Vamos nos preparar para o fim do mundo (do petróleo), artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Fonte: Sweetnam, DOE, April 2009
[EcoDebate] Os aumentos do preço do petróleo, no século passado, ocorreram em função de crises políticas, como em 1973 (guerra do Yon Kippur) e 1980 (guerra do Irã/Iraque) e não em função da escassez do produto. Mas o aumento no preço do petróleo, que ocorreu a partir de 2004, foi o resultado de um excesso de demanda em relação à oferta. Ou seja, o crescimento da economia mundial impulsionou a demanda de petróleo e a oferta do óleo não conseguiu acompanhar o ritmo da procura. Novas prospecções e o descobrimento de novas reservas, como em águas profundas, conseguem elevar um pouco a oferta, mas a um preço cada vez mais elevado. A crise econômica mundial, de 2009, reduziu a demanda mundial do petróleo e os preços cairam. Mas a retomada do crescimento econômico, em 2010, e a perspectiva de um novo ciclo de crescimento econômico devem aumentar o hiato entre demanda e oferta de petróleo e fazer o preço subir novamente.
Segundo o site Climate Progress, a produção mundial de petróleo começou a bater no teto em 2008, quando a demanda mundial de petróleo ultrapassou o abastecimento. Com apenas uma quebra de 2% da oferta em relação à demanda, o petróleo disparou para US$ 147 o barril, naquele momento. O Global Energy Systems Group concluiu que o mundo realmente chegou “Peak Oil”, em 2008, e a produção mundial de petróleo começará a declinar em breve. Novos investimentos sozinhos não podem resolver o problema quando as taxas de declínio dos campos existentes estão se acelerando. Parece não haver dúvidas de que a era do petróleo barato acabou, e que “nós temos que sair do petróleo antes de que o petróleo nos deixe”.
Crescem as expectativas de que uma retomada do crescimento econômico mundial pode ser sufocada pelo aumento dos preços do petróleo, a níveis exorbitantes. Evidentemente, preços maiores viabilizam a exploração de novos campos mais profundos.
Porém, um estudo do Ipea, para o Brasil, mostrou que o custo de extração do petróleo triplicou em cinco anos. A alta reflete a escassez mundial de equipamentos e serviços e exploração de áreas mais inóspitas e profundas. O incremento de custos ocorre, inclusive, para definir novas práticas dentro da indústria que venham a garantir um grau de confiabilidade maior, para evitar um desastre como esses que ocorreram no Golfo do México e no porto chinês de Dalian, ambos em 2010.
O aumento do preço do petróleo, por um lado, representa um desafio, mas também uma oportunidade. Os países e as empresas que tentarem continuar fazendo suas atividades da maneira antiga, dependendo do petróleo barato, vão experimentar dificuldades graves. Porém, aqueles que se prepararem agora estarão mais capazes de resistir às tempestades vindouras e para ver o arco-íris do outro lado, fazendo uma transição para uma nova matriz energética. A Alemanha, por exemplo, já definiu que eliminará a utilização de combustíveis fósseis até 2050, contando, em seu território, com 100% de energia renovável, na metade do atual século.
Portanto, para acelerar a transição da matriz energética, os governos precisam estabelecer uma lei fixando um preço sobre as emissões de dióxido de carbono, que são despejados sem qualquer penalidade sobre a atmosfera. Esta é uma condição essencial para o deslocamento do investimento privado e público para fontes mais limpas de energia.
O mundo do petróleo barato e abundante já acabou e daqui em diante a volatilidade vai ser maior e os preços tendem a crescer no médio e longo prazo. Os países que ficarem parados vão sofrer as consequências de um petróleo caro e dos altos custos do aquecimento global provocado pela emissão de gases de efeito estufa. Porém, aqueles que se prepararem para o fim do mundo do petróleo e investirem em energias renováveis e não poluidoras, poderão alcançar um novo mundo, tendo, pela frente, um futuro brilhante e um horizonte limpo e azul a ser conquistado.
Referências:
Peak oil production coming sooner than expected. Climate Progress.
Extrair petróleo vai custar ainda mais. Ipea, RJ, 01/06/2010.
José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
EcoDebate, 27/07/2010
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