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Blowin’ In The Wind: Itaipus de cataventos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Infográfico: The Economist, in Blown away - China and America added most wind capacity in 2009
Infográfico: The Economist, in Blown away – China and America added most wind capacity in 2009

[EcoDebate] A Usina Hidrelétrica de Itaipu é uma grande obra de engenharia que, além do tempo dedicado ao projeto e aos acertos políticos entre Brasil, Paraguai e Argentina, demorou mais de uma década para ser construída e entrar em operação. A capacidade instalada de geração da usina é de 14 gigawatts (GW), fornecendo 90% da energia consumida pelo Paraguai e cerca de 20% da energia consumida pelo Brasil. Somente a Usina de Três Gargantas, na China, é maior e possui capacidade de geração de 18 GW (1 gigawatt equivale a 1 bilhão de watts ou a um mil megawatts – MW). A energia hidrelétrica evita a queima de combustíveis fósseis e o Brasil, por exemplo, teria que consumir 434 mil barris de petróleo por dia para gerar em usinas termelétricas a potência de Itaipu.

Pois bem, várias “Usinas de Itaipu” vão ser “construídas” anualmente no mundo até 2020, não por meio do aproveitamento da força das águas, mas sim da ventilação atmosférica. Em 2007, o mundo possuía uma capacidade instalada de energia eólica de 93,8 GW e passou para 120,8 GW em 2008, atingindo 157,9 GW em 2009 (aumento de 31% em um ano de crise mundial). Portanto, já existem mais de “11 Itaipus” produzindo energia dos ventos e, apenas no ano passado, o mundo colocou em funcionamento o equivalente a mais de duas hidrelétricas de Itaipu em energia eólica. No Brasil, o crescimento relativo foi de 77,7% em 2009 (acima da média mundial), mas o crescimento absoluto ainda foi pequeno, pois a capacidade instalada do país chegou apenas a 606 megawatts (MW), contra os baixos 341 MW de 2008.

Somente Europa, Estados Unidos e China, no ano de 2009, aumentaram a capacidade instalada de energia eólica em cerca de 10 GW cada. A Europa já possuía uma capacidade instalada de 65 GW em 2008 (quase 5 Itaipus), o que evitava a emissão de 91 milhões de toneladas de CO2. A partir de 2010, Europa, China e EUA – individualmente – vão aumentar anualmente a capacidade de geração de energia eólica acima de 14 GW (que é a potência de Itaipu). Assim, nos próximos anos, em várias partes do mundo, diversos “cataventos” serão instaladas com potência maior do que a capacidade da usina de Itaipu.

Para 2020, unicamente a Europa (EU) está projetando uma capacidade instalada de energia eólica de 230 GW, equivalente a 17% da demanda total de eletricidade da EU, o que evitará a emissão de 333 milhões de toneladas de CO2 por ano, contribuindo para mitigar a emissão de gases de efeito estufa. A Europa, a China e os EUA, pressionados pela ampla mobilização dos movimentos ambientalistas, estão caminhando no mesmo sentido de buscar o aproveitamento da riqueza dos ventos como fonte limpa e renovável de energia.

Vários outros países do mundo, como a Índia, estão investindo no aproveitamento das suas imensas correntes de ar. O avanço da energia eólica tem um enorme potencial de geração de empregos decentes e verdes, sendo que a inovação tecnológica para a substituição dos combustíveis fósseis deverá gerar novas oportunidades e efeitos positivos para toda a economia. A despeito da competitividade e das disputas entre nações para o melhor posicionamento no comércio internacional, a contribuição para reduzir os danos do aquecimento global e criar novas fronteiras energéticas pode ser quase incomensurável. Para isto a energia eólica precisa se consolidar em um arcabouço de desenvolvimento que privilegia o bem-estar e não o simples acúmulo de bens materiais.

O aumento da produção de energia renovável e limpa não quer dizer que se deve abandonar os esforços para se reduzir os desperdícios, o consumo per capita e a melhora da eficiência do seu uso. A energia eólica, como fonte renovável, é útil para acelerar o fim da era do petróleo e do carvão e não para ser uma alternativa de viabilizar o elevado consumo conspícuo que predomina nas sociedades afluentes e nas camadas ricas do mundo em desenvolvimento. A energia eólica será principalmente útil para uma futura sociedade do conhecimento que terá como base a produção de bens e serviços imateriais.

Neste sentido, a produção de energia eólica, especialmente aquela sob controle das comunidades locais, pode ser uma das respostas mais adequadas para se garantir o desenvolvimento humano e sustentável no século XXI. Mesmo os pessimistas e os descrentes podem concordar, em grande medida, com os versos de Bob Dylan:

“The answer, my friend, is blowin’ in the wind,
The answer is blowin’ in the wind”.

Referencias:
GWEC – Global Installed Wind Power Capacity

China Challenging the United States for World Wind Leadership – J. Matthew Roney –

China and America added most wind capacity in 2009

José Eustáquio Diniz Alves, Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, é colaborador e articulista do Ecodebate. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 05/02/2010

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