O individual e o coletivo, artigo de Maurício Gomide Martins
Imagem: IHU
[EcoDebate] Um eminente ambientalista expôs em seu blog uma situação paradoxal que é a constituída pelo que os ambientalistas pregam e pelo que praticam. Aventa ele que o raciocínio do ambientalista se dirige sempre ao coletivo, fazendo recomendações ecológicas que não são seguidas pelo próprio. Notamos que se louva ele na pessoa do ambientalista atualmente em evidência, o Sr. Al Gore que, pessoalmente, despende uma soma considerável de recursos naturais para manter uma vida plena de confortos e esbanjamento.
Fica ele na dúvida: “Como o individual vai conscientizar outro individual se um outro individual consome um absurdo? De que adianta para aquele individual abdicar do seu conforto material e terreno se outro individual pouco se importa com isso? Gasta, consome e consome?”
É procedente e altamente lógica sua pergunta. Fizemos uma análise dessa situação incoerente e, depois de longa reflexão, encontramos uma explicação. Baseei minha pesquisa em meu próprio procedimento. Coloquei-me na mente do questionador e analisei com isenção o paradoxo da situação. Tenho apresentado fartamente argumentos, indicando que a vida superior do planeta está na iminência de entrar em colapso por culpa das atividades econômicas do homem (inclusive eu). Já medi minha pegada ecológica, que deu 2,8 ha./pessoa, ante a média mundial de 1,8 ha./p. A média dos EE.UU., a maior apurada entre os 192 paises, é de 10,4 ha./p. Esclareço que “pegada ecológica” é o resultado de um cálculo matemático pelo qual se apura o espaço terrestre necessário do que se consome e os resíduos que gera.
Na análise que procedemos, verificamos que o fato de eu existir gera desgaste ao planeta acima dos recursos naturais renováveis. Num exame pessoal, confesso que contribuem para isso os seguintes fatos: possuo e uso um automóvel, uma geladeira, um liquidificador, um computador, uma lavadora e secadora de roupa, um televisor, um DVD, 2 telefones, iluminação domiciliar, móveis de madeira. São objetos de consumo para conforto, inteiramente dispensáveis numa situação emergencial como a atual. Se eu os destruir, em consonância com os interesses ecológicos, serei por todos, inclusive familiares, considerado um louco, um excêntrico, um extravagante. Nesse caso, eu teria que me isolar da sociedade e família, tornando-me um eremita, numa situação inteiramente inútil para defender a Natureza. Se esses raros ambientalistas assim procedessem, todos nós formaríamos, no conjunto social, uma classe de parias.
Seriam pensamentos, atitudes, considerações, fundamentos do individual que nada influenciariam no coletivo. Um coletivo básico – família –, digamos de 10 pessoas, recebe ordem, diretriz, coerção, exemplo, norma, mando, de um chefe, o pai de família. Nesse caso, prevalece um procedimento coletivo da família e uns indivíduos não se constrangem nem se deslocam socialmente de outros indivíduos. Há uma unanimidade de conduta.
Nessa ordem de idéias e raciocínio, eu destruiria meus bens citados ao mesmo tempo em que veria os demais individuais proceder da mesma forma. Resultado: ficaríamos todos inseridos numa sociedade sem bens, porque todos teriam o senso da identidade existencial. Mas para isso teríamos que seguir os comandos de um maestro.
Sem a existência de uma autoridade mundial, forte, incisiva, determinada, a cultura da individualidade não se desenvolve rumo à cultura da coletividade. Este o motivo por que nos batemos pela criação de um governo global, que é o primeiro passo para socorrer o planeta.
Esta é uma síntese de arrazoado, porque o assunto é suscetível de ser desenvolvido por diversos afluentes, mas sempre desaguando na necessidade de um coletivo absurdamente enorme – população mundial – conduzido por um único maestro. Já dizia Fayol que o princípio básico de uma administração é a unidade de comando. Isso é perfeitamente observado em assuntos militares. Por que não aplicá-lo ao planeta nessa situação de emergência?
“Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
* Colaboração de Maurício Gomide Martins para o EcoDebate, 06/01/2010
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Realmente o problema é de difícil enfrentamento. Mas a mim parece desncessário e equívoco pensar em termos de destruição de bens materiais como justificativa para uma consciência de consumo razoável. Isso não tem qualquer cabimento real, portanto não há por que pensar nessa hipótese. Se trata, e isso sim me parece razoável, de pensar no consumo como resultado da produção e, portanto, de reestruturar a lógica da produção para então criar novos padrões de consumo. Só há consumismo em função da superprodução. E não creio que a luta por criar novos marcos lógicos de organização da produção possa ser conduzida por lideranças – ou, talvez, possa, mas creio que um processo de ruptura e alteração radical deva ser surgir de forma espontânea e autônoma.