Indignad@s. E agora? artigo de Josep Maria Antentas e Esther Vivas
[EcoDebate] A impressionante jornada de manifestações do 19 de junho passado fechou a primeira fase dla “rebelião das e dos indignados(as)” aberta em 15 de maio e marca o início de uma nova, ainda por definir. Em um mês o movimento experimentou uma verdadeira ampliação quantitativa e qualitativa. Sua base social se diversificou social e geracionalmente, e se enraizou por todo o território.
A consistência da jornada do dia 19 confirma a profundidade do movimento emergente e do mal estar social que reflexa. Não estamos frente a um fenõmeno conjuntural, mas sim frente ao começo de uma previsível nova onda de mobilizações, da qual a manifestação de 15 de maio e os acampamentos têm sido a lançadeira e a primeira sacudida. Dois anos e meio depois do estouro da crise, nos quais a apatía e o medo têm sido a nota dominante, os fatos das últimas semanas confirmam que o protesto social voltou para ficar. E, como quase sempre, o faz reaparecendo de forma inesperada, intempestiva e rompedora, surpreendendo aos proprios e estranhos.
Internet e as redes sociais, twitter e facebook, têm jogado um papel muito significativo no desenvolvimento do movimento, não só como ferramenta de comunicação, mas sim também como espaço de discusão, de politização e de formação de uma identidade e um patrimônio compartilhado.
Nestas últimas semanas, temos assistido a uma recuperação da confiança coletiva na capacidade de transformar as coisas. Anos de derrotas e retrocessos e a falta de vitórias que mostraram a utilidade da mobilização têm pesado como uma pedra na lenta reção frente a crise. Mas as revoluções no mundo árabe e, também, a vitória contra banqueiros e governantes na Islandia transmitiram uma mensagem muito clara: “Sim, é possível”.
“A indignação é um começo. Um se indigna, se levanta e depois já vimos”, dizia o filósofo Daniel Bensaïd. Pouco a pouco se vai passando do mal estar a indignação e desta à mobilização. Estamos frente a uma verdadeira “indignação mobilizada”. Do terremoto da crise, surgiu, finalmente, o tsunami da revolta social.
O movimento em curso expressa a radicalização social mais importante, ao menos, desde mais de dez anos quando irrompe o movimento “antiglobalização”. Agora, todavía, a profundidade social e territorial dos protestos, que se desenvolvem em plena crise econômica e social, é maior. Tem um duplo eixo constitutivo inseparável: a crítica a classe política e aos poderes econômicos e financeiros. E estes últimos se aponta como responsáveis da crise econômica, e a primeira precisamente por seu servilismo e cumplicidade com o mundo dos negócios.
Se inspirando na Praça Tahrir, o método “ocupação de praça mais acampamentos” serviu como elemento motriz para o movimento no seu início. Os acampamentos e ocupações de praças não têm sido um fim e si mesmas. Têm atuado simultâneamente como referente simbólico e base de operações, de palanque para propulsar mobilizações futuras, e de porta voz para amplificar as presentes.
O êxito da manifestação de 19 de julho coloca o desafio de como seguir. Quais são os próximos passos ? O movimento necessita aprofundar ainda seu enraizamento territorial e a coordenação de assembléias de povos e bairros, até agora seu principal logro organizativo. Em paralelo, a assinatura pendente é estreitar os vínculos com a classe trabalhadora e levar a indignação aos centros de trabalho, onde ainda domina o medo e a resignação, e poder contestar a política de concertação social que mantém os sindicatos majoritários, o desconcerto dos quais é evidente. Haverá também que seguir trabalhando para definir novas atividades centrales, que permitam unificar desde a pluralidade e fazer convergir objetivos, e para reforçar moblizações concretas, como já está ocorrendo nos casos dos despejos em muitos bairros.
Desde sua irupção, o principal êxito do movimento têm sido o de ter posto fim a passividade resignada e ao desalento social que até agora imperava. Esta semana marcado um ponto de inflexão . Têm sido dias de tempo acelerado e condensado para queles no qual a confortável rotina dos poderes econômicios e políticos se têm visto surpresamente alterada por um novo ator político e social que aainda tem muitas coisa que dizer..
*Josep Maria Antentas é professor de sociologia na Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e Esther Vivas, colaboradora internacional do Ecodebate, participa do Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais na Universidade Pompeu Fabra (UPF). Ambos são autores de Resistencias Globales. De Seattle a la Crisis de Wall Street (Editoral Popular, Barcelona, 2009)
**Artigo publicado en Público (ed. Catalunya), 29/06/2011.
***Tradução Português: Paulo Marques.
EcoDebate, 05/07/2011
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