O acesso ao alimento saudável, artigo de Priscila Salvino
[EcoDebate] Semana passada, em Londres aconteceu a “Urban Food Week”, projeto que pretende popularizar o consumo da produção local de alimentos frescos. Durante a semana, restaurantes, cafés, bares e pubs de toda a cidade apresentaram pratos e bebidas feitas com alimentos (frutas, verduras, ervas, mel, etc.) produzidos em fazendas urbanas. Essa idéia de fazenda urbana nos parece um pouco estranha. Em poucas palavras, os produtores locais são aqueles que possuem hortas comunitárias na zona metropolitana de Londres (os chamados allotments), e que, além da subsistência, possuem capacidade de comercializar seus produtos orgânicos em feiras de rua e mercadinhos.
Contudo, além do histórico, eu pretendo ressaltar o problema da questão alimentar na cidade de Londres. Esse problema, a meu ver, engloba três diferentes aspectos: a produção, a qualidade e o acesso ao alimento saudável. Há dez anos foi criada em Londres, a Sustain, uma organização social que advoga por políticas agrícolas sustentáveis e prática alimentares que melhoram a saúde e o bem-estar de pessoas e do meio ambiente. Seu o objetivo era trazer para o debate a questão alimentar e questionar, principalmente, a qualidade das refeições servidas nas escolas, nos hospitais e nas cantinas dos serviços públicos. Afinal, o prato principal do inglês é o “fish and chips”, nada saudável. E durante esses anos, houve uma proliferação da cultura americana de “fast food” e muitos “take aways” apareceram na cidade, facilitando o acesso a comida de baixa qualidade. Você pode comprar uma porção de frango frito e batatas fritas por uma libra. Outro ponto da Sustain era promover a produção local, que, inclusive contribui para geração de empregos. Por que compramos maçã da Nova Zelândia quando temos maçã aqui?
A qualidade dos produtos frescos e orgânicos já é conhecida. Nos resta discutir a questão do acesso a esses produtos. Durante esses dez anos, especialmente nos últimos três, a qualidade das refeições servidas nas escolas melhorou, inclusive com a adesão a campanha de chefes famosos que levaram o debate para os programas de TV. Hoje em Londres, muitas lojas e feiras vendem produtos frescos ou orgânicos. Porém, esses produtos são mais caros, tornando-se assim um privilégio da classe média. O custo de vegetais e frutas subiram 120% entre 1985 e 2000, enquanto o preço da sucata como refrigerantes e doces subiu menos de 50%, em média. Comer uma variedade de frutas e vegetais coloridos e frescos, como recomendado, é caro.
A alimentação saudável é muitas vezes uma das primeiras coisas cortadas do orçamento de uma família quando eles estão enfrentando dificuldades financeiras. Além disso, as famílias de baixa renda não podem pagar grande parte dos equipamentos e ingredientes necessários para preparar os alimentos frescos, enquanto os congelados são mais baratos e não precisam ser preparados. Os indivíduos e as famílias que não moram na zona central da cidade, têm dificuldade em saber onde comprar alimentos frescos locais, apesar de muitas redes de supermercados oferecerem produtos orgânicos, contudo mais caros. Outro problema, é a falta de conhecimento e educação de uma pessoa de baixa renda, que muitas vezes não têm a compreensão dos significados e os benefícios de alimentos frescos e orgânicos. As famílias de baixa renda estão acostumadas a comer “fast food”, porque uma grande quantidade de publicidade de “fast food” tem como alvo essas famílias e estes restaurantes estão agrupados em comunidades de baixa renda.
Esses são alguns dos problemas que a Sustain tenta minimizar e por isso valorizo o seu trabalho, que acima de tudo, conseguiu colocar a questão alimentar na mesa dos políticos, como o prefeito de Londres, que hoje aderiu as suas campanhas, especialmente incentivando a produção local. Afinal, o transporte de longa distância encarece o produto, que nem sempre chega aqui em bom estado, sendo desperdiçado. Muitos avanços aconteceram para eliminar esses obstáculos e popularizar o alimento saudável. Mas ainda falta muito! E percebemos que a questão alimentar não é um problema somente de país de baixa renda e sim de todos os países.
O acesso ao alimento e ao ambiente saudáveis é um direito de todos nós. Temos que lutar muito por eles!
Priscila Salvino, advogada, gestora ambiental e ativista, é colaboradora internacional do EcoDebate.
EcoDebate, 19/09/2012
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