Agressão da Polícia Federal aos Tupinambá: Entidades se solidarizam e demonstram apoio ao cacique Babau
Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau, já está na Superintendência da Polícia Federal, em Salvador. Ele foi detido na madrugada desta quarta-feira (10) durante ação violenta da Polícia Federal (PF). No momento de sua prisão, ele estava em casa, na comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro, no município de Ilhéus (BA).
Minutos antes de sua prisão, Babau recebeu um telefonema, o que para a comunidade foi uma armadilha para identificar a casa do mesmo, pois logo em seguida alguém gritou seu nome e bateu na porta de sua casa. De acordo com depoimento à Polícia Federal de Ilhéus, na tarde de ontem, ao abrir a porta ele foi abordado por duas pessoas que portavam armas. Não conseguindo identificá-las e com medo de se tratar de um seqüestro travou com eles luta corporal. Somente depois os policiais se apresentaram como agentes da Polícia Federal.
A ação da PF aconteceu por volta das 2h40 da manhã, no entanto os agentes só chegaram com Babau à delegacia de Ilhéus entre 6h30 e 7 horas da manhã. Em depoimento, ele disse que antes os policiais pararam para lanchar em um lugar conhecido como Posto Flecha e em outro local, onde há caminhões e guinchos desativados, para esperar amanhecer e poderem justificar a ação arbitrária que realizaram.
Ida para Salvador
No momento de sua chegada à Superintendência da Polícia Federal de Salvador, na noite desta quarta-feira, Babau recebeu o apoio de amigos, familiares, entidades que lutam pela garantia dos direitos humanos e lideranças indígenas da região. Marta Timon Frias, diretora executiva da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ), informou que eles não conseguiram falar com Babau, mas que pelo vidro do carro em que estava, ele sorriu e afirmou que estava bem.
Hoje, Babau receberá visitas de representantes de organizações indígenas e do deputado federal Luís Couto (PT/PB). O grupo Tortura Nunca Mais também irá à Superintendência da Polícia Federal visitar Babau e levar apoio às suas lutas pela garantia dos direitos de seu povo e dos demais povos indígenas do país.
Solidariedade
Diversas manifestações de apoio estão sendo enviadas aos familiares e ao próprio Babau. Para a promotora de Justiça de Camacãn, Cleide Ramos, a ação da PF apresenta diversas ilegalidades, como execução da prisão durante a madrugada e sem apresentação do mandado de prisão e impedimento do acesso da família à Babau. “Esses fatos são completamente ofensivos às garantias penais dos tratados de direitos humanos”, declarou. Ela ainda lembra que durante visita realizada à comunidade em 2008, produziu relatório onde propõe ações mais ofensivas contra tais abusos.
Carlos Eduardo, representante do Sindicato dos Bancários do Extremo Sul da Bahia, afirmou que mais essa ação violenta da Polícia Federal não vai somente contra o movimento indígena e suas lideranças, mas fere frontalmente os movimentos sociais do país e que, por isso, se solidarizam com os Tupinambá.
“Proponho que representações sejam apresentadas à Corregedoria da Polícia Federal, à Secretaria de Segurança Pública da Bahia, à Comissão de Segurança Pública da Câmara, à Secretaria Nacional de Segurança e ao Ministério da Justiça, além da divulgação de nota pública à imprensa”, disse.
Em nota divulgada na tarde de 10/03, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também manifestou repúdio a ação truculenta e arbitrária da Polícia Federal. “Não se pode admitir e muito menos aceitar que a Polícia Federal utilize-se de expedientes próprios do período da ditadura militar na sua relação com o povo Tupinambá”, afirmou a entidade.
Nota do CIMI, publicada pelo EcoDebate, 15/03/2010
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