Parque Linear: a água como destaque na revitalização de rios no espaço urbano, artigo de Procópio de Castro
[EcoDebate] Os fundos de vales e o entorno dos cursos d’água são considerados pela Legislação Ambiental brasileira como Áreas de Proteção Permanentes – APPs e pela lei não deveriam ser locais de edificações. Nas áreas urbanas a realidade tem sido outra pelo modelo de ocupação do solo até hoje adotado. Normalmente estas áreas são o que muitas vezes sobrou à população sem recurso como área para ocupação, estando então irregular e sujeitas a todos os riscos ambientais imagináveis. Lixo e esgoto têm como destino estas áreas que se tornam, com o tempo, insalubres e repletas de vetores de doenças, sendo então, desprezadas pelos moradores e pelos entes da gestão pública.
Uma das soluções para salvar estes cursos d’água remanescentes nas áreas urbanas de maneira sustentável é a implantação de parques lineares. Estes parques podem solucionar o problema a partir de uma nova maneira de ver a ocupação dos fundos de vales: um espaço onde a água é uma aliada de destaque na solução integrada com os aspectos ambientais, sociais, econômicas e culturais.
Não se pode tratar um parque linear apenas como solução para a área restante pela falta de planejamento do uso e ocupação do solo. Também não se pode entender o linear como um lugar de linhas retas de concreto. Quando isto acontece, a água normalmente é encarada como o estorvo e não como a estrela solução e o resultado são as avenidas sanitárias, tendo as pista de tráfego motorizado como destaque e o rio fechado, aprisionado em gabiões de concreto e similares. Um parque linear tem que ser tratado como a área que ladeia os cursos d’água restaurando sua importância ambiental e paisagística e como espaço de convivência com a natureza.
Claro que o parque linear para cumprir sua função social poderá incluir equipamentos de lazer que atraiam a população e seja por esta considerada um lugar de valor. Estes equipamentos, porém, não podem ser o destaque e o objetivo final. È necessário que estas infra-estruturas sejam encaradas sob a ótica de ferramentas para a educação ambiental e para o resgate dos cursos d’ água como parte integrante da vida das pessoas, promovendo o ‘religare’ com a natureza.
Trilhas ecológicas de caminhadas e corridas, lagos, pontes, fontes, quiosques, decks,praças, anfiteatros e quadras esportivas para serem inseridos devem considerar que eles são o adendo ao ator principal que é o curso d’água ali remanescente. Este curso d água ao ser considerado na sua importância para a vida, e em si mesmo fonte de vida e biota específica, deve receber tratamento para que sejam restauradas as suas funções e características naturais. Mais do que obra de engenharia civil ele necessita de obras da engenharia ambiental, de ações transdiciplinares para aplicação dos conhecimentos da hidrologia, da botânica, da biologia e da ecologia dentre outras.
A fauna e a flora locais devem ter privilégio na recomposição paisagística e dos ecossistemas. Na natureza original estas vegetações compõem cenários de rara beleza que fazem parte do nosso imaginário. Nestes ambientes naturais a fauna encontra refúgio, local de reprodução e alimento e são promotoras da biodiversidade. A recuperação deste modelo natural tem que ser prerrogativa para se aliar ao paisagismo de jardins, recantos bosques, caramanchões, hortas medicinais e aos equipamentos de lazer. Isto significa que se ainda existentes, as áreas que permaneceram naturais devem assim ser conservadas e inseridas como parte do projeto de paisagismo. É só colocar a cabeça para pensar e a solução aparecerá como que natural.
Atividades de mobilização, educação ambiental, de civilidade e cidadania devem estar integradas à sua implantação de forma a conscientizar à população da importância do parque e da necessidade de que determinados cuidados e hábitos devem ser adotados por todos para que o lugar seja “o Parque” – um pequeno paraíso para todos. Um espaço de convivência e lazer em contato com a natureza dentro do espaço urbano.
Esta visão paradisíaca dos parques lineares, não é apena sonho. È uma possibilidade real a partir da mudança da percepção, do imaginário e da mudança dementalidade dos cidadãos. Um espaço como este irá valorizar o fundo de vale e as áreas do entorno. Criará espaço de convivência agradável e promoverá a manutenção da biodiversidade podendo ainda cumprir a função de corredores ecológicos e ser uma ferramenta para a sustentabilidade da vida no meio urbano. Você já imaginou se todos os cursos d’água da sua cidade fossem tratados como áreas importantes e não como terrenos baldios? Se as nascentes fossem respeitadas e consideradas como espaço a ser protegido e reverenciado. Se lagos e lagoas fossem fontes piscosas ou de embelezamento do entorno? Se as cachoeiras fossem junto com os cantos dos pássaros os sons privilegiados para as margens dos rios? Pode pensar. Construa este imaginário e ponha esta idéia para correr entre os seus, mobilize para que estes parques de vida se tornem realidade no seu entorno.
Procópio de Castro, Presidente do Subcomitê do Ribeirão da Mata e Mobilizador do Projeto Manuelzão/UFMG
Conselheiro da APA Carste de Lagoa Santa e dos Parques Estaduais do Sumidouro e do Serra Verde
procopiodecastro{at}gmail.com
EcoDebate, 02/03/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Fundo de vale, vale mais. Vale vida! Esta a tônica que permeou a implantação do Parque Linear do Rio Uberabinha em Uberlândia – MG. Captaneada por professores da Universidade Federal de Uberlândia, a equipe vencedora do concurso público nacional,(98) projetou praticamente o que se descreveu no texto, tornando realidade este imaginário paradisíaco, a princípio
mas, que contempla, na prática, pistas de caminhada e corridas, arborização com espécies nativa, ajardinamento, aparelhos de ginástica, pontes, lagos, ciclovias, praças, estes já implantados (2008 )na primeira etapa de construção, pelo então Secretário de Meio Ambiente Cláudio Guedes de Oliveira, é, sem dúvida uma obra ambiental que contribui de forma singular para a melhoria da qualidade de vida e para a manutenção da biodiversidade, perpassando pela recuperação e readequação ambiental do entorno do curso d’água, ator principal neste constexo. Prevê o projeto numa outra etapa, a ser concebida por decisão política que priorize o meio ambiente, a instalação de quadras esportivas, estações aquáticas, decks e uma estação de cultura que abrigará, lojas, praça de alimentação e um anfiteatro. Se a cultura, ainda incipiente, permitisse um balanço ambiental, teríamos registrado em cifras, linguajar que a maioria prioriza, quão alto foi o retorno, para o município, para a população e para a natureza. Na maioria das vezes, a idiossincrasia dos políticos não oportuniza o resgate ambiental, mesmo que discurssem abertamente que este é vitlal para manutenção da vida. Pontualmente o meio ambiente tem recebido tratamento adequado mas, no geral, o prejuízo continua aumentando, em desfavor dos seres vivos. Sonhar é preciso. Realizar é possível. Só depende de nós. Parabéns pelo artigo. Simples, objetivo e esclarecedor.
Belo artigo, como bela deveria ser a postura dos seres Humanos que, sem nenhum pudor, atiram lixos por todo lugar.Com esta conduta não tem ser que resista.
É preciso passar este rascunho do ser humano a limpo, lavar sua alma com a mais cristallina água …Sim é preciso “passar pelas águas” !!!!!
Bom trabalho.Congratulations.