Memes, uma nova cultura, artigo de Montserrat Martins
[Ecodebate] Se eu disser que aquela mulher do “eu te conheço?”, do Zorra Total, agora está na novela das nove, você talvez lembre de quem estou falando. “Eu te conheço?” é um “bordão”, frase curta que entra na sua mente e fica gravada na sua memória. É um exemplo de “meme”. Você nunca ouviu falar de “meme”, mas sua vida está cheia deles – é tudo que se fixa na sua memória e se difunde, que você mesmo tende a repetir, desde frases feitas até modos de pensar.
É a base do chamado “marketing viral”, a forma de divulgação que domina não só o mundo dos negócios, como tudo ao seu redor, incluindo a política. O comportamento das pessoas num mundo globalizado depende do modo de pensar que repercute nas mídias, incluindo todos meios de comunicação social, com destaque para a internet. Em todo o mundo, hoje, os “memes” estão tomando conta, como a forma de cultura que vai prevalecer no futuro, para o bem ou para o mal.
A rebelião no Egito foi convocada pela internet, em recados replicados milhares de vezes. Claro, existem motivos para isso, mas você pode imaginar algo se reproduzindo tão rápido em tão pouco tempo? Observe que tudo havia começado na Tunísia que conseguiu mudar seus governantes e se espalhou muito rapidamente por vários países árabes do norte africano. A própria eleição de Obama, inimaginável poucos anos antes, teve um “meme” bem claro: “We can” (na política brasileira tinha havido um “Lula Lá” com grande efeito naquela época). Não sei qual foi o “meme” árabe, mas ele está lá, se reproduzindo e contaminando as multidões. Mas esse é apenas um exemplo de meme “com causa social”, a maioria dos memes não tem “causa” relevante, são criações simplemente da “era das comunicações”. A “Forentina, forentina, forentina de Jesus” do Tiririca era um meme, que o tornou conhecido. O próprio nome “Tiririca” é um meme, assim como cada uma das “mulheres-fruta”. Quer dizer, podem ser nomes ou frases, podem ser sérios ou cômicos, ou até pejorativos (como o “rouba mas faz” que diziam do Maluf), o que eles tem em comum é que são “pedaços de memória” (daí o nome “memes”) fáceis de serem lembrados e que se difundem bastante.
Pode parecer bobagem, mas tem consequências importantes na nossa cultura, sociedade e até na economia, como bem detectou Clemente Nóbrega, autor de um livro sobre “Supermentes”, o primeiro autor brasileiro a chamar a atenção para o assunto. Há cerca de dez anos, em matéira de capa da revista de negócios Exame, Nóbrega notou a mudança no padrão de marketing, que ele explicou. Vivíamos na era do “padrão ouro”, até o século passado, em que o que era raro e útil (como as propriedades desse metal) era o mais valorizado. Hoje, o que adquiriu maior valor comercial deixou de ser o com maiores qualidades e passou a ser o mais difundido, o que ele chamou de “padrão Coca-Cola”, marca que se encontra em todas as esquinas. Podemos chamar até de era “Big Brother” no sentido de que o importante não é ter algum conteúdo, é simplesmente “aparecer”. Pode parecer ruim, mas é apenas uma realidade, depende do que fizermos com essa realidade, se a usarmos para algo ruim ou bom. Yes, we can.
Montserrat Martins, colunista do Ecodebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 15/02/2011
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