O crescimento exponencial do consumo no século XXI, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] No ano 2000, a população mundial estava em torno de 6 bilhões de habitantes e o Produto Bruto da economia mundial estava em 42,3 trilhões de dólares, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para consumir é preciso produzir.
Assim, podemos dizer que o consumo (consumo das famílias e das empresas) per capita da humanidade era de 7 mil dólares ao ano. Entre 2000 e 2011 a economia mundial cresceu 3,7% ao ano e a população cresceu 1,2 ao ano. Assim, a população mundial chegou a 7 bilhões de habitantes em 2011 e o PIB mundial chegou a 63 trilhões de dólares. A renda per capita mundial passou para 9 mil dólares, em 2011.
A divisão de população da ONU, em sua projeção média, aponta para uma população de 10 bilhões de habitantes em 2100. Se o PIB mundial continuar crescendo na média de 3,7% ao ano (que foi a média de 2000 a 2011) atingirá o astronômico número de 1.598.662.420.000.000 (um quatrilhão, quinhentos e noventa e oito trilhões e 420 bilhões de dólares). Um crescimento de 38 vezes. A renda per capita mundial chegaria a 160 mil dólares anuais. A renda per capita da população mundial multiplicaria por 23 vezes no século. Ou seja, o poder de consumo médio da humanidade multiplicaria por 23 vezes em 100 anos e o impacto da economia sobre o meio ambiente, ceteris paribus, seria 38 vezes maior.
Sabemos que atualmente a maior parte do consumo está concentrada nos países ricos e nas economias avançadas. Porém, desde o ano 2000, são os países em desenvolvimento que apresentam as maiores taxas de crescimento econômico. A China e a Índia – com mais de 2,5 bilhões de habitantes – são os países que mais crescem economicamente. Segundo o FMI a economia da China vai passar o PIB dos Estados Unidos (em poder de paridade de compra – ppp) em 2016. A Índia deve passar os Estados Unidos por volta de 2040. Isto vai significar um grande poder de consumo das populações destes dois países.
Mesmo os países pobres podem ter um grande aumento do padrão de consumo no século XX, se as altuais tendências econômicas se mantiverem. A África ao sul do Sahara (composta de 44 países), que é a região mais pobre do Planeta, tinha uma população de 635 milhões de pessoas em 2000 e um PIB de 846 bilhões de dólares. A renda per capita era de somente 1.300 dólares ao ano. Em 2010 a população da África sub-saariana passou para 813 milhões de pessoas e o PIB passou para 1,47 trilhão de dólares. A renda per capita chegou a 1.811 dólares em 2010.
A ONU projeta que a população da África sub-saariana chegará a 3,2 bilhões de habitantes em 2100. Se a economia da região continuar crescendo à taxa de 5,7% ao ano (média de 2000 a 2010), então o PIB chegará a 43,3 trilhões de dólares em 2071 (maior, portanto, do que o PIB mundial do ano 2000) e a 216 trilhões de dólares em 2100. Somente o PIB da região africana ao sul do Saara seria 5 vezes maior do que o PIB mundial em 2000. A renda per capita dos habitantes dos africanos ao sul do Saara chegaria a 67,5 mil dólares em 2100.
Todo este exercício matemático é somente para mostrar que se as tendências atuais de crescimento econômico forem mantidas a renda per capita média mundial chegararia a 160 mil dólares e a renda per capita dos habitantes da África ao sul do Saara chegararia a 67,5 mil dólares. Seria um tremendo poder de consumo para a população mundial e mesmo para a população da região mais pobre do Planeta. No total mundial, o consumo (das famílias e das empresas) aumentaria 38 vezes entre 2000 e 2100.
Acontece que a pegada ecológica da humanidade já tinha ultrapassado a capacidade de regeneração do Planeta no ano 2000. Ou seja, na virada do milênio a humanidade já estava utilizando mais de um Planeta para manter o seu consumo. O que acontecerá no ano 2100 quando a humanidade estiver consumindo (na pressuposição da manutenção do modelo econômico atual) o equivalente a 38 planetas Terra?
Evidentemente, o modelo de crescimento econômico e populacional da atualidade é insustentável. Pequenas taxas de crescimento, quando vistas em termos exponenciais, significam grandes saltos no período de um século. Então, o que fazer?
Parar de crescer?
Mudar a forma de crescimento, privilegiando as atividades intangíveis ao invés do consumo supérfluo?
Decrescer?
O debate esta aberto. Sabemos que o modelo econômico hegemônico chegou ao seu limite diante da degradação ambiental e do aquecimento global. Continuar crescendo da mesma forma é caminhar para o precipício. A humanidade precisa se reinventar para continuar existindo e deixar que as outras espécies do Planeta também existam.
José Eustáquio Diniz Alves, articulista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
EcoDebate, 20/07/2011
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