O relatório Planeta Vivo e as projeções da Pegada Ecológica, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Um dos componentes centrais do relatório Planeta Vivo, da WWF, é a pegada ecológica, que é uma medida utilizada para avaliar a demanda que o ser humano exerce sobre a biosfera (nas diversas escalas), comparando a quantidade de recursos naturais renováveis que as pessoas estão consumindo em comparação com a capacidade de regeneração da Terra ou a sua biocapacidade, medida em área de terra efetivamente disponível para a produção dos recursos naturais renováveis e a absorção das emissões de CO2. A metodologia considera os impactos humanos nas áreas construídas (built-up land), pesqueiros (fishing), florestas (forest), pastagens (grazing), áreas de cultivo (cropland) e carbono (carbon).
Até meados da década de 1970 a humanidade vivia dentro dos limites renováveis do Planeta. Mas, a partir daí, a pegada ecológica da população mundial foi crescendo continuamente na medida em que crescia o número de habitantes e a renda per capita. Em 1961, a pegada ecológica per capita era de 2,4 hectares globais (gha) e a população mundial era de 3,1 bilhões de habitantes, sendo a biocapacidade per capita de 3,7 gha. Desta forma, a humanidade estava utilizando 63% da capacidade regenerativa da Terra, havendo sustentabilidade ambiental. Em 1975, a pegada ecológica e a biocapacidade per capita, respectivamente, passaram para 2,8 gha e 2,9 gha e a população mundial chegou a 4,1 bilhões de habitantes. A humanidade estava usando 97% da capacidade de regeneração, ainda cabendo dentro de um Planeta. A partir desta data as atividades antrópicas ultrapassaram os limites biológicos da Terra.
Em 2008 (último dado disponível) a pegada ecológica per capita ficou em 2,7 gha, a biocapacidade em 1,8 gha e a população chegou a 6,75 bilhões de habitantes. Portanto a humanidade estava usando 1,5 planetas, ou seja, um planeta e meio em 2008. Nota-se que a pegada ecológica per capita não cresceu nas últimas 3 décadas, mas sim o número de habitantes do globo.
As projeções do relatório Planeta Vivo, da WWF, indicam que a humanidade estará utilizando 2 Planetas em 2030 (com 8,3 bilhões de habitantes) e cerca de 3 Planetas em 2050 (com 9,3 bilhões de habitantes). Os maiores fatores para o crescimento da pegada ecológica serão na emissão de carbono, nas áreas de cultivo e nas áreas de pastagem. Portanto, quase 2 planetas, em 2050, serão necessários apenas para absorver a quantidade de CO2 emitido pelas atividades antrópicas, em todas as suas dimensões.
Uma alternativa para reduzir a pegada ecológica é diminuir o uso de combustíveis fósseis e passar a usar fontes renováveis, como energia eólica, solar, geotérmica, das ondas, etc. Mas não basta alterar apenas a matriz energética, pois é preciso construir prédios sustentáveis, dar prioridade ao transporte coletivo, revolucionar a produção pecuária, com a captura de metano, incentivar a dieta vegetariana, fazer uma agricultura menos petroficada, com menos agrotóxicos e mais orgânica, apoiar a aquacultura, além de caminhar rumo a uma sociedade do conhecimento baseada em bens e serviços imateriais e intangíveis.
O fato é que já existe uma discrepância de 50% entre o padrão de vida da humanidade e a capacidade de regeneração da Terra. O ser humano está consumindo o capital natural (acumulado no solo e no sub-solo) ao mesmo tempo que degrada as fontes de vida e aquece o Planeta. Este caminho é insustentável pois a Terra é apenas um planeta e não três, como será a demanda da população mundial em 2050. A se manter esse rumo, o mundo vai dar com os burros n’água (salgada).
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 01/06/2012
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Os seres humanos consomem, destroem, poluem.
Os problemas existentes no Planeta levarão ao colapso e à extinção da vida, em pouco tempo. Mas podem ser facilmente resolvidos.
Duas medidas devem ser adotadas: 1ª) iniciar, imediatamente, a redução da população humana, através do controle rigoroso de natalidade, e manter essa população estagnada em 10% da atual; 2ª) utilizar os recursos naturais de forma equilibrada, causando o menor desgaste possível, e dando condições para a Natureza se recuperar.
Não é simples?
O problema é que somos conduzidos (dominados) pelo capitalismo, o qual não admite qualquer solução que não conduza ao “desenvolvimento”, à aquisição de lucro, não importando as consequencias sócio-ambientais.
E agora, que fazer? Destruir o capitalismo? Seria o começo da solução, mas, a meu ver, é irrealizável.
Então, vamos ficar assistindo, ouvindo os discursos de JOSÉ GRAZIANO DA SILVA e outro similares, e lamentando, enquanto pudermos lamentar.
Sou Arquiteto e Urbanista.
Uma ressalva é considerar que esta pegada ecológica e seu crescimento é muito mais referente ao consumo dos países ricos do que a totalidade do consumo da humanidade. No livro Desenvolvimento sustentável de Eli da Veiga, o autor aponta esta discrepância entre as pegadas ecológicas sendo que, no período em que foi publicado o livro o Brasil tinha até um “crédito” enquanto os EUA estava em déficit.
Assim, atento para que a questão ambiental seja relativizada pois quem mais faz a campanha para a questão ambiental é quem mais polui, inclusive do ponto de vista do indíce da pegada ecológica.