EUA dizem adeus às suas represas: ‘São caras e nocivas ao ambiente’
Símbolo obsoleto do século XX: só resistirão as eficientes. Foram destruídas 925 represas, muitas nos últimos anos. Ressuscita o negócio da pesca e do turismo.
A reportagem é de Federico Rampini, publicada no jornal La Repubblica, 18-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A tribo Klallam está em festa há uma semana por causa da “vingança do salmão selvagem, animal sagrado”. O ponto culminante das celebrações foi a grande explosão de dinamite que pulverizou ontem, em uma nuvem de detritos, a barragem de Lower Elwha, um rio no Estado de Washington. “A retomada do curso natural – declarou o ministro do Interior, Ken Salazar – assinala o início de uma nova era nas relações entre os nossos rios e as comunidades que vivem em suas margens”.
A barragem de Lower Elwha, uma muralha de 35 metros de altura, é apenas a última a cair sob os golpes de uma nova tendência, que está apagando da paisagem norte-americana uma das marcas distintivas do século XX.
A demolição das barragens tem sido invocada há muito tempo pelos ambientalistas, que as consideram um estupro da paisagem. O aliado natural nessa campanha são os índios dos EUA, descendentes de tribos indígenas que preservaram tradições ancestrais de respeito pela natureza. Mais recentemente, os cientistas especialistas em climatologia, geografia e geologia se uniram a uma tese “revisionista”: longe de regular os rios, as barragens, muitas vezes acentuam as enchentes e as inundações, enquanto um retorno ao fluxo natural permite que se reduzam as calamidades. Até mesmo a direita acabou inclinando, por uma razão prosaica: manter as represas custa caro, em uma fase de altos déficits públicos, enquanto destruí-las significa ressuscitar o negócio da pesca e do turismo.
Resultado: os EUA demoliram 925 barragens, a maior parte delas nos últimos quatro anos. Um número já enorme, mas que tende a aumentar rapidamente, porque o total das barragens dos EUA gira em torno das 80 mil. A maioria delas foi construída há mais de meio século e estão se aproximando da sua “data de validade” de acordo com as normas de segurança.
A inversão de tendência é impressionante, porque as barragens eram um símbolo da “conquista do território” por parte dos colonos brancos, e, no século XX, um motor de modernização: das fábricas têxteis às fábricas de papel no início do século XX, muitas áreas da Costa Leste e do Centro-Oeste viram florescer o seu primeiro boom industrial justamente ao longo dos rios e perto das represas que geravam a eletricidade. Até a Segunda Guerra Mundial, as centrais hidrelétricas alimentadas por barragens forneceram 40% de toda a energia dos EUA.
O impulso mais vigoroso à construção das represas ocorreu na Grande Depressão, precisamente aquele período histórico que hoje os norte-americanos “redescobrem” para o seu próprio prejuízo, por causa das analogias com a crise atual. Para arrastar a economia dos EUA para fora da Depressão, nos anos 1930, o presidente Franklin Delano Roosevelt lançou com o New Deal um imponente programa de obras públicas. As barragens estavam em primeiro lugar entre as infraestruturas construídas nesse período e algumas delas entraram para a história.
Esse é o caso da Hoover Dam (foto), no Black Canyon do rio Colorado, 40 quilômetros ao sul de Las Vegas: foi inaugurada no dia 30 de setembro de 1935 por Roosevelt, que teve a elegância de dedicá-la ao seu infeliz antecessor (porque os fundos haviam sido alocados quando o presidente era Herbert Hoover, o do crack da bolsa de 1929). Na paisagem espetacular ao longo da estrada US-93, a Hoover Dam havia sido uma atração turística até hoje.
Ainda mais importante foi a experiência da Tennessee Valley Authority, instituída em 1933 para ajudar uma das áreas mais atingidas pela Depressão: essa entidade pública construiu 50 barragens e 12 centrais hidrelétricas, tornou-se um modelo de planejamento estatal do território, copiado depois da Segunda Guerra Mundial em muitos países emergentes.
Pode surpreender a marcha a ré de hoje justamente quando a energia hidrelétrica permite reduzir as emissões de dióxido de carbono. Na verdade, a National Hyrdopower Association aumentará em 66% a produção de energia nos próximos 15 anos, concentrando-a nas grandes barragens mais novas e mais eficientes. Já agora, grande parte da hidroenergia vem de 3% das barragens. Quanto às outras, elas podem seguir o destino de Elhwa Dam e restituir a água aos seus proprietários. “Antigamente, nos chamavam de povo salmão”, diz Robert Elofson, da tribo Klallam, “porque para nós o peixe tinha uma mesma dignidade que a espécie humana. Neste rio, os salmões caíram de 400 mil para 3 mil. Agora, eles podem reconquistá-lo”.
(Ecodebate, 26/09/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
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Enquanto isso, no Brasil se constrói represas como o de Belo Monte que na estiagem funcionará com apenas 1/4 da sua capacidade nomina, isso sem considerar que, após inuagurada, no mesmo número de anos que se levará para construir estará altamente assoreada, com sua capadicade ainda mais reduzida, pois os rios da região são altamente erosivos.
Tenho a impressão que andamos na contramão da História…. Somos dependentes de energia que nos sai cara, com alto impacto ambiental que desconsidera nossa rica biodiversidade e as populações tradicionais e povos indígenas atingidos por barragens. Enquanto isso, a energia do sol, da biomassa, do vento não passam de uma modesta estatística, em pleno século XXI em nosso país.
só no migé, estas represas serão destruidas porque não servem amis estão assoreadas, ou seja, suas aguas tem apenas 1 metro de profundidade, o que a torna inviável economicamente, devemos ter cuidado com as informações que recebemos sobre meio ambiente, se estas represas fossem viáveis economicamente os americanos não se importariam com o meio ambiente, não é mesmo. se querem tanto ajudar o meio ambiente, porque não assinaram o protocolo de kioto, não ajudam as pessoas que moram na africa e estão morrendo de fome, e ninguem sabe, não acabam com as usinas nucleares, como disse: só migé.
Vamos fazer uma reflexão mais razoável sobre esse tema:
Em primeiro lugar os americanos não são exemplo para nenhum outro país do mundo em termos de ações sustentáveis, o Brasil sim: Em estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente nós somos o maior mercado mundial de energia renovável, já os americanos os maiores produtores de poluentes do mundo juntamente com a China. Em segundo lugar, o próprio artigo que lemos acima já desqualifica qualquer argumento à destruição de usinas hidrelétricas. Por que 925 barragens para um universo de 80.000 não quer dizer nada – Destrua essas 80.000 barragens pra ver o caos em que vão se meter.
Dizer que qualquer outra forma para geração de energia não causa impacto ambiental é de uma ingenuidade atroz, ou má fé mesmo.
Até mesmo a energia eólica causa impacto ambiental, seja visual, alterando extensas áreas de paisagens, morte de aves migratórias através do impacto com as hélices dos cataventos, alteração do solo, poluição sonora, e.t.c…
Para se fazer uma reflexão razoável sobre a viabilidade ambiental de Belo Monte, é preciso antes de tudo boa fé. O que tenho visto muito por aí são argumentos baseados no sofisma, e tentativas de persuação emocional, com belas imagens de paisagens, animais coloridos, rituais indígenas…. e artistas globais que de uma hora para outra se transformam nas pessoas mais engajadas do mundo, quando na verdade sabemos que são os profissionais mais alienados que se possa imaginar.
O Brasil está caminhando para se tornar uma das 5 maiores economias do mundo, e esses debates tem que ser mais honestos.
Uma reflexão razoável e lúcida inclui a leitura atenta do texto e do contexto.
A matéria fala de barragens, o que inclui hidrelétricas. No entanto nos EUA, como em qualquer lugar do mundo, a maioria das barragens é usada como reservatório de água para usos não energéticos.
Por isto o texto fala em um número tão grande de barragens demolidas (925) dentre 80 mil.
No Brasil, só no Nordeste existem mais de 70 mil barragens.
Lá, como aqui, são inúmeros os casos de barragens ineficazes ou de risco. É disto que a matéria trata.