As fontes, as nascentes e as cacimbas no Baixo Parnaíba Maranhense, artigo de Mayron Régis
[EcoDebate] A busca pela eterna juventude parece um assunto morto e enterrado para a sociedade moderna e prova-se esse destempero com as inúmeras fontes, nascentes ou cacimbas que secaram, aterrou-se ou cercou-se por obra e graça das monoculturas de soja, eucalipto ou cana-de-açúcar e dos criadores de gado.
Afinal por que acreditar em fontes miraculosas que ao menor gole e fontes de sorte que ao menor pedido satisfazem seus anseios se o mundo receita, imediatamente, para saciar a sede que o individuo compre uma garrafa de água mineral ou uma garrafa de refrigerante e que, para recair a riqueza sobre si, compre cartões de jogos?
Não é que um produto industrializado substitua a contento um produto natural ou que um jogo eletrônico enriqueça alguém mais do que faria o seu trabalho de todo santo dia. Diferente de outras épocas, o ser humano se envaidece mais e mais de suas saídas do seu para que outros mundos o atraiam e fica enfurecido porque essa atração o ilude sem que ele se banhe com o luxo que sustenta a armação.
O ser humano que luxa sem as devidas posses bate de frente com a sua realidade e com a realidade dos outros e por isso o luxo assume um caráter despótico sobre as demais formas de despender recursos.
Essas formas se reportam ao luxo como se este governasse as vontades e os sentidos de cada um numa forma de governo do bom-gosto e do bom viver. Quando se refere a algo ou alguém como bom, todos saem convencidos e com a esperança rejuvenescida. Tanto se convenceram que as formas foram recolhidas e expediu-se um alvará de funcionamento para o luxo. Nos seus primórdios, as pessoas encontravam no luxo uma sugestão de paz involuntária do tipo você não precisa mais lutar diariamente como um louco para viver bem.
Mesmo que seja apenas uma sugestão, as pessoas caem nessa lorota sem notar que o luxo envelhece numa rapidez estonteante e aquele que caiu na lorota perde sua juventude fazendo de tudo para que esse envelhecimento material não o alveje também. A sociedade moderna se propôs um paradoxo delicado: suprir a sua volúpia por matérias-primas novas enquanto seus artefatos industriais caem no esquecimento devido a sua duração de menos de dois anos no mercado ou até sete anos como no caso dos plantios de eucalipto.
Ponderar sobre o envelhecimento rápido na sociedade moderna remete um pouco ao filme Blade Runner, do cineasta inglês Ridley Scott. Nesse filme, o personagem de Rutger Hauer visita seu pai esperando respostas para o seu infortúnio que é a morte. Ele teria que se sujeitar à morte, respondeu o pai. Dessa mesma forma, muitos engrenam suas máquinas em vários recantos acalentando uma resposta sincera de um conhecido para este mundo que o aborrece. Seria mais fácil viver longe dali e de todos? Com quanta indiferença ele absorve aquilo que o remenda.
O envelhecimento das forças da natureza e da humanidade no Baixo Parnaíba maranhense desintegra uma série de experiências coletivas e individuais que reclamavam de cada topada que seus pés davam nos caminhos de piçarra e que riam por se banharem várias vezes ao dia nos riachos que desgovernam esses mesmos caminhos quando as chuvas os enchem. Um córrego escurece pelo seu afundar vindo desde a nascente espichando-se até o rio principal.
Mayron Régis, jornalista e Assessor do Fórum Carajás, é articulista do EcoDebate
EcoDebate, 04/01/2011
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