‘Nóis capota mas num breca’, o desastre planetário começa de intimidade de cada um, artigo de Américo Canhoto
Imagem: Stockxpert
[EcoDebate] Muito se comenta hoje a respeito do desastre planetário que se avizinha; alguns especialistas até argumentam que, ele é inevitável e que não tem volta – os mais pessimistas afirmam que viveremos dias de fúria da natureza: desastres naturais, criação de desertos, falta de água, fome, doenças cada vez mais estranhas e morte em massa…
Cada um de nós é dotado de um artefato de progresso chamado inteligência sob a direção de um comando, o livre arbítrio; que possui várias teclas: vontade, desejo, conhecimento e ação; um livre arbítrio sozinho não é capaz de mudar o curso do desequilíbrio em andamento em Gaia; mas bilhões de livre arbítrio somados podem com certeza mudar o curso do desastre em andamento – O problema é: Como reunir essa liberdade de pensar, sentir, agir e direcioná-la para um mesmo foco inteligente e responsável? – Provavelmente somando de forma construtiva; levando as pessoas a pensar de forma clara e crítica sem dourar a pílula; sem tapar o sol com a peneira.
Se analisarmos o comportamento da maioria de nós; realmente; é fácil encontrar motivo para preocupações quanto ao futuro; pois, a aceleração do campo magnético do planeta nos levou a um comportamento cada dia mais maluco e nada responsável; quase coletivo.
O grande desastre coletivo que se avizinha; primeiro na grade energética; depois no físico; não tem data marcada para acontecer; já está acontecendo; é a somatória de cada uma das derrapadas e capotadas na individualidade – bilhões de pequenos desastres íntimos criam a falência da humanidade enquanto raça cósmica – esse é o problema real – Mas, para piorar, os arautos do desastre dos seus nem sempre confessáveis interesses; ás vezes até disfarçados de amor ao próximo – põem mais lenha na fogueira do medo; ao considerarem desastre; o que para a vida é natural; exemplo, quem disse que morte é problema? – Para natureza quase sempre é solução. O fim da aposentadoria é desastre? – Claro que para a natureza; não – pois o que acontece com um colega nosso de evolução; um leão; por exemplo; se ele resolve se aposentar não é preciso ser gênio para adivinhar o seu futuro (leão só se aposenta em ZOO – serviu a carapuça?). Quem disse que o final do sistema financeiro atual é problema? – Claro que ele é o responsável pela maioria dos sofrimentos coletivos da atualidade – Então se desaparecer e for substituído o que há de tão ruim? – Parecemos condenados que serão decapitados sem culpa aparente – mas, na hora do vamos ver; ficamos com dó do carrasco – O queremos? – Tomar o lugar dele? – Com certeza…
Identificar o que vem pela frente é fácil – basta prestar atenção ao que ocorre conosco, com os nossos e com os em torno; para deduzir para deduzir o final do filme: “Assim caminha a humanidade” – reescrito.
Banque o detetive dos chamados desastres íntimos dos outros para tentar resolver os seus: – E aí, tudo bem? – Ainda não sente aquele cansaço infernal? – Como vai o sono? A memória? A coluna vai bem? Não tem ainda nenhuma dorzinha pelo corpo? Diabetes? Pressão arterial em gangorra? Ainda consegue emagrecer? Como vai a auto – estima? Crises de urticária? Ninguém na família pirou? Ah! Só depressivos e em pânico? Só dois desempregados na família? Ninguém com o nome no SPC? Só três mortes na família no ano passado? – Ah! Está apegado em Deus – que bom; menos mal! – quem sabe possa realizar algo de útil – apenas não acrescentando seu desastre pessoal ao coletivo já está bom demais…
Constrangido sou obrigado a concordar em parte com os arautos do desastre coletivo; claro que segundo meu ponto de vista e não o da maioria.
Um dos focos da minha preocupação quanto ao final do filme: “Assim caminha a humanidade” – Aqui entre nós a filosofia de vida é:
“Nóis capota mas num breca”…
Nos excessos; vícios; destruição dos recursos naturais; enriquecimento lícito ou até ilícito; desmatamento; ocupação de áreas de risco; criação de escândalos no gerenciamento de recursos públicos – e claro; da destruição da própria saúde e recursos que a natureza nos dotou – Tudo em nome do ser vitorioso; rico; poderoso; feliz; aproveitar a vida ao extremo; enfim.
Quando se pára para pensar um tiquinho; a postura do sujeito “marrudo” e teimoso parece sem noção, até irresponsável.
No entanto, a filosofia do “nóis capota; mas num breca” como forma de comportamento cotidiano baseado na filosofia do quanto mais melhor; bem espelha a nossa posição frente a muitos acontecimentos na estrada da vida.
Não aprender a resistir aos mais imediatos interesses sem parar para avaliar as possíveis conseqüências, é um antigo e sério problema. Não podemos alegar ignorância, pois sabemos o que fazer; por exemplo, quem ainda não disse ou ouviu estas simples e sábias colocações: – “a pressa é inimiga da perfeição!” – “o apressado come cru!”, etc. Todos nós sabemos: para que uma tarefa seja bem executada é preciso realizá-la com competência e calma.
O que nos leva a fazer ao contrário?
Algumas leis da física quando recheadas de humor e conteúdo ético/moral podem ajudar na queda da ficha da compreensão de leis que regem o progresso humano.
De tanto elas se apresentarem teimosamente em nossas vidas até visualizamos algumas, mas fazemos questão de ignorá-las. E essa atitude nos sairá sempre muito cara e frustrante.
Analisemos uma dessas leis; a da inércia.
A cada minuto em algum lugar do mundo alguém está se referindo à aceleração das experiências:
– Pisaram no acelerador!
– A cada dia tudo passa mais rápido!
– A gente não tem mais tempo para nada!
– Você fica velho e nem percebe!
– Que coisa esquisita; eu não posso sair de férias que fico doente!
– Porque depois que tudo ficou bem eu é que fico mal?
– Será que não posso parar e descansar um pouco?
– Parece praga de urubu quando relaxo tudo acontece comigo!
– Estarei viciado em adrenalina?
Percebemos a aceleração; e até certo ponto os riscos que ela traz quando mal administrada; depois adoramos colocar o nome de fatalidade nos efeitos de escolhas que podem ser evitadas com relativa facilidade; tal e qual os atuais “desastres” como alagamentos; deslizamentos…
É comum que a ação da inércia se resuma a frases jogadas e a escritos no para/choque traseiro dos veículos automotores: mantenha distância; mais comum ainda que apressados a desobedeçam ao dirigir, fato que a tornou também uma lei de trânsito. A sinalização é clara: evite a colisão traseira, mantenha distância do veículo da frente.
O desrespeito a ela é causa de muitas mortes, não apenas no trânsito; nos desastres previamente anunciados como contaminação de mananciais; deslizamentos; enchentes – Mas, quando focamos as pessoas, principalmente nas mortes súbitas causadas por acidentes cardiovasculares como enfartes e derrames cerebrais. A maior incidência desses problemas é no repouso súbito, que funciona como uma brecada, especialmente após fases de grandes acelerações. Vivemos na época do tudo a jato, tudo para ontem, do não ficar para trás, e em conseqüência disso, de grandes perigos para quem se descuida, e, sai correndo com seu veículo físico (organismo) sem habilitação.
Vivemos na era dos detalhes, prestemos mais atenção neles e respeitemos as leis da vida. Nossa própria agradece.
A importância de respeitar a lei da inércia no cotidiano, esse é o nosso assunto.
Mudanças súbitas no estilo de vida nem sempre são opções planejadas, costumam aparecer no embalo da vida; nos “rachas” (prá ver quem é o maioral) feitos na calada da noite dos interesses – eles são muito mais desdobramentos de opções do que algo escolhido a dedo.
Muitos acidentes de percurso ocorrem porque andamos por aí meio sem destino certo, e até nos atropelando uns aos outros; porque não sabemos direito quem somos nem quem nos comanda e dirige. Alguns até apelam para o sobrenatural como na filosofia dos para/choques “dirigido por mim guiado por Deus”.
Alguém disse de forma resumida que temos um corpo, uma mente e uma alma; um detalhe que importa: Quem disse e quem ouviu? – Pois todos fizeram questão de imaginar que são entidades dissociadas cada um com seus problemas; problemas mentais problema da mente; os do corpo são dele e os da alma são dela ou até de Deus.
Pensando assim e agindo segundo esses princípios: vai sobrar para o coitado do corpo físico; inevitavelmente – Destino? – caixão; ou melhor; vala comum.
“Quando a mente não pensa o corpo padece”, todo mundo já ouviu esse ditado; mas nem parou para pensar cinco minutos nele. Nas aceleradas e nas brecadas da vida o corpo é a maior vítima e a mais indefesa. Claro que determinadas pessoas em determinadas situações apresentam problemas mais evidentes e graves no campo da mente e das emoções.
Alguns acidentes de percurso comuns:
Práticas esportivas que se interrompe de repente:
Quem praticou esportes durante a infância e a juventude toda e de repente espremido por compromissos de estudo e profissionais os abandona, está candidatando-se a pé na cova.
Também é comum que os que se excederam na carga dos exercícios, devido a uma lesão muscular ou articular sejam obrigados a ficar de molho; pior ainda para aqueles que interrompem as atividades esportivas e passam a dedicar-se ao levantamento de garfo e de copo.
Aposentadoria repentina ou não planejada:
Os que além de se aposentarem da profissão também o fazem do pensar, tomar decisões, planejar, estudar; entram na área de risco, e se somarem isso, ao mau uso do corpo, candidatam-se a adoecer rapidamente tanto no físico quanto na mente.
Pessoas de ritmo acelerado com os limites extrapolados; ou não; devem evitar uma vida de ratinho de laboratório presos na rotina que aliena, adoece e mata ou deixa os familiares malucos. Na relação familiar; muitas mulheres começam a entrar em pânico quando o marido está próximo de se aposentar; pois elas terão que reestruturar toda sua rotina, e logo começam a adoecer ou a se deprimir.
Transferências de trabalho:
Certas atividades profissionais acabam viciando as pessoas em excesso de adrenalina e outros mediadores; e quando tudo fica calmo muito de repente há o perigo da capotada.
Separações:
Relacionamentos tumultuados e que exigem muito das pessoas algum tempo depois de rompidos podem desencadear fortes estragos, em todos os envolvidos.
Perdas:
Quando perdemos de forma súbita coisas ou pessoas que achávamos que nos pertenciam, logo após passamos a correr risco de doenças e morte.
Somos capazes de apresentar uma resistência heróica enquanto cuidamos de uma pessoa muito doente que exige cuidados constantes, ás vezes por muitos anos, e quando a situação se resolve (quase sempre com a morte do doente) toda aquela fortaleza desaba e o grande vazio é preenchido por doenças do corpo ou da mente.
Co-dependência:
Não vivemos a própria vida e essa atitude aprendida no contexto da educação formal, nos põem em risco quando somos abandonados, traídos ou enviuvamos.
Invenção de problemas:
Grande parte do tempo, nós corremos atrás de soluções para problemas que só existem na nossa cabeça. Ficamos imaginando possíveis contratempos e dificuldades que nos impedirão de abraçarmos o mundo. Esse tipo de atitude desgasta e, subitamente, quando acordamos do cochilo e caímos na realidade somos capazes de morrer em vida ao nos tornarmos depressivos, angustiados ou em pânico.
Cair na real após um turbilhão de expectativas:
Viajamos na maionese por muito tempo; e um dia escorregamos e damos de cara com nós mesmos, nossas possibilidades com suas frustrações e desenganos; vale a pena furar um balão mágico de cada vez para que não nos machuquemos muito.
Não aprender a somar:
Algumas pessoas apresentam TOC para endividar-se.
Muitas são as situações capazes de gerar desastres coletivos que estamos cansados de saber; mas, nóis capota; mas num breca.
Remédios?
Na individualidade alguns bem naturais são meio amargos; mas, funcionam bem; melhor funcionavam; pois nada mais será como antes: doenças; sofrimento; perdas… O santo remédio: pensar bem antes de agir.
No coletivo: violência; agressões; roubos; prevaricações; guerras.
Remédio: pensar bem antes de fazer ao outro o que não gostamos que façam a nós.
Um bom exercício é dizermos para nós mesmos; a todo momento: – Baixa a bola Zé! Juízo Mané! – Desacelera! – Aprender a pilotar a máquina corporal! – Faz manutenção! – Faça o favor de não acrescentar seu desastre pessoal ao dos outros.
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 29/01/2010
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