Oligopolização: Mercado siderúrgico concentrado prejudica economia
A atividade siderúrgica no Brasil, analisada em pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, apresenta um alto índice de concentração, principalmente no mercado de vergalhões, no qual apenas três grupos empresariais controlam todo o mercado do produto. De acordo com o trabalho do professor universitário Janderson Damaceno dos Reis, as inúmeras fusões e aquisições ocorridas, principalmente após a desestatização do setor no País, contribuíram com o processo de oligopolização, seguindo uma tendência mundial.
“Em uma atividade produtiva altamente concentrada, as empresas podem exercer poder de mercado e desta forma há perdas econômicas para a sociedade como um todo”, ressalta Reis, que é professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em Minas Gerais. O trabalho buscou mensurar a concentração do mercado siderúrgico brasileiro e calcular a perda de bem-estar ocasionada por este processo. Na prática, a pesquisa estudou áreas específicas do setor siderúrgico, como o de aço bruto, laminados, vergalhões e ferro-gusa. O pesquisador coletou informações a respeito do setor nos anuários do Instituto Aço Brasil, além verificar relatórios anuais dos grupos siderúrgicos brasileiros.
Para o cálculo da perda de bem-estar, estimou-se a elasticidade-preço da demanda nos diferentes mercados estudados. “As elasticidades-preços são fundamentais para o calculo da perda de bem-estar, à medida que quanto menor o valor da elasticidade maior o peso-morto ou perda de bem-estar”, explica. O estudo apresentou também o cálculo do peso morto (PM), que quantifica a perda monetária da sociedade devido ao exercício do poder de mercado de uma empresa ou de uma indústria. “Esse índice é de grande importância para os órgãos de defesa da concorrência”, comenta.
Os resultados mostraram que o mercado siderúrgico brasileiro é, de fato, muito concentrado e há o exercício do poder de mercado por parte das indústrias participantes em todas as ramificações analisadas, ocasionando perda de bem-estar para sociedade brasileira. De forma específica, o mercado de produtos laminados e em especial o de vergalhões foram os que apresentaram os mais elevados valores de peso morto. Somente no ano de 2008, o peso morto estimado variou de R$ 6,7 bilhões a R$ 190 milhões, quando considerado as vendas externas, sendo o maior valor no mercado de laminados e o menor valor no mercado de ferro-gusa.
Considerando apenas o mercado interno esta variação, é de R$ 5,5 bilhões (mercado de laminados) a R$ 104 milhões (mercado de ferro-gusa). Os valores referentes ao aço bruto são de suma importância à medida que revelam o peso morto da indústria siderúrgica como um todo (exceto o mercado de ferro-gusa). Em 2008, a perda foi de aproximadamente R$ 6,4 bilhões, que representou cerca de 0,22% do PIB do País.
Perda
Segundo Reis, no Brasil há pouca importação e poucos produtos substitutos do aço, que são fatores que sugerem que a elasticidade-preço da demanda deste produto deva ser baixa. “Além disso, nem todas as siderúrgicas produzem todos os tipos de aço, logo sugerimos que a rivalidade entre os detentores do mercado não seja grande em cada um dos nichos”, observa. “Tais características corroboram com a hipótese de que essas formas não somente tenham elevado poder de mercado, mas também a possibilidade de exercê-lo. Se isso ocorre, há perda de bem estar econômico”.
O mercado de ferro-gusa, menos concentrado em comparação aos demais, foi o que apresentou os menores valores de peso morto, o que era esperado, pois este mercado, apesar de ser dominado por quatro grandes grupos siderúrgicos, é um mercado onde há a participação de inúmeros produtores de pequeno porte denominados guseiros.
“Concluímos que a indústria siderúrgica, nos mais diversos mercados, tem exercido poder de mercado nos anos recentes, ocasionando perda de bem-estar para sociedade brasileira”, aponta o professor. ”Espera-se que este estudo, ao apresentar os valores de perda de bem-estar, possa contribuir para a análise ou para elaboração de políticas públicas relacionadas ao setor em questão.”
A pesquisa de Reis é descrita em tese de doutorado do Programa de pós-graduação em Economia Aplicada, na Esalq, com orientação da professora Marcia Azanha de Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES). O estudo teve fianciamento da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e da UFOP. Durante os estudos houve troca de informações e experiências com pesquisadores da Universidade de Illinois (Estados Unidos), sob orientação do professor Werner Baer, que contribuiu com o seu conhecimento sobre a Economia Brasileira.
Reportagem de Caio Albuquerque, da Assessoria de Comunicação da Esalq/Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 18/04/2011
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