Geadas e meio ambiente, artigo de Roberto Naime
[Ecodebate] As geadas são ocorrências tradicionais no sul do país. Expressam o congelamento do orvalho na superfície, podendo atingir diferentes intensidades. Para ocorrer este congelamento, não é necessário que a temperatura do ar esteja menor do que 0 C. Isto porque na superfície, a temperatura pode ser até 5 C menor que nos estratos mais superiores do ar, dependendo apenas da perda de radiação eletromagnética na superfície.
A temperatura na superfície é chamada de temperatura da relva. Desta forma, com temperaturas de até 5 C pode haver a ocorrência de geadas.
Quando se forma apenas uma camada de gelo na superfície, denomina-se geada branca. E quando a seiva das plantas se congela chama-se geada negra. Este último tipo é muito devastador para a agricultura, mas só ocorre me regiões muito frias, que no Brasil são restritas a algumas cidades serranas do sul.
As geadas negras podem se formar devido à ação dos ventos frios que ocorrem em horários do dia, em que o ar está mais seco. As geadas atingem diferentes intensidades. São fracas quando a temperatura do ar está entre 3 e 5 C positivos. Moderadas quando a temperatura está entre 1 e 3 C. E geada forte quando a temperatura do ar é menor do que 0 C.
Já foram registradas geadas com temperaturas de até 6 C positivos, pois a temperatura da relva ficou até 7 C menor que o ar. Isto ocorre porque, dependendo das condições de umidade relativa do ar, a perda de temperatura na superfície da terra é muito maior.
As geadas são bons indicadores naturais do meio físico. Pólos petroquímicos e grandes conglomerados industriais, que produzem grandes e permanentes emissões de gases em chaminés, podem alterar o microclima de regiões. As geadas são o indicativo destas alterações, pois se não ocorrerem indicam que as emissões atmosféricas permanentes estão aquecendo a atmosfera mais do que seria normal, e estão impedindo as condições físicas para a ocorrência de geadas.
Da mesma forma, regiões muito meridionais e frias podem ser mais afetadas pelos espelhos de água formados pelas bacias de acumulação de grandes barragens. Aumenta a umidade relativa do ar nestas micro-regiões e ocorrem pequenas, mas perceptíveis alterações de temperatura que induzem a maior formação de geadas nestes locais.
Umidade relativa do ar significa a quantidade de água que pode estar solubilizada no ar numa determinada temperatura. No centro oeste brasileiro, a baixa umidade relativa do ar em algumas regiões do ano se torna uma ocorrência de saúde pública. Ocorre devido a falta de chuvas e águas para serem solubilizadas pela temperatura e misturadas ao ar.
As geadas, nas regiões mais frias, são um indicador ambiental natural do meio físico, assinalando umidades relativas do ar mais elevadas ou menores que as esperadas.
No centro oeste brasileiro não são ocorrem para serem usadas como indicadores ambientais. Mas nestas regiões existem outros indicadores, como a pluviosidade, a distribuição das chuvas, a umidade relativa do ar e outros elementos naturais que podem ser monitorados e apresentar indicações importantes sobre o equilíbrio natural nas regiões, permitindo identificar alterações, buscar as causas destas alterações e corrigir os problemas buscando melhorar a qualidade de vida das populações.
Roberto Naime, colunista do Portal EcoDebate, é Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS.
EcoDebate, 24/03/2011
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