A população dos Estados Unidos em 2.100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A população dos Estados Unidos da América (EUA) era de 157,8 milhões de habitantes em 1950 e chegou a 310 milhões em 2010. Dobrou de tamanho em 60 anos. A divisão de população da ONU estima, para o ano de 2050, uma população de 452,4 milhões na hipótese alta, de 403 milhões na hipótese média e de 357 milhões na hipótese baixa. Para o final do século as hipóteses são: 706 milhões de habitantes, na alta, de 478 milhões, na média, e 310 milhões na hipótese baixa.
Ou seja, a população dos EUA pode variar entre 310 milhões e 706 milhões de habitantes em 2100, dependendo fundamentalmente do comportamento das taxas de fecundidade e da migração. A esperança de vida ao nascer era de 68,6 anos em 1950, passou para 78 anos em 2010, deve chegar a 83 anos em 2050 e alcançar 88 anos em 2100.
A taxa de fecundidade total (TFT) estava acima de 3 filhos por mulher desde o fim da Segunda Guerra até 1965, período conhecido como “baby boom”. Entre 1970 e 2010 a TFT oscilou em torno de 2 filhos por mulher (algo próximo ao nível de reposição). O número de nascimentos por ano estava na casa de 4 milhões na década de 1950 e atingiu o ponto máximo de 4,3 milhões em meados da década de 1960. Depois caiu para um mínimo de 3,4 milhões na década de 1970 e voltou a subir até atingir novamente 4,3 milhões de nascimentos em 2007. Mas com a crise econômica, o número de nascimento voltou a cair e foram registrados 3,96 milhões em 2011. A taxa de fecundidade também caiu para 1,93 filhos por mulher em 2011, segundo o CDC (Center for Disease Control).
Ou seja, mesmo com a população dobrando de tamanho, o número de nascimentos tem permanecido em torno de 4 milhões ao ano. Se este número se mantiver e a esperança de vida permanecer em torno de 80 anos, então, a população poderia se estabilizar em torno de 320 milhões de habitantes (4 milhões vezes 80 anos).
Mas a dinâmica populacional vai depender da migração internacional. Aliás, boa parte do crescimento demográfico ocorrido nas últimas décadas aconteceu pela chegada de imigrantes, especialmente da América Latina e Caribe, que além de aumentar o número de habitantes adultos fez aumentar também o número de nascimentos, pois estes migrantes possuem uma fecundidade mais elevada que os residentes nascidos nos EUA.
Os Estados Unidos são o terceiro país do mundo em extensão territorial e tamanho populacional, possuindo uma área de 9,8 milhões de km2 e uma densidade demográfica relativamente baixa, de 31 habitantes por km2. Em tamanho da economia possuem o maior PIB do mundo, mas não a maior renda per capita e nem os melhores indicadores sociais. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) era de 0,84 em 1980 e passou para 0,91 em 2011, um aumento de 9%, enquanto o mundo teve um aumento médio de 22% no mesmo período. Além disto, os EUA possuem a maior dívida externa do mundo, a dívida interna (já está do mesmo tamanho do PIB) e as desigualdade sociais estão aumentando.
Em termos ambientais, os EUA tinham, em 2008, uma Pegada Ecológia de 7,2 hectares globais (gha) per capita e uma Biocapacidade de 3,86 gha per capita. Isto quer dizer que o país tinha um déficit ecológico de 87%. Como exemplo de comparação, o Brasil tinha uma Pegada Ecológica de 2,93 gha e uma Biocapacidade de 9,63 gha. Ao contrário dos EUA, o Brasil tinha um superávit ambiental de 229% em 2008 (sendo o país com a maior área de biocapacidade do mundo). Em termos de Pegada Ecológica per capita os EUA perdem apenas para Qatar, Kwait e Emirados Árabes e em termos de Pegada Ecológica total só perdem para a China.
Exatamente pelo impacto no Planeta como um todo, é muito preocupante o crescimento da população americana. Considerando que as condições atuais se mantenham (ceteris paribus), o aumento da população para 478 milhões em 2100 – conforme projeção média da ONU – levaria o déficit ecológico dos EUA a 192% e caso a população chegue a 706 milhões em 2100 – conforme projeção alta – o déficit ecológico chegaria a 332%. Ou seja, o crescimento da população americana vai significar uma grande pressão sobre os recursos naturais do Planeta, pressão que já existe nas condições atuais.
Porém, a população dos EUA poderia inclusive ficar abaixo da projeção baixa da ONU (se houver menor fecundidade e menor imigração), reduzindo a demanda por recursos naturais e diminuindo a emissão de gases de efeito estufa. Cada habitante dos EUA tem um impacto ambiental equivalente a 10 paquistaneses. Mas somente uma redução da população não resolveria todos os problemas, pois o déficit ecológico é muito grande. Portanto, além de evitar o crescimento populacional, os EUA precisam mudar seu padrão de produção e consumo para reduzir sua Pegada Ecológica, possibilitando que suas atividades antrópicas caibam dentro de suas fronteiras territoriais.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal Ecodebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 31/08/2012
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