Urânio empobrecido: uma ameaça ainda desconhecida, entrevista com Damacio A. Lopez
Com o processo de enriquecimento de urânio o Brasil está produzindo todo dia um lixo nuclear chamado urânio empobrecido (urânio-238). Entrevista com Damacio A. Lopez do Novo México (EUA), especialista em urânio-238 e seu uso em armas.
[Por Norbert Suchanek e Marcia Gomes de Oliveira, para o EcoDebate] As armas e munições modernas feitas com urânio-238 representam um sério risco para os civis e seu uso vai contra vários princípios da lei internacional de direitos humanos. O Comitê de Direitos Humanos da ONU condenou estas armas radioativas, porque elas têm um efeito indiscriminado, com consequências a longo prazo para o meio ambiente e a saúde humana. Em abril deste ano, o Congresso da Costa Rica aprovou uma lei contra armas de urânio, tornando-se o segundo país no mundo, depois da Bélgica, com esta lei. Recentemente, a Presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, formalizou esta lei que proíbe o uso, comércio, trânsito, produção, distribuição e armazenamento de armas de urânio no território costarriquenho.
Entrevista com Damacio A. Lopez, Diretor Executivo do Grupo Internacional de Estudo sobre Urânio Empobrecido (IDUST), uma organização não-governamental de pesquisadores, ativistas, soldados, médicos e cientistas. Ele não foi apenas a força principal por trás da proibição na Costa Rica das armas de urânio. Lopez também é autor e co-autor de muitas obras respeitadas sobre o assunto, incluindo o livro “Friendly Fire, a Relação entre as Munições com Urânio Empobrecido e o Risco à Saúde Humana” e o documentário “Urânio 238”, que em maio passado ganhou o Prêmio do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear, no Rio de Janeiro.
Norbert Suchanek: O que é o urânio empobrecido?
Damacio A. Lopez: resíduos radioativos produzidos pela indústria da energia nuclear.
Por que este urânio é usado em armas, bombas e munições?
Porque, sendo lixo, este material é de graça e a munição ou projétil de urânio atravessa os tanques, e qualquer colete, como numa manteiga. Quando entra no tanque, o projétil queima e desenvolve um calor tão alto que os soldados dentro do tanque são carbonizados imediatamente e o tanque explode.
Quais são os efeitos ou consequências do uso de armas U-238 para o meio ambiente e a saúde humana?
Estas munições criam uma poeira (como um gás) radioativa e tóxica que pode ser inalada ou ingerida.
Por isso os campos de batalha na Ex-Jugoslávia e no Iraque, onde já foram usadas estas armas modernas pelo Exército dos EUA e da OTAN, tornaram-se lugares radioativos …
Qualquer campo de batalha onde DU (sigla para urânio empobrecido) é usado, torna-se contaminado por 4,5 bilhões de anos.
Quem é mais afetado?
Qualquer pessoa que entra em contato com DU será afetado negativamente.
Os soldados que usam esta arma ficam doentes também?
Os soldados são geralmente os primeiros a serem contaminados se dispararem a arma ou se forem o alvo. A poeira ou “gás” de urânio-238 queimado afeta os soldados dos dois lados e a população civil local também.
Quais são os países com armas de U-238?
Há mais de 18 países que possuem essas armas. Os EUA e a Grã-Bretanha usam esta arma regularmente. É difícil saber quais outros países já estão usando estas armas, porque os governos tratam isso como assunto secreto, já que seu uso pode representar uma violação das normas internacionais. Uma das razões porque sabemos sobre o uso destas armas pelos EUA e a Grã-Bretanha é o fato dos pesquisadores independentes terem entrado em zonas de guerra com contadores Giger e terem retirado amostras para análise. Eu fiz isso no Iraque, Kosovo e na Palestina. Mais tarde, a ONU enviou equipes para verificar estas descobertas de pesquisadores independentes.
Desde quando você luta contra urânio empobrecido?
Comecei este trabalho em 1985, quando eu descobri que as armas de urânio foram sendo testadas menos de dois quilômetros da minha casa. Os testes são feitos pela universidade New Mexico Institute of Mining and Technology (NMIMT), em Socorro, financiado pelo Estado do Novo México.
Sua missão é a proibição global das armas de urânio empobrecido? O banimento pelas Nações Unidas?
Correto! Meu objetivo é um tratado internacional que proíba estas armas.
A Bélgica foi o primeiro país que proibiu essas armas. Agora a Presidente da Costa Rica assinou também a proibição destas armas, que foi em grande parte o resultado de seu trabalho. Qual é o próximo passo?
Meu próximo passo é localizar mais um país interessado em proibir essas armas DU, e estarei feliz em ir a este país para ajudar na campanha contra elas.
O Senhor esteve recentemente no Rio de Janeiro participando do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear (Uranium Film Festival) , onde o documentário “Urânio 238: A Bomba suja do Pentágono”, de Pablo Ortega ganhou o prêmio de melhor curta-metragem. Você acha que a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, poderia seguir a sua colega da Costa Rica?
Será maravilhoso o Brasil seguir o exemplo da Costa Rica.
Obrigado pela entrevista!
Damacio A. Lopez estará até 27 de agosto em Natal e Fortaleza, representando o filme “Urânio 238”, nas Mostras Itinerantes do 1º Festival Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear. Depois Damacio estará no Rio de Janeiro até 07 de setembro e estará disponível para outras entrevistas e palestras. Contato: info@uraniumfilmfestival.org
A foto mostra Damacio A. Lopez e David Rothauser, Diretor do filme Hibakusha, em frente à ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), onde informavam os deputados sobre seus objetivos, durante o Festival, Maio 2011. Foto crédito: Haroldo Mota
Mais informações sobre urânio empobrecido: http://www.bandepleteduranium.org/
Norbert Suchanek e Marcia Gomes de Oliveira, Rio de Janeiro
EcoDebate, 24/08/2011
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