Crônica de Natal, por Juacy da Silva
[EcoDebate] O Natal pode ser visto diferentes prismas. O religioso ou transcendental onde a ênfase é a salvação das pessoas e da humanidade do pecado, onde “Deus se fez homem e habitou entre nós” como diz o texto sagrado do cristianismo. O outro é a dimensão representada pelo estabelecimento de um reino de paz, justiça e solidariedade que deveria advir da presença do Messias e, finalmente, o do consumismo onde a figura de Jesus é substituída pela do Papai Noel e a busca de um lucro momentâneo por parte dos grupos econômicos que exploram de todas as formas tanto o sentimento religioso quanto o desejo de festejar uma data importante no calendário mundial.
Enquanto os cristãos comemoram pouco mais de dois mil anos do nascimento de Cristo e tentam propagar a sua fé, apesar das várias divisões, seitas e sectarismos, a humanidade continua assistindo quase que atavicamente a própria degradação através de guerras, conflitos, violência nas mais variadas formas e intensidade, miséria, desigualdade social, econômica e abandono.
Por ironia a região em que Deus escolheu para que cristo viesse ao mundo, ainda continua palco de um dos mais antigos conflitos, onde dezenas de milhares de pessoas tanto judeus quanto palestinos já foram sacrificadas no altar da incompreensão e da falta de diálogo.
Enquanto famílias estão comemorando o natal com muita fartura, trocando presentes, se abraçando e desejando muitas felicidades e se preparando para um novo ano cheio de alegria e realizações (sonho de toda a humanidade), milhões de famílias estão vivendo em acampamentos na condição de exilados, expratiados, vitimas de perseguições de toda ordem, principalmente política e religiosa e outras tantas não terão sequer um prato de comida para saciar a sua fome.
Para milhões de seres humanos o natal é apenas mais um dia, em nada diferente do que vivem ou vegetam nas ruas, praças e sarjetas abandonados a própria sorte não conseguindo entender a verdadeira mensagem de natal que seria o amor, a compreensão, a justiça, a fraternidade. a dignidade e a igualdade de oportunidades.
Não podemos também deixar de lembrar que enquanto comemoramos o Natal milhões de pessoas pelo mundo afora estão nas prisões, nos leitos hospitalares, nos abrigos de crianças e de idosos, muitos totalmente esquecidos até mesmo pelos familiares. Essas pessoas jamais recebem um presente, uma palavra de carinho e atenção e parece que são verdadeiros párias em um mundo que tanto propaga o crescimento econômico e os avanços tecnológicos e as excelências do cristianismo. Para essas pessoas o natal nada significa!
Oxalá, em meio a tanta euforia também tenhamos pelo menos alguns minutos para refletirmos sobre a realidade de quem não comemora o natal por essas e outras razões. Oxalá um dia o natal seja realmente um momento para refletirmos mais sobre o verdadeiro sentido do que nós, cristãos, comemoramos e possamos transformar nossos preceitos, nossas crenças e nossa fé em uma energia transformadora para o bem coletivo; aí sim, o Natal poderá ser comemorado com alegria verdadeira!
Só assim tem sentido quando dizemos “Feliz Natal”! Algo que vem do fundo do coração e também de nossas ações para construirmos um mundo melhor para todos/as!
JUACY DA SILVA, professor universitário, mestre em sociologia, colaborador de A Gazeta. Site www.justicaesolidariedade.com.br Email professor.juacy{at}yahoo.com.br
EcoDebate, 23/12/2010
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Prof. Juacy, li sua crônica com bastante atenção, mas com profunda tristeza.
É certo que muitos estão nas prisões, nas ruas, nos campos de refugiados e nos hospitais.
Nós outros devemos empregar 15 minutos não para meditarmos sobre eles, pois isso não lhes vai adiantar nada. Que tal empregarmos 15 minutos para irmos a um hospital, a uma prisão e levarmos um presente ou, quando nada, um abraço.
Desculpe se atrapalho sua crônica, mas apenas meditar sobre as dificuldades do outro não vai minorá-las.
Um abraço e feliz Natal!