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Artigo

O ambiente não importa, artigo de Efraim Rodrigues

 

[EcoDebate] Os que imaginam que incorporei um Padre Antonio Vieira e coloquei um titulo chamativo mas oposto ao conteúdo, estão errados. De acordo com um artigo do Professor Bernard Stewart, na revista The Lancet, o ambiente em que uma pessoa vive diz muito pouco sobre suas chances de contrair câncer.

O artigo bem pragmático, ao gosto dos australianos, chama as pessoas ao bom senso. Ao colocar a palavra “cancerígeno” ao lado de qualquer coisa, nosso telencéfalo desliga e aquilo passa a ter um rótulo demoníaco. Não lemos probabilidades, números, nada.

Por exemplo, a OMS afirmou em outubro de 2010, que telefones celulares PODEM causar câncer (veja coluna Câncer no Cérebro), o que causou grande burburinho por um tempo, incluindo pessoas com estilos de vida muito mais perigosos do que um telefone possa vir a ser.

O artigo do professor Stewart é importante por dizer o óbvio: primeiro o que é primordial, e as causas primordiais de câncer são: cigarro, obesidade, ingestão de álcool e exposição deliberada ao sol.

Talvez por causa da seriedade desta doença, sempre preferimos seguir o principio da precaução, ou seja: Se algo PODE ser cancerígeno, eu o afasto de mim. Lembra-se da cena de Erin Brockovich oferecendo a água que os advogados diziam estar limpa para eles próprios beberem ? O principio da precaução sempre será válido, mas ele não pode ser colocado no mesmo nível de causas conhecidas e testadas.

Ontem havia um fumante ao lado de um bebedouro, o que me fez optar entre continuar com sede ou compartilhar o cigarro com ele. Decidi por tentar beber água sem respirar e ao chegar mais perto, notei que a pessoa usava o aparato todo de jogar tênis.

Não há quantidade de horas de quadra que neutralize o efeito que o cigarro tem em seu corpo. Da mesma forma, ao enfatizar o provável efeito cancerígeno de muitos alimentos contaminados, poluição do ar e artigos de consumo, estamos desviando a atenção pública de agentes por vezes dezenas de vezes mais fortes.

Outro dia fiquei sabendo de uma produção de tabaco orgânico. Parece piada, mas é verdade. Todo dia nasce um otário.

No caso particular do fumo, a transformação bioquímica que ele processa no cérebro faz as pessoas buscarem qualquer tipo de subterfúgio irracional ao alcance, como dizer que podem fumar cinco cigarros por dia porque moram em uma cidade poluída (e por isso todos ali estariam sujeitos a um mal proporcional a cinco cigarros).

Se voce fuma, bebe, é obeso ou toma sol deliberadamente, é bobagem preocupar-se com alimentos orgânicos, ar puro ou bisfenol A. Suas chances de contrair um câncer são tão altas que a melhoria causada por estes aspectos menores não farão diferença para você. Parece que é uma perda para a batalha ambiental, mas não é. Fumantes nunca deram bons ambientalistas de qualquer forma. Quem não está preocupado nem com a própria saúde muito menos se preocupará com a saúde do planeta.

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. Publica o blogue Ambiente por Inteiro.

EcoDebate, 20/03/2012

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