Flora, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] A flora representa o conjunto de vegetais de uma determinada área e está relacionada com as funções de regulação ambiental, armazenamento de água e energia. A gente adora plantas, nos dão uma sensação de beleza e até segurança, mas os vegetais tem uma função muito mais abrangente. A flora, reflete de forma muito sensível, os conceitos clássicos de fatores limitantes desenvolvidos por Eugene Odum (Ecologia, Ed. Guanabara, 1988).
Variáveis como temperaturas, altitude, disponibilidade de nutrientes no solo e outras, são demarcadas com extrema precisão pelas espécies vegetais que interpretam as condições físicas do meio em que vivem.
Em estudos ambientais, sucessão ecológica é a denominação conferida ao fenômeno que ocorre nos ecossistemas após a destruição parcial da comunidade original. Por exemplo, a derrubada de florestas ou terrenos agricultáveis já abandonados dão lugar a sucessões ecológicas de diferentes espécies vegetais, formando ecossistemas diferentes dos originais e freqüentemente em desequilíbrio.
Neste processo de sucessão, ocorre uma progressiva mudança na composição florística da floresta, partindo de espécies pioneiras, passando por espécies secundárias iniciais ou tardias e chegando nas denominadas espécies climáticas.
Estes mecanismos são responsáveis pela renovação das florestas, através da cicatrização de locais perturbados ou clareiras, que ocorrem a cada momento em diferentes pontos da mata. As clareiras são formadas pela morte natural ou acidental de uma ou mais árvores, resultando em uma abertura no dossel (ou copa) da floresta.
Nestes locais há uma grande mudança nas condições ambientais, tais como aumento da quantidade de luz, da temperatura do solo e do ar, disponibilidade de nutrientes e um decréscimo da umidade relativa, sendo que estas mudanças são tanto ou mais pronunciadas quanto maior for a área da clareira.
As espécies vegetais pioneiras tem crescimento muito rápido, são espécies de madeira leve, muito intolerantes a sombra, com alturas médias de 4 a 10 m, com ampla dispersão de sementes através do vento, atingindo grandes distâncias, com reprodução muito curto, primeira reprodução entre 1 e 5 anos e tempo de vida de menos de 10 anos.
As espécies chamadas de secundárias iniciais tem crescimento rápido, fornecem madeira leve, são intolerantes à sombra, atingem até 20m, tem dispersão de sementes restrita a gravidade ou a poucas espécias animais, reproduzem em 5 a 10 anos e vivem de 10 a 25 anos.
As espécies secundárias tardias tem tempo de crescimento médio, fornecem madeira medianamente dura, são tolerantes a sombre, atingem entre 20 e 50m, tem dispersão média das semestres pelo vento, os frutos são médios a pequenas, reproduzem a primeira vez entre 10 e 20 anos, e tem tempo de vida entre 25 e 100 anos.
Finalmente, as espécies tardias ou florestais propriamente ditas, tem crescimento lento ou muito lento, fornecem madeira dura e pesada, são muito tolerantes às sombras, atingem alturas entre 30 e 60m, tem ampla dispersão de sementes por animais e restrita dispersão de sementes por gravidade. São grandes e pesadas, tem a primeira reprodução em mais de 20 anos, e tempo de vida muito longo.
Este panorama consegue expressar simplificadamente o que se denomina de suscetibilidade das florestas. Estes ecossistemas são muito complexos, tudo leva bastante tempo e por isso temos que ter tanta preocupação com a preservação ambiental e o equilíbrio ecológico, que é o próprio equilíbrio de nossas vidas.
Dr. Roberto Naime, colunista do Ecodebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 28/04/2011
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