A ação cotidiana dos neoecologistas, artigo de Carlo Petrini
Um número sempre crescente de pessoas considera a escolha dos alimentos como uma participação no trabalho dos agricultores que deve ser remunerado pelos serviços que presta e não pelos bens que coloca no mercado.
A opinião é de Carlo Petrini, chef italiano fundador do movimento Slow Food, em artigo para o jornal La Repubblica, 31-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O que há de novo naquilo que se chama de “neoecologia”? Talvez, a novidade esteja na consciência aquilo que nos ensinaram, como crianças, a chamar de “respeito pelo meio ambiente” é feito de muitas coisas ligadas entre si. Hoje, falamos de sustentabilidade, um conceito importante ligado a uma ideia antiga, o tempo. Ou seja, “por quanto tempo dura”. É uma bela palavra, com uma bela origem: se refere a um pedal do piano, chamado em inglês de sustain, aquele que serve para alongar as notas, para fazê-las durar no tempo. Não é por nada que os franceses traduzem com “durabilité”, capacidade de durar.
A consciência de que aquilo que nos propomos empreender, em nível de comportamentos privados ou públicos ou empresariais, deve poder durar no tempo e em tantos níveis (social, econômico e ambiental) é um dos elementos-chave do ambientalismo de hoje. Há 40 anos, se dizia que a Itália devia visar ao turismo e não à siderurgia. Mas depois não controlava a devastação de território que derivava da interpretação do turismo como pura recepção hoteleira. Assaltar os recursos naturais, fazer lucro privado com eles e não pensar no futuro. Hoje, pensa-se no futuro, porque na ideia de sustentabilidade também está a consciência de que o futuro não é coisa nossa, assim como os recursos naturais. São patrimônios compartilhados, que cabe às gerações em vida preservar para aquelas que virão.
Mas há mais. Para proteger tudo aquilo que queremos desfrutar e transmitir, não há um só nível de ação: são necessárias as grandes determinações dos governos e das leis. Mas são necessários, do mesmo modo, os gestos cotidianos e as escolhas individuais, que nem sempre dão a precedência para ganhar tempo e economizar dinheiro.
Um crescente número de cidadãos, de fato, considera o tempo gasto na escolha dos alimentos como tempo investido no cuidado de sua própria saúde e do meio ambiente, e o dinheiro utilizado para adquiri-lo como uma participação em um ofício, o do agricultor, que deve ser remunerado pelos muitos serviços que presta à sociedade e não só pelos produtos que coloca no mercado. Como, por exemplo, o modelo dos GAS, os grupos de compra solidários.
Certamente, há um lado menos luminoso, em que a palavra “neoecologismo” soa como uma crítica à política “oficial”. Justamente eles que deveriam olhar longe, planejar e proteger são os primeiros que não veem as conexões que são claras a um número crescente de família. Porque o nível dos indivíduos é um dos muitos e hoje é certamente o mais ativo. Enquanto o nível da política, particularmente no nosso país [Itália], é o mais distraído, mais ausente.
Eis porque, além dos movimentos para promover sábios comportamentos cotidianos, se unem aqueles contra a energia nuclear, o consumo do território ou a privatização da água. Não estamos mais no âmbito privado: o movimento chega aonde a política e as instituições claramente fracassam. Trata-se de protagonistas inéditos, quase sempre jovens, rostos novos e sensíveis ao bem comum. Seria desejável que o palco da mídia olhasse para essas pessoas, especialmente por ocasião dos próximos referendos. São preparados, falam linguagens acessíveis e não são inclinados pelas insuportáveis rixas televisivas de uma casta que já acampa em nossas televisões.
É um papel importante aquele que é assumido, de tantos modos e de tantas formas, pelos neoecologistas: crescer como indivíduos e como sociedade e, ao mesmo tempo, procurar limitar os danos criados por uma política inadequada ao momento e aos objetivos.
(Ecodebate, 01/04/2011) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
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