‘Doenças’ contemporâneas, artigo de Américo Canhoto
Dr. Américo Canhoto
[EcoDebate] Na chamada vida moderna nossa imunidade intelectual está em queda vertiginosa. A falta de higiene mental que favorece a proliferação de doenças psicológicas aumenta a olhos vistos; quando o esperado em razão das medidas tomadas pelas autoridades competentes era o contrário. A soberania emocional despencou sob a ação dos ditadores de conduta, normas, moda, desejos, aspirações e expectativas.
A política de profilaxia da ética comandada pelas religiões mostrou-se inoperante pela falta de qualidade de seus prepostos. Daí, os interesses estão cada vez mais exacerbados. Sob a ação da mídia de efeitos rápidos tudo foi potencializado aposentando de forma precoce da vida útil, muita gente.
A esperança está no desenvolvimento de uma área ainda incipiente da ciência denominada Bioética.
As doenças mentais e emocionais avançam de forma célere nos países pobres em educação e que não investem no raciocínio crítico das pessoas que se tornam cidadãos borderline com facilidade e sociopatas.
Ignorância contagiosa: Doença incapacitante, filha do medo e da preguiça, dois vírus mentais destruidores capazes de impedir a humanização das pessoas.
Muitos estão bastante doentes, cada vez mais doentes. Estão ficando cegos e surdos á voz da razão; aos poucos somos atacados por uma doença insidiosa chamada credulidade (seus portadores tem olhos mas não enxergam; tem ouvidos mas não querem ouvir).
Credulidade bovina esponjosa: A credulidade é uma doença degenerativa que ninguém sabe ao certo de onde veio; se apareceu naturalmente ou se foi criada em algum desses laboratórios inventados pela ciência das mentes brilhantes.
Seu diagnóstico esbarra em tremendas dificuldades técnicas normóticas. O agente que causa a credulidade é um ser mutante; que rapidamente se traveste de um indigente a um intelectual dos mais graduados e poderoso.
Alguns sintomas:
Seus portadores podem aparentar muita saúde intelectual. Maquiam-se com a instrução da mais barata e vulgar à mais sofisticada. Colocam-se adornos de sabedoria. Vestem-se como reis e viajam como príncipes.
Tudo isso; para se empanturrar de mordomias; e para disputar os melhores lugares no teatro da vida ou apenas para não ser excluído. Todos querem sentar-se nos primeiros lugares para assistir à peça da moda. Para isso, para ser admirado e invejado vale tudo: enganar, mentir, corromper, roubar, subornar, qualquer coisa para conseguir o ingresso das primeiras filas.
No entanto, a saúde ético/moral da maioria é precária e, quando passa o efeito do gel desodorante “hipocrisia”, sai de perto que o cheiro é forte.
Quando nos despimos dessas vestimentas e máscaras não conseguimos ficar próximos uns dos outros nem por breves momentos. Nem olhar no espelho da consciência.
Exploração intelectual: Doença muito parecida com a credulidade.
O diagnóstico diferencial embora seja simples, exige muito treino; mesmo para mentes ainda não tão empobrecidas. Quando se trata de vacinar bicho que pensa contra bicho que não pensa, quase sempre dá certo.
Mas;
Em se tratando de ser humano nem tanto. Aí, o bicho pega; pois, palavras exprimem idéias, conceitos, fatos; mas sempre estão sujeitas a interpretações tanto objetivas quanto subjetivas tanto pela mente de quem se expressa quanto pela de quem ouve.
Explorados e os que se deixam explorar são parasitas uns dos outros. Difícil saber quem é quem; são muito parecidos; quase do mesmo tamanho, todos tem cabeça tronco e membros, olhos ouvidos, nariz e garganta, mais ou menos pêlos ou penugens. Até falam com certa desenvoltura; alguns até conseguem se comunicar com os outros de forma clara e até quase lúcida.
Esta não é uma doença tão recente, embora não atacasse com esta intensidade e virulência. Sempre foi assim, uns pensam mais que outros e tentam vender-lhes sua forma de enxergar as coisas. Revendem suas interpretações para satisfazer seus desejos e até as suas necessidades mais desnecessárias.
Cuidado, pois, podemos estar contaminados, sem apresentar muitos sintomas; daí, antes de ficarmos diagnosticando as pessoas como preguiçosas, é preciso que se dê o devido desconto; os que pensam mais, usam de muitos ardis, principalmente, exploram o medo e a preguiça da maioria; às vezes, chegam ao terrorismo psicológico para vender e valorizar seus produtos. Ou então, mentem descaradamente sobre as vantagens, escondendo os perigos e os riscos (vale a pena rever todos os conceitos de ontem e de hoje de mídia e marketing).
Irresponsabilidade como efeito colateral: A Natureza “aprontou” com o candidato a homem; caso contrário a vida não teria nenhum sabor. Dotou-o com a possibilidade de desenvolver a capacidade de escolher, decidir; o que, sempre implica numa unidade ou conjunto de causa e efeito. Toda decisão humana sempre tem um preço, um custo a pagar ou a gozar.
O tratamento preconizado pela ciência da educação para a credulidade e a exploração intelectual, traz como efeito colateral a alergia á responsabilidade.
Paradoxite migratória: A intoxicação intelectual e emocional criada pelo excessivo consumo de paradoxos deteriora o sistema nervoso. Alterando o estado de consciência, faz com que as pessoas pensem uma coisa, falem outra e, executem o que não corresponde ao que pensaram nem ao que falaram…
O agente doentio da mesma família chamado “intoxicação paradoxal” cria uma doença mais complexa chamada cretinização intelectual, doença perigosa que pode destruir a capacidade de humanização de pessoas e de coletividades inteiras até por milênios ou um espaço de tempo que não pode ser contado nem no relógio nem no calendário.
Culturite Tradicional crônica: Um dos agentes mais devastadores da evolução humana.
Sua capacidade de perpetuar-se é ainda inimaginável para a maior parte de nós; Pois, pode se conservar durante milhares de anos; ou milhões? O vírus da moda; essa é a coisa mais mutante que existe, e que pode ser propagada até por via genética. Não se sabe ainda, suspeita-se apenas, como é que algumas pessoas conseguem apresentar sintomas dessa doença até antes de nascer.
Essa coisa infecciosa até parece pensar. Ela se enfronhou de tal forma no mapa genético da espécie, que é capaz de controlar a mente das pessoas.
Tratamentite ou Panacéia: Uma das experimentações humanas mais contagiantes e doentias é a panacéia. Um troço, um vírus, uma enzima sabe-se lá.
Cruzamento da credulidade com a preguiça com alguns genes da esperteza e da astúcia, pressurizada com o medo e a crueldade resultou num bichinho cruel porque parece pensar e que realimenta a ciência da cultura da doença disfarçada de sanidade.
Banalização energúmena: Essa doença midiática é uma das que mais se espalha; quase que, com a velocidade da luz.
O estudo de seus sintomas explica como avacalhamos com todos os conceitos simples tentando torná-los simplórios. Pelo fato de estarmos desprotegidos, nosso sistema imunitário da razão não funciona; daí, não poderíamos escapar da banalização vacinal contra essa midiática doença. Para que tudo continue na mesma: hábitos, vícios, tipo de comportamento…, busca-se uma vacina. Seu principal aliado é um fungo que pode ser usado de forma benéfica chamado: mídia que se alimenta de corporações.
Desumanização: Embora não sejam letais, de forma geral, essas doenças transformam as pessoas em zumbis; desumanizam.
Há solução?
Continua…
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 08/11/2010
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A forma de tratar, usar as palavras é incomensurável.Brilhante!!Sem palavras, parabéns!!!!!!