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Movimento Slow Food vai além do incentivo às refeições sem pressa

 

O projeto Horta Urbana, na Avenida Paulista em São Paulo
O projeto Horta Urbana, na Avenida Paulista em São Paulo, feita por um mutirão, é um exemplo do movimento. Foto no blogue Simplesmente, da jornalista Claudia Visoni.

 

Comer sem pressa, saboreando os alimentos com calma é algo que parece bem distante da correria atual, onde o comum são as refeições rápidas em restaurantes por quilo ou lanchonetes famosas no horário de almoço das empresas. Porém, este é um dos principais pilares do Slow Food (“comer devagar” em tradução livre), um movimento que teve suas bases lançadas durante um protesto contra a abertura de uma loja de fast-food na cidade italiana de Turim, em 1986. Matéria de Ana Sachs, do UOL.

A manifestação não impediu que a rede de comida industrializada continuasse a abrir franquias, mas o movimento ganhou vários simpatizantes e, em 1989, transformou-se em uma associação internacional sem fins lucrativos, que atualmente tem mais de 100 mil membros espalhados em 150 países. No Brasil, o Slow Food desembarcou no começo dos anos 2000.

“Ele é uma resposta aos efeitos padronizantes do fast-food, uma comida rápida que custa caro à saúde, ao meio ambiente e à economia local, e ao frenético ritmo atual, que está intimamente ligado à qualidade de vida das pessoas e do planeta”, conta Vera Lucia de Almeida Silva, integrante do movimento desde 2007 e membro da Gastromotiva, associação que promove a gastronomia como meio de inclusão social e que fundou um dos grupos de Slow Food em São Paulo.

Chamados de Convivium, esses “braços” locais do movimento promovem palestras, fazem campanhas, organizam degustações, articulam o contato dos integrantes com os produtores regionais, além de estimular a educação alimentar por meio de projetos como as Hortas Escolares, que busca oferecer às crianças a oportunidade prática de aprender sobre os alimentos e ver como crescem. Há ainda a Universidade de Ciências Gastronômicas, focada em pesquisas científicas e acadêmicas.

Todas essas atividades visam a chamada “educação do gosto”, que estimula os integrantes a saborear melhor os alimentos e ter interesse em saber sua origem e sobre como chegam ao prato.

Muito além da calma

Mas o movimento não prega somente o fim do fast-food. “O princípio básico é o direito ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade especial, produzidos de forma que respeitem tanto o meio ambiente quanto as pessoas responsáveis pela produção”, explica Silva.

Para o Slow Food, a forma como as pessoas se alimentam tem profunda relação com o meio ambiente e, por isso, esse deve ser um ato responsável e consciente. A alimentação não pode prejudicar a saúde, a natureza e nem os animais e deve valorizar as pessoas ligadas a ela em todo o ciclo. “Os pilares básicos são que o alimento deve ser bom, ou seja, ter qualidade de sabor e aparência e ser elaborado com carinho e preocupação com o próximo; deve ser justo, com produtores bem remunerados; e deve ser limpo, ou seja, livre de agrotóxicos”, explica o chef Diego Silva dos Santos, adepto desde 2009.

Ao buscar se informar sobre os alimentos, um indivíduo se torna um “coprodutor” dos mesmos, e não somente um simples consumidor. Isso porque, ao interagir com essa cadeia produtiva, ele pode promover mudanças na mesma, se tornando uma espécie de parceiro.

Por isso os alimentos orgânicos, a agricultura familiar e os pequenos produtores regionais são bastante valorizados. “Devemos buscar itens locais e de época, de preferência orgânicos, e adquirir produtos de fornecedores que respeitam tanto o meio ambiente quanto o produtor”, diz Silva.

Conhecer os alimentos, o que é cultivado na região onde se mora e em que época são produzidos permite sair do lugar-comum, experimentar novidades e diversificar a dieta – objetivos perseguidos pelos integrantes do Slow Food.

Explorar ingredientes

“Nós criamos uma ideia muito padronizada de alimentação. Basicamente come-se a mesma coisa a semana toda. Um adepto do Slow Food deve descobrir novos sabores e explorar ingredientes”, conta o chef. “O objetivo é consumir alimentos mais frescos e diversificar a dieta comendo ingredientes sazonais. Por exemplo, se não é época de tomate, posso colocar cenoura na salada”, explica.

Os adeptos tentam, ainda, sempre descobrir novas formas de aproveitamento integral dos alimentos, pois acreditam que itens que ainda podem ser consumidos costumam ir para o lixo. “É preciso utilizar o ingrediente ao máximo. Por exemplo, ao invés do tradicional vinagrete com cebola e tomate, podemos fazer uma que use talos de salsinha, cenoura e beterraba, aproveitando também as folhas desta última”, conta Santos.

Todos esses conceitos, além de ajudarem a preservar o planeta e melhorar a qualidade da alimentação – e, consequentemente, a saúde das pessoas – também ajudam a promover um dia a dia mais leve, na avaliação de Silva, ao se arranjar tempo para saborear verdadeiramente os alimentos.

Tanto que, entre os objetivos do Slow Food, está o resgate das receitas caseiras, que embutem toda uma memória gastronômica e dão a sensação de conforto. “Buscamos resgatar valores como o de ter uma boa comida à mesa com a família, apreciar os alimentos e não simplesmente engoli-los com pressa sem se preocupar com que o que se está comendo”, fala Santos.

Patrimônio gastronômico

Outro objetivo do Slow Food é a luta pela preservação dos alimentos considerados em risco de extinção por meio de iniciativas como a Arca do Gosto, espécie de catálogo mundial dos sabores de produtos ameaçados, mas que ainda têm potencial produtivo e comercial. Desde o início da iniciativa, em 1996, mais de mil produtos de dezenas de países foram integrados à Arca.

Após essa catalogação, outro projeto, chamado Fortalezas, busca promover o produto em extinção, divulgando suas qualidades e ajudando produtores a encontrar quem os compre.

No Brasil, existem nove Fortalezas, que tentam proteger alimentos como a castanha de baru, o aratu, o arroz vermelho, o guaraná nativo Sateré-Mawé, o néctar de abelhas nativas, o palmito Juçara, o pinhão da serra catarinense e o umbu.

Para saber mais

Para ver os contatos dos Convivium e conhecer melhor o movimento, acesse o site Slow Food Brasil. Para participar dos encontros e eventos é preciso ser cadastrado e pagar uma taxa anual que varia entre 5 e 110 euros (de 14 e 300 reais), dependendo do tipo de adesão.

Outro objetivo do Slow Food é a luta pela preservação dos alimentos considerados em risco de extinção; em nosso país, a castanha de baru é um deles

EcoDebate, 30/01/2013


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