Estudo sugere que jovens cometem crimes por razões sociais
Jovens infratores não cometem crimes porque têm uma visão distorcida do que é certo e do que é errado, mas são levados a eles por fatores ambientais e sociais. Essa é uma das conclusões do estudo de doutorado Correlação entre grau de psicopatia, nível de julgamento moral e resposta psicofisiológica em jovens infratores, defendido na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), de autoria do psiquiatra Daniel Martins de Barros.
Segundo o psiquiatra, o objetivo inicial da pesquisa era avaliar se existe uma relação entre o grau de maturidade moral dos infratores (ou seja, o quanto eles conseguem discernir o certo e o errado e raciocinar do ponto de vista moral) com o grau de frieza emocional dos mesmos. Os testes foram realizados durante dez meses com 30 internos da Fundação Casa, em São Paulo, utilizando a escala internacional PCL-R, que mede o grau de psicopatia das pessoas. Dentre os jovens, nenhum pode ser considerado psicopata e eles foram comparados dos “menos frios” para os “mais frios”. O pesquisador explica que analisar jovens que estão no mesmo ambiente, com a mesma dieta e rotina facilita o estudo, pois eles são comparados com eles mesmos, o que elimina uma série de variáveis que poderiam interferir no resultado.
Segundo Barros, os resultados mostram que os jovens infratores analisados têm maturidade moral igual aos outros de sua idade, o que significa que o que está levando a maioria deles, ou pelo menos os analisados, ao ato infracional não é uma falta do entendimento do certo e do errado. “O crime não tem uma única causa, ele é multifatorial. Mas parece que na nossa mostra o maior peso é dos fatores não individuais, os fatores coletivos, sociais. Os fatores individuais também influenciam, porque tem um monte de gente no mesmo contexto que não vai para o crime, mas os fatores sociais têm um peso muito importante” , diz o pesquisador.
O estudo, orientado por Geraldo Busatto Filho, também identificou que não há diferença de maturidade moral entre a pessoa “mais fria” e “menos fria” da amostra, ou seja, “nossa pesquisa mostrou que a frieza não interfere com a capacidade de ajuizar, de entender a diferença do certo e do errado”, diz o psiquiatra.
Resposta intensa
Também foi analisada a chamada frieza psicofisiológica, a resposta física do nosso organismo aos estímulos psicológicos. Foram colocados eletrodos na mão dos jovens analisados e observou-se a condutância elétrica da pele depois da apresentação de imagens com conteúdo agradável, neutro ou desagradável. Barros explica que essas imagens são universais, padronizadas internacionalmente.
Os resultados dessa análise surpreenderam o pesquisador, sendo diferentes dos resultados de estudos já feitos: quanto “mais frios”, mais eles demoraram para ter alguma reação diante de uma imagem desagradável de sofrimento, mas suas respostas foram mais intensas. Segundo o médico, os psicopatas têm uma resposta menor à essas imagens, e os “mais frios” da mostra da pesquisa apresentaram um pico de resposta maior.
A sociedade e o infrator
Barros acredita que sua pesquisa ajuda a desmitificar um pouco a questão do jovem infrator. “Eles não são infratores porque são psicopatas, não são infratores porque não sabem discernir o certo e o errado.” Para o psiquiatra, ter isso em mente ajuda na forma com que a sociedade vai encarar e vai lidar com esses jovens.
O médico lembra que é importante desassociar o crime da psiquiatria, pois a maioria dos criminosos não têm nenhum diagnóstico psiquiátrico, e a maioria dos pacientes psiquiátricos nunca comete crime nenhum. “O crime não é doença, não é sintoma de doença, e nem tem uma causa só. Então nesse sentido ele não tem cura”.
Fotos: Marcos Santos e Divulgação
Mais informações: (11) 3069-7929; daniel.barros@usp.br; http://psiquiatriaesociedade.wordpress.com
Reportagem de Mariana Soares, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 29/06/2011
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