Águas Lindas de Goiás: Descaso com ambiente vai deixar cidade ‘inviável’
Município a 50 km de Brasília não tem saneamento e usa água de poço – Estudo mostra que, em 20 anos, crescimento da população fará cidade colapsar; sistema de água no DF será afetado
Uma pesquisa da UnB (Universidade de Brasília) em uma pequena cidade goiana de 160 mil habitantes revelou que o descaso com o ambiente poderá torná-la “inviável” em 20 anos e prejudicar o abastecimento de água no Distrito Federal.
Localizada a 50 km de Brasília, Águas Lindas de Goiás é uma cidade pobre que sofre com o crescimento desordenado: em 15 anos, sua população triplicou, sem investimentos em infraestrutura. Reportagem de Rodrigo Vargas, na Folha de S.Paulo.
Não há rede de esgoto. Quando não correm a céu aberto, dejetos são despejados em fossas improvisadas, com riscos de contaminação do lençol freático “”base da rede de distribuição de água, alimentada por 110 poços.
“O crescimento não foi aliado ao desenvolvimento. A cidade apresenta diversos problemas ambientais”, diz a pesquisadora Camila Guedes Ariza, autora do trabalho.
Além do desmatamento indiscriminado e do assoreamento de áreas de nascentes, o estudo aponta a impermeabilização do solo como fatores de crescente esgotamento das fontes de água.
O sistema de poços, diz a pesquisa, ficará deficitário a partir de 2015.
‘CIDADE-DORMITÓRIO’
Os efeitos da degradação, ainda segundo o estudo, poderão atingir o Distrito Federal. Na região da APA (Área de Preservação Ambiental) do lago Descoberto, que responde por 60% do abastecimento no DF, vivem cerca de 3.000 famílias.
Desde sua fundação, em 1995, Águas Lindas tem se consolidado como “cidade-dormitório”, com moradias mais baratas para quem trabalha no Distrito Federal.
Outro estudo da UnB, feito em 2006, apontou que os “novos candangos” “”migrantes recentes para a região””são em sua maioria nordestinos de origem (55%).
Também há migração: em Águas Lindas, quase 70% dos migrantes afirmam ser ex-moradores do DF.
DESEMPREGO
Vindo de Barra do Rio Grande (BA), Deílton Teixeira de Morais, 29, chegou há quatro meses. Ocupa um cômodo cedido por amigos.
“Lá não tem emprego. Aqui é mais fácil conseguir alguma coisa”, justifica ele, que declara ter experiência apenas como “ajudante”.
A casa em que vive com mais quatro pessoas fica a 500 metros da faixa de proteção da APA do Descoberto. O lixo é depositado em um buraco coberto com madeira. Um filete de água suja escorre pelo quintal.
Na casa de Marivânia da Silva, 32, a fossa fica na calçada da frente, entreaberta. O quintal dos fundos faz divisa com um terreno baldio que é usado pelo vizinhos como depósito de lixo.
A combinação de inchaço populacional com ausência de investimentos foi mensurado na pesquisa da UnB por meio do indicador P.E.I.R (pressão, estado, impacto e resposta),das Nações Unidas.
Até 2025, Águas Lindas deverá ter 270 mil habitantes, segundo a pesquisa. “Se nada for feito, a cidade terá um quadro de insustentabilidade ambiental [em 2030].”
Problema é a demanda, dizem as saneadoras
O diagnóstico da UnB é “fiel à realidade” de Águas Lindas. Mas há perspectiva de “reverter” a degradação ambiental na cidade, diz a Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal).
Em nota, a companhia, que atua por meio de consórcio com a Saneago (Companhia Saneamento de Goiás), diz que haverá investimento em redes de esgoto e reforço no abastecimento de água.
Os problemas identificados na pesquisa, para a Caesb, são resultado de “um processo recorde de crescimento populacional”.
De acordo com a Caesb, as obras da rede de esgoto serão concluídas em dois anos. Sobre a possibilidade de colapso do sistema de poços para abastecimento de água, a companhia diz que o lago Descoberto será utilizado.
Eduardo Afiune, diretor de produção da Saneago, nega que o uso majoritário de fossas sépticas possa comprometer a qualidade da água captada por meio da rede de poços. (RV)
EcoDebate, 28/06/2011
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Olá,
Gostaria de contribuir com o debate, pois sou produtora às margens do Lago Descoberto no lado do DF (Incra 06) e estamos muito preocupados com a qualidade da água do lago nos próximos anos.
Na minha opinião, o Governo Federal deveria intervir no Goiás, fiscalizar intensivamente e frear urgentemente a expansão de Águas Lindas. Pois é incoerente estarmos fazendo um trabalho de PRESERVAÇÃO ambiental no DF e do outro lado do lago, no Goiás, o que vemos é ESPECULAÇÃO imobilíária.
Exemplos de ações que estão sendo implementadas no DF: plantio de 70 mil árvores nativas, às margens do Lago Descoberto; coleta seletiva do lixo; educação ambiental aos produtores e moradores; transição da produção convencional para produção orgânica; etc.
Quanto à população divulgada, já temos conhecimento que há mais de 300 mil habitantes em Águas Lindas, em 2011!
Vamos juntar as forças (Governo, comunidade, produtores, associações) para preservar e cumprir a legislação que protege a APA Descoberto, antes que seja tarde….
Att.
Márcia Rosely (produtora rural)