembro-dezembro de 2012.
Segundo Brienza Júnior, o plantio de espécies de leguminosas junto das culturas agrícolas, beneficiando estas pelos tratos culturais como as capinas, permite que forme-se uma floresta secundária após o abandono da área com um volume de biomassa semelhante ao de uma capoeira abandonada há mais tempo (veja figura abaixo). Esta técnica de enriquecimento permite reduzir o tempo de descanso da terra, em comparação ao pousio tradicional.
Figura : Biomassa aérea (t.ha-1) de vegetação secundária enriquecida com o plantio das árvores leguminosas A. mangium (acácia), A. angustissima (ligeirinha), I. edulis (ingá), S. paniculatum (taxi-branco) e controle, comparada com dados de biomassa de vegetação secundária, analisada por diferentes autores (y = 0,54 + 6,52 x; r2 = 0,91; p = 0,008 e n = 10; baseado em Denich, 1989; Diekmann, 1997; Kato, 1998a, 1998b; Wiesenmüller, 1999 e citado por Brienza Júnior, 1999). Fonte: Brienza Júnior (2012).
Ainda segundo o autor do artigo, o enriquecimento da vegetação de capoeira por meio do plantio de árvores leguminosas, quando associado ao preparo de área sem queima, permite a realização de dois ciclos agrícolas sucessivos, desde que o plantio das culturas agrícolas seja acompanhado de adubação adequada, principalmente rica em fosfato, no primeiro ano. Eventualmente, parte da biomassa acumulada pelas árvores pode ser colhida e destinada para outras finalidades. Por exemplo, madeira para produção de lenha, carvão, estacas para diversas finalidades, como esteios para construções rurais ou para sustentação dos pés de pimenta-do-reino.
Referência do artigo citado neste texto: BRIENZA JÚNIOR, S., 2012. Enriquecimento de florestas secundárias como tecnologia de produção sustentável para a agricultura familiar. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais 7(3): 331-337. Disponível em http://www.museu-goeldi.br/editora/bn/artigos/cnv7n3_2012/enriquencimento(junior).pdf
Valdir Lamim-Guedes é biólogo e Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Ouro Preto. Blog Na Raiz. E-mail dirguedes@yahoo.com.br
EcoDebate, 18/02/2013
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Por favor, peço a quem escreveu esse texto que revise o parágrafo inicial.
Da forma como está escrito, parece que o desmatamento é quem está exigindo novas unidades de conservação. E se desmatamento fosse gente, acho que ele iria pedir o contrário.