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Acidente em usina nuclear japonesa preocupa população de Angra dos Reis

O recente acidente nuclear no Japão reacendeu a polêmica em torno desse tipo de geração de energia e está causando preocupação entre as populações que vivem próximas a usinas. Mesmo em Angra dos Reis, na costa verde fluminense, onde não existe risco de tsunamis ou terremotos, parte da população está ainda mais aflita com um possível vazamento radioativo nas usinas Angra 1 e 2, criadas na década de 70. Uma possível falha humana ou no reator seria o suficiente para uma tragédia na região, que possui cerca de 200 mil habitantes.

O presidente da Associação dos Pescadores do 4º Distrito de Angra dos Reis, José Carlos Pedrosa, diz que, em caso de necessidade de fuga ou de emergência, não há estradas adequadas e o medo ronda o bairro onde mora, Parque Manbucaba, próximo às usinas.

“É preocupante você deitar e saber que tem uma usina praticamente no quintal da sua casa. Apesar de falarem que 10 quilômetros (km) de distância é uma área segura, lá no Japão ampliaram de 10 para 20 quilômetros e, agora, para 30, pois corre o risco de o acidente ser mais grave. Só que, aqui, as estradas não são suficientes.”

O pescador lembrou que as quedas de barreiras são constantes e a Rodovia Rio Santos (BR 101 sul) “vive interditada”. “O acesso mais rápido para se atingir a [Via] Dutra é subindo a serra pela Saturnino Braga, mas tem um projeto de uma estrada de uns 90 km desde a criação da Angra 1 que nunca saiu do papel. Não dá para evacuar com rapidez.”

O assistente da presidência da Eletronuclear, agência que opera as usinas, Leonam Guimarães, explicou que, embora um fenômeno natural como o que ocorreu no Japão seja praticamente impossível no Brasil, não se pode descartar outros tipos de acidentes. Leonam garantiu, entretanto, que o plano de emergência é rigorosamente idêntico ao adotado no Japão, onde o procedimento de evacuação foi realizado com êxito.

“E tenho certeza de que aqui a evacuação poderá vir a ser feita com muito menos dificuldade do que no Japão, pois lá eles estão em meio a um cenário de caos e, além disso, no entorno das usinas do Japão, a população é muito maior do que no Brasil.”

O funcionário da Eletronuclear explicou que na zona de planejamento de emergência, de até 10 km de Angra dos Reis, existem cerca de 22 mil pessoas. No Japão, o número de pessoas que moravam perto das usinas era de, aproximadamente, 80 mil pessoas.

Leonam ressaltou que as instalações das usinas no Japão foram as que mais resistiram ao terremoto e ao tsunami. “Todas as instalações industriais foram afetadas. Milhares de pessoas devem ter morrido de imediato com a explosão da refinaria de Ichibara, de gás natural.”

De acordo com a Defesa Civil do Estado do Rio, há um plano de emergência preventivo, de padrão internacional, que é colocado em prática todo o ano. De dois em dois anos, o “exercício” envolve a participação da população dentro da zona de planejamento de emergência – um raio de 15 km da central. Além disso, os moradores são convidados a participar de palestras. Anualmente, são distribuídos calendários com uma série de instruções e revistas para o público mais jovens. Cerca de 300 a 500 pessoas participam voluntariamente das etapas do plano de evacuação.

O pescador Carlos Pedrosa participa dos exercícios e confirma a distribuição dos folhetos explicativos, mas tem dúvidas de que isso baste para evitar um desastre. “Será que só isso basta? O plano de evacuação realmente existe, mas por onde fugir? Sempre nas reuniões voltamos a falar sobre os problemas das estradas e eles [autoridades] respondem que os projetos vão sair. Mas nunca saem.”

Dono de uma distribuidora de bebidas no bairro de Balneário, a cerca de 30 km das usinas, Magno Célio Pio da Costa reclama da falta de informação sobre os planos de fuga. Ele acha que a divulgação e os exercícios deveriam ser feitos em um raio maior.

“Nunca me entregaram nenhum panfleto explicativo. Só uma minoria participa dos exercícios que são longe daqui. Quem mora no bairro morre de medo. No caso de um acidente, saio correndo pelo mar, nem que seja num toco de madeira, porque pela [rodovia] Rio Santos, cheia de quebra-molas e barrancos, não dá”.

Reportagem de Flávia Villela, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/03/2011


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