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Artigo

Criação e/ou Consumo de Pequenos Animais no Baixo Parnaiba, artigo de Mayron Régis

 

[EcoDebate] As relações entre as comunidades de São Raimundo, Bom Principio e Bracinho, município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba, nos últimos anos, dilaceraram-se por meio de futricas e por meio de invejas. Temer-se-ia que desse dilaceramento as empresas de reflorestamento com eucalipto e os proprietários finalmente subjugassem esse reduto da insubordinação ao agronegócio da soja e do eucalipto na região. Aos poucos esses ressentimentos se espaçaram e as comunidades recobraram os seus laços de afinidade perante o desenlace que as monoculturas proporcionam para quem adere aos seus desígnios.

A Maria Francisca aguardava a presença deles em São Raimundo no dia anterior e cozinhara uma galinha caipira que atiçaria a gulodice de qualquer individuo até dos menos afeitos a comedorias. Com certeza, comer uma galinha caipira numa sexta-feira compensaria qualquer cansaço de viagem. Eles só apareceram no sábado, dia 03 de agosto, para avaliar a construção do galinheiro que começara em julho. Um galinheiro rústico e barato, bem de acordo com a realidade de São Raimundo. Ao ver a construção prontinha, o Antônio Anísio, técnico em agropecuária e responsável pelo projeto, elogiou a coragem e o desprendimento dos membros da equipe que erigiu o galinheiro em quase dois meses.

Outros projetos de criação de pequenos animais no Baixo Parnaíba maranhense se engatilharam entre julho e setembro de 2011 como nos casos do Pólo Coceira e Comunidade Pau Serrado, município de Santa Quitéria, e em Mangabeirinha, município de Urbano Santos. A criação e/ou o consumo de pequenos animais tanto terrestres como aquáticos, no Baixo Parnaíba maranhense, amplifica em muito o campo agrário do qual as famílias interioranas subsistem.

Ocorreu um caso bastante singular com crianças de São Raimundo que pescavam em uma lagoa de Bom Principio, um pouco acima da casa do presidente da associação desta comunidade. A dona Teresinha, agente de saúde e parteira, indagava a Francisca sobre seu recém-nascido e sobre seus outros filhos adotados. Ela respondera que Giselle, a filha mais velha, esparramara-se para essa lagoa em Bom Principio a fim de pescar camarão de água doce e peixes pequenos.

Depois do almoço, a filha chegou com dois coadjuvantes da pescaria e uma grande quantidade de pescado. Um dos coadjuvantes se chamava Lucas e denotara seu nome com uma prodigalidade incomum: “Meu nome é Lucas”. Para continuar a conversa e talvez achando que aquela criança exercera um papel acima do esperado na pesca, um dos interlocutores pergunta: “E aí Lucas, fizeste o que na pescaria?” e o que ele prontamente respondeu: “Segurei a bacia”.

Mayron Régis, articulista do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

EcoDebate, 13/09/2011

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