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Crise financeira global reduz o consumo de produtos sustentáveis

 

Crise faz cair vendas de produtos ecológicos – Em agosto, Llloyd Alter se deparou com os limites de suas convicções ambientais quando teve que trocar o telhado de sua casa em Toronto, que estava com goteiras. “Durante anos, eu disse que instalaria um telhado de metal refletor”, porque ele ajuda a reduzir o calor e baixa os custos de energia durante o verão, disse Alter, 58, arquiteto que escreve sobre design para o site Treehugger, voltado para a sustentabilidade. Mas “na hora do vamos ver, comprei um de asfalto”, disse ele.

As telhas de asfalto não são tão boas para refletir os raios do sol, e pior ainda, são feitas de um material a base de petróleo. Mas elas eram bem mais baratas: o custo total do novo telhado, incluindo sua instalação, foi de cerca de US$ 12 mil, observou Alter, enquanto “o telhado metálico provavelmente teria custado o dobro.”

É o tipo de queda na realidade que muitos consumidores ambientalmente conscientes enfrentam hoje em dia. E como Alter, a maioria acaba cortando seus gastos em vários itens, principalmente em produtos ecológicos, que normalmente custam mais do que os concorrentes tradicionais e são difíceis de justificar, ou até de pagar, quando os orçamentos estão apertados.

Numa economia ruim, o que costumava ser essencial pode rapidamente se tornar opcional. Reportagem de Steven Kurutz, The New York Times.

Ao mesmo tempo, o que antes era apenas moda pode se tornar uma questão de necessidade. Atividades como plantar e conservar alimentos, criar galinhas e fazer suas próprias roupas e outros produtos domésticos agora são vistas por muitas pessoas como uma forma de economizar enquanto permanecem fieis aos valores ambientalistas.

David Quilty, blogueiro de Santa Fé, Novo México, parou de comprar camisetas de algodão orgânico e comprar alimentos na Whole Foods. E depois de anos comprando produtos de limpeza e sabão de empresas ecológicas como a Method e Seventh Generation, ele diz que não tem mais dinheiro para isso, então começou a limpar sua casa com uma solução que ele mesmo prepara.

Não é coincidência que seu blog ambiental The Good Human, muito lido, publicou recentemente um artigo intitulado “23 maneiras de usar vinagre para limpar de forma não tóxica”. Esta é apenas uma entre as várias matérias semelhantes que apareceram no site no ano passado, e que mostram a mudança do blog para uma mentalidade de “faça você mesmo”.

“Tenho que priorizar meus gastos, como muitas pessoas fazem hoje”, disse Quilty, 39, que sobrevive do blog e viu sua renda com anúncios cair em um terço nos últimos seis meses. “Eu simplesmente não tenho capacidade financeira.”

A mesma mudança de foco é evidente em outros blogs ambientais. Alter disse que vê isso acontecer diariamente no Treehugger.“Se você entrasse no site há quatro anos, antes da recessão, veria uma mensagem nova todos os dias sobre uma nova camiseta de bambu ou sandálias de bambu”, diz ele. “Não publicamos mais quase nada disso, porque as pessoas não têm dinheiro para comprar.”

Também desapareceu a ávida cobertura de laptops de US$ 1 mil com caixas feitas de plástico reciclado, móveis construídos com madeira cortada de forma sustentável e chapéus com painéis solares. Em vez disso, diz Alter, “estamos escrevendo muito mais sobre cozinhar, andar de bicicleta e política.”

Jill Fehrenbacher, 34, fundadora e editora-chefe do Inhabitat, um popular blog de design ecológico, diz que também cortou os artigos sobre produtos, uma mudança que seus leitores pediram. “Nos últimos anos, tivemos uma verdadeira resposta anti-consumo.”

Não é de surpreender que o setor de produtos ecológicos esteja sentindo isso. Laura Batcha, vice-presidente executiva da Associação de Comércio Orgânico, disse que embora o setor de produtos orgânicos tenha estourado nos últimos oito anos, passando de US$ 9 bilhões para US$ 29 bilhões em vendas, as taxas de crescimento anual do setor caíram para menos de 6% em 2010, de cerca de 15% e 20% anteriormente.

E algumas marcas sentiram isso mais fortemente que outras. De acordo com a SymphonyIRI Group, uma firma de pesquisa de mercado que acompanha lojas grandes (exceto o Wal-Mart), as vendas do produto de limpeza Clorox Green Works e de detergente para máquina de lavar-louças caíram mais de 30% cada no período de 12 meses que terminou no início de setembro. A Seventh Generation, uma marca ecológica popular, viu uma queda nas vendas de itens como toalhas de papel, que caíram mais de 15% durante o mesmo período (embora as vendas de alguns outros itens da companhia, como detergente, tenham subido numa porcentagem quase igual.) Enquanto isso, itens mais caros como carros híbridos tiveram uma queda de mais de 20% nas vendas no ano passado, de acordo com a Baum & Associates, outra firma de pesquisa de mercado.

Apesar de tudo isso, Batcha insiste que o setor ecológico continua sua “ascensão morro acima” (as taxas de crescimento do setor estão de volta aos dois dígitos baixos este ano, diz ela, embora não tenha números específicos), e a maior parte das pessoas não estão fazendo a escolha entre o ecológico e o barato. No momento, entretanto, muitos consumidores ambientalmente conscientes parecem pensar nas duas coisas.

Há não muito tempo, Alter estava numa mercearia, tentando decidir entre um bacon orgânico de US$ 10 por 450 gramas e uma marca não orgânica que custava US$ 5. No fim, ele não comprou nenhum dos dois.“Cada vez mais pessoas estão fazendo isso”, diz ela. “É como o ‘dia do não compre nada’ o ano inteiro.”

Para Erin Peters, uma dona de casa e mãe de três filhos que começou a usar produtos ecológicos há quatro anos, a abordagem “faça você mesmo” foi uma resposta para o que ela achava que era uma dificuldade financeira temporária. Quando a companhia de seu marido o transferiu de Washington D.C. para Raleigh, Carolina do Norte, em 2008, durante o colapso do mercado imobiliário, eles ficaram sobrecarregados com a hipoteca de uma casa e o aluguel de outra, até que finalmente venderam a casa um ano depois.

Durante aquela época, suas compras tinham uma espécie de moral da história liberal.

“Eu não podia nos enfiar em mais dívidas”, diz Peters, 32. “Mas sentia-me culpada se não comprasse os produtos ecológicos que costumávamos usar.”

Recentemente, eles tiveram outro problema: as mensalidades de seus planos de saúde subiram, o que significa que “perdemos algumas centenas de dólares do orçamento mensal”, disse Peters, e tiveram que fazer mais cortes de gastos.

Por enquanto, pelo menos, isso significa evitar produtos orgânicos. Eles também estão alugando uma casa menor perto do trabalho do marido e da escola das crianças. Economizando em gasolina, eles economizam dinheiro e reduzem sua pegada de carbono.

Peters também começou a plantar e conservar vegetais, e embora ela costumasse achar que as lojas beneficentes vendiam roupas “apodrecendo ou se desmanchando”, e nunca tivesse imaginado que compraria nelas, é onde está comprando suas roupas agora.

Mas apesar de deixar de lado coisas como produtos de limpeza ecológicos e alimentos orgânicos, Peters diz que está vivendo de uma forma mais sustentável que antes.

“Acho que a economia obrigou as pessoas a viver de forma mais sustentável”, diz ela. “Mesmo que elas não tivessem a intenção disso.”

Outras pessoas descobriram que podem viver simplesmente sendo mais seletivas. Megan Yarnall, 23, formada recentemente no Dickinson College, está com o orçamento restrito desde que saiu da casa dos pais há um ano e meio e foi para um apartamento em Yardley, Pensilvânia. Ela ainda compra alimentos orgânicos, mas não tão indiscriminadamente como quando estava na faculdade. “Para mim, é uma questão de escolher o que deve ser orgânico”, diz ela, “e o que não é tão importante que seja.”

Ela descobriu com um colega de trabalho na TerraCycle, a firma de design de reciclados de Nova Jersey onde ela trabalha, os chamados “doze sujos”, uma lista de 12 frutas e vegetais mais suscetíveis a absorverem pesticidas, com base em dados do Departamento de Agricultura dos EUA. Yarnall agora economiza dinheiro comprando alimentos orgânicos só dos itens que estão nessa lista. Isso significa gastar dinheiro com coisas como morangos, maçãs e alface, mas economizar em frutas de casca grossa como bananas.

Quilty se acomodou do seu jeito: para conseguir comprar carne de gado alimentado com pasto, ele compra frutas e vegetais de um mercado de produtores, que é “bem mais barato do que o Whole Foods”, diz ele.

E se a produção não é orgânica, pelo menos é local.“É uma compensação, mas vale a pena para mim comer a carne mais saudável que posso encontrar.”

Alguns temem que toda essa frugalidade possa resultar no que Gita Nandam chama de “reações involuntárias sem visão”, ou seja, deixar de comprar produtos ecológicos com custo imediato alto, apesar da economia que eles representam a longo prazo e da redução do impacto ambiental que proporcionam.

“As pessoas dizem: ‘eu tenho apenas US$ 3 no bolso, então vou comprar lâmpada incandescente porque é mais barata’”, diz Nandan, 40, sócia da Thread Collective, uma firma de design de Nova York especializada em arquitetura sustentável. Mas “no fim, a matemática não funciona”, continua, porque a lâmpada leva a um consumo maior de energia, o que significa que a conta no final do mês será mais alta.

Nandan diz que sugere a seus clientes para economizar em algumas áreas (“não vamos gastar muito dinheiro em tinta ou naquela banheira de US$ 12 mil”) e usar essa poupança em materiais ecológicos mais caros que compensarão a longo prazo.

Ultimamente, ela vem divulgando um produto feito pela EnergyHub, um aparelho que permite aos moradores da casa monitorarem e controlarem seu uso de eletricidade.

“Se meus clientes vão pagar os US$ 300 a mais?”, pergunta. “Não sei, mas vale a pena ter essa conversa.”

Investir num monitor de energia pode não demandar muita avaliação durante tempos de vacas gordas. Mas como muitas das coisas ambientalmente conscientes que os consumidores falavam em fazer há alguns anos – instalar painéis solares, comprar carros híbridos, comprar casas com certificado LEED – isso pode ser um sonho que terá de ser postergado.

No início deste ano, Peters e seu marido fizeram um test-drive de um Leaf, um carro elétrico da Nissan. Comprá-lo seria melhorar a eficiência energética em relação ao Honda Odyssey 2004 do casal, e é algo que Peters diz que eles poderiam ter feito há algum tempo atrás.

“Como a maioria dos norte-americanos”, diz ela, “eu tinha a mentalidade de que, se quisesse algo novo, podia sair de casa e comprar.”

Em vez disso, ela e o marido entraram num concurso para ganhar o carro e estão evitando comprar qualquer coisa. Quando a economia se recuperar, ela diz que espera comprar um novo veículo econômico em combustível, mas isso “está fora do alcance agora”.

O “limpa-tudo” de David Quilty

Encha um vidro de spray com dois terços de água e um terço de vinagre branco destilado. Para cortar o cheiro do vinagre, acrescente algumas gotas de óleo essencial como capim limão, sálvia ou cítrico. (O cheiro do vinagre se dissipa logo depois de usar o produto, então você pode deixar de lado os óleos essenciais caso tenha alergia à fragrâncias.)

Quilty estima que usa cerca de uma xícara de vinagre por vidro de spray e paga cerca de US$ 4 por um galão (3,7 litros). Isso significa que ele gasta cerca de 25 centavos por um vidro de produto de limpeza, o que é “bem, bem menos” do que os US$ 3 ou US$ 5 dos produtos de limpeza vendidos nas lojas, diz ele.“Eu o utilizo pela casa inteira como um limpa-tudo.”

Tradução: Eloise De Vylder

Reportagem [Eco Meets the Economy] de New York Times, no UOL Notícias.

EcoDebate, 17/10/2011

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