Geotecnologia e Modelagem da Erosão dos Solos, artigo de Sérgio Gomes Tôsto, Lauro Charlet Pereira e João Alfredo de Carvalho Mangabeira
GEOTECNOLOGIA E MODELAGEM DA EROSÃO DOS SOLOS1
Sérgio Gomes Tôsto2
Lauro Charlet Pereira3
João Alfredo de Carvalho Mangabeira4
[EcoDebate] O uso de tecnologias inadequadas provocam resultados indesejáveis sobre os recursos naturais, o que tem contribuído para degradação ambiental principalmente nesse último século que demandou quantidades de recursos naturais crescentes, extrapolando assim, a escala sustentável do uso desses recursos.
Para auxiliar na avaliação ecossistêmica tem-se utilizado a modelagem econômico-ecológica. Um dos principais objetivos desse instrumento é representar através de equações a interação dos componentes do ecossistema, e deste com o sistema antropogênico. Neste contexto, o uso de geotecnologias adquiriu caráter fundamental que possibilitam, com eficiência, a obtenção e tratamento de elevada quantidade de dados e informações sobre os recursos naturais.
Como exemplo do uso de geotecnologia utilizou-se o ambiente de Sistema de Informação Geográfica – SIG para a definição das taxas de erosão do município de Araras, SP cuja área é caracterizada por condições de clima, solo, relevo e infraestrutura logísticas e aptidão agrícola adequadas, favorecendo uma exploração intensiva dos solos acima da sua capacidade de suporte, contribuindo para processos erosivos em diferentes magnitudes na região (TÔSTO, 2010).
Método para obtenção das perdas de solo
As taxas de perda de solo na área de estudo foram estimadas, a partir do modelo USLE – Universal Soil Loss Equation (WISCHMEIER e SMITH, 1978), também conhecido por Equação Universal de Perda de Solo, que foi adaptada para as condições brasileiras por Bertoni e Lombardi (1998). Consiste de um modelo multiplicativo, onde a perda média anual de solo é obtida pelo produto de seis fatores determinantes, de acordo com a equação:
A = R*K*L*S*C*P, onde: A = perda anual de solo em Mg.ha-1.ano-1; R = fator erosividade da precipitação e da enxurrada, em M.J.mm.ha-1.h-1.ano-1; K = fator erodibilidade do solo em Mg.ha.h/ha.MJ.mm que, conforme Bertoni & Lombardi Neto (1999), obteve-se o valor de K= 0,0250; L = fator comprimento da encosta; S = fator grau de declividade; LS = fator topográfico; C = fator de cobertura e manejo da cultura. Os valores de C foram aqueles calculados por Bertoni & Lombardi Neto (1998); P = fator de práticas conservacionistas do solo P= 0,69947 – 0.08911 * S + 0.01184 * S – 0,000335* S (WISCHIMEIER & SMITH, 1978).
O mapeamento do uso e cobertura dos solos foi feito a partir de interpretação analógica da imagem orbital do satélite CBERS 2, com resolução espacial de 20m. Para definição dos padrões de uso, utilizou-se de características das imagens, como: cor, textura, tonalidade, sombra, tamanho, altura e localização, entre outras. A classificação de imagens que não puderam ser definidas em laboratório foi verificada in loco, em trabalho de campo, com auxílio de GPS. A caracterização do uso resultou nas seguintes classes: cafeicultura, cana-de-açúcar, pastagem, cultura anual, fruticultura, uso misto, silvicultura, vegetação ripária e floresta estacional.
O mapa de solos do município de Araras foi derivado do mapa pedológico do Estado de São Paulo (OLIVEIRA et al.,1982).
Com o mapa de solo, mapa do uso e cobertura das terras e a equação universal de perdas de solos, em ambiente SIG, foi gerado o mapa das taxas de perdas de solos, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 – Mapa das taxas de erosão
Fonte: Mapa gerado pela pesquisa
Numa análise geral dos resultados, verificou-se que grande parte da área municipal apresentou a menor perda de solo (0-12 Mg.ha-1.ano-1), certamente devido à combinação de práticas consevacionistas e boas condições morfo-pedológicas, caracterizadas por relevos planos ou quase planos e solos profundos e bem drenados. A seguir, embora com menor representatividade de área, foram encontradas as outras três categorias de perdas de solo (12-24; 24-60 e 60-120 Mg.ha-1.ano-1, respectivamente), que pode significar não apenas a drástica perda de oferta de serviços ecossistêmicos, mas sobretudo a insustentabilidade produtiva de diferentes agroecossistemas.
Assim sendo, estudos dessa natureza, com o emprego de geotecnologias, podem subsidiar planos e programas, visando não apenas a restauração da oferta de serviços ecossistêmicos, mas também a manutenção da sustentabilidade e melhoria da qualidade ambiental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone. 355p. 1998.
OLIVEIRA, J. B. de; MENK, J. R. F.; BARBIERI, J. L. ; ROTTA, C. L.; TREMOCOLDI, W. Levantamento pedológico semidetalhado do Estado de São Paulo: Quadrícula de Araras. Governo do Estado de São Paulo, convênio Embrapa, Boletim técnico Instituto Agronômico nº 71. Campinas São Paulo.1982. 180 p.
TÔSTO, S. G. Sustentabilidade e valoração de serviços ecossistêmicos no espaço rural do município de Araras, SP. Tese de Doutoramento. Instituto de Economia, UNICAMP, Campinas, 2010. 217 p.
WISCHIMEIER, W. H.; SMITH, D. D. Prediciting rainfall erosion losses: a guide to a conservation planning. Washington: USDA, 1978. 58p. (Agriculture Handbook, 537).
Este trabalho é parte integrante da tese de Doutorado do primeiro autor.
Engº Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Dr. Desenvolvimento, Espaço e Meio Ambiente email: tosto@cnpm.embrapa.br
Engº Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Dr. Planejamento e Gestão Ambiental, email: Lauro@cnpma.embrapa.br
Engº Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Dr. Desenvolvimento, Espaço e Meio Ambiente, email: manga@cnpm.embrapa.br
EcoDebate, 19/12/2011
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