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COP15: Educação Ambiental, Mudanças de Comportamento e o novo Acordo Climático, artigo de Valdir Lamim-Guedes

COP 15

[EcoDebate] A Educação Ambiental (EA), tendo por base a alfabetização ecológica, conforme colocada por Fritjof Caprai como a assimilação de princípios ecológicos para o entendimento dos problemas ambientais e soluções destes, é uma das principais ferramentas para a sustentabilidade planetária. Além da EA, o desenvolvimento e adoção de novas tecnologias menos impactantes, com a redução das emissões de poluentes e uma menor extração de recursos naturais, aliada a uma nova conduta da política, com a valorização das pessoas, principalmente, as excluídas socioeconomicamente, são outros fatores integrantes desta busca pela sustentabilidade planetária. Assim, é parte inerente da EA as mudanças de comportamento, como por exemplo, atuar na diminuição do consumo, tomar atitudes menos poluidoras, reduzir o uso do carro, dar preferência aos transportes públicos, comprar produtos socialmente justos e produzidos de maneira mais limpa.

Apesar deste papel central da EA, esta não tem sido alvo dos debates na COP15. As negociações estão baseadas apenas em soluções técnicas para a redução da emissão dos Gases causadores de Efeito Estufa (GEE), com a criação de mecanismos financeiros, como o REDD, e o desenvolvimento e transferência de tecnologia para mitigação e adaptação as mudanças climáticas.

A atual crise não é apenas ambiental ou econômica, e sim civilizatória. A cultura do consumismo leva as pessoas a ignorarem o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente e sobre a sociedade. O meio ambiente é atingindo por causa da extração de matérias-primas e por receber os dejetos da produção dos bens de consumo. A sociedade é atingida porque é impossível que todas as pessoas consumam como uma pessoa rica, este nível de consumo está baseado nas desigualdades sociais, já que algumas pessoas acumulam riqueza, enquanto muitas pessoas mal têm condições para manter um consumo calórico diário adequado, traduzindo em números, cerca de 1 bilhão de pessoas estão subnutridas no mundo inteiro (uma em cada seis pessoas).

O combate a estas desigualdades, incentivando a justiça socioambiental, deveria ser um dos carros chefes do debate sobre clima, porque os mais atingidos pelas mudanças climáticas serão os mais pobres (africanos e habitantes de países-ilha) e os maiores impactos ambientais são causados, em sua maioria, por uma minoria rica.

Com este discurso pode-se questionar que a melhoria de vida das pessoas irá levá-las a consumir mais, passando a exercer uma pressão maior sobre o meio ambiente? A resposta é sim. Porém, é justamente aí o desafio, uma maior igualdade entre as pessoas reduzirá o impacto ambiental dos ricos, por outro lado, aumenta o impacto ambiental das pessoas mais pobres. Mas, em resposta a este problema, deve-se buscar estratégias de combate ao consumismo, lembrando que, é justamente o consumismo que mantém o capitalismo e o nível atual da exploração dos recursos naturais.

Desta forma, o novo acordo climático, além de criar estratégias técnicas e financeiras para mitigação e adaptação as mudanças climáticas, deve também ter um forte compromisso pela inclusão de todas as pessoas no processo de respostas às mudanças climáticas e outras questões ambientais. Por que não cada pessoa ter a sua meta de redução da emissão de GEE? Isto pode integrar políticas públicas e institucionais?

Ao invés disto, focam o debate em soluções tecnológicas, caras e, em muitos casos, ainda utópicas ou em desenvolvimento, sem a certeza de que irão funcionar. Este tipo de discurso está intrinsecamente ligado à idéia de que poderemos responder às mudanças climáticas apenas com as novas tecnologias, que o padrão de consumo e outros comportamentos (transportes, por exemplo) não precisam ser alterados.

Uma evidência de que o avanço tecnológico nem sempre é a melhor solução para os problemas enfrentados atualmente é a crise dos alimentos, que não é conseqüência das fracas colheitas a nível global, mas causada pela crise econômica mundial, que tem reduzido rendas e oportunidades de emprego e restringindo o acesso aos alimentos por parte da população mais pobre. Existe uma relação direta entre a crescente mecanização da produção agrícola e o aumento da fome, como conseqüência da concentração da propriedade e da renda. O uso de máquinas deveria atender a produção de alimentos, priorizando o ser humano e não o lucro, já que os alimentos têm sido vistos como commodity, sendo um artigo de especulação negociado em mercados futuros, sem qualquer relação com a demanda real da populaçãoii.

É possível reduzir a nossa pegada ecológica e, ainda assim, alcançar melhores condições de vida para todos de forma sustentável. Esta conquista está visceralmente ligada ao processo de tomada de consciência ambiental, junto com mudanças individuais e coletivas de comportamento. Como já dizia Paulo Freire, reforçado pelo Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, a educação é um ato político! Desta forma, quando a EA engloba uma visão ampliada do meio ambiente, ou seja, considerado em sua totalidade, incluindo suas dimensões ecológicas, físicas, sociais, políticas, estéticas e econômicas ela passa a ser um fator de transformação da sociedade. Assim, a EA não deve ser ignorada durante esta ultima semana de negociações da COP15, sendo justamente o contrário, que ela passe a ser vista com uma das principais estratégias de combate as mudanças climáticas.

Valdir Lamim Guedes Junior
Mestrando em Ecologia de Biomas Tropicais
Universidade Federal de Ouro Preto

Colaboração de Valdir Lamim-Guedes para o Ecodebate, 16/12/2009

EcoDebate, 16/12/2009

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