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Nanotecnologias: o ponto de vista ambiental (2)

Enfim, e no estado atual dos conhecimentos, seria ilusório crer que seria possível colocar em prática uma gestão sustentável do ciclo de vida das nanotecnologias num prazo de 15 anos, na melhor das hipóteses.

A reportagem é de Jean-Marc Lamach e está publicada no Le Monde, 16-10-2009. A tradução é do Cepat.

Vigilância e saneamento ambiental, tratamento das águas poluídas ou potáveis, redução da poluição agrícola… as nanotecnologias são, portanto, apresentadas como suscetíveis de contribuir para o respeito, e à preservação, do meio ambiente.

Ora, o relatório destaca também que não dispomos, neste momento, do perfil ecotoxicológico dos nanomateriais já disponíveis no mercado. Servir-se delas para tratar a água, ou como pesticidas, seria, portanto, não somente arriscado, mas se correria também o risco de aumentar a dependência dos agricultores e habitantes dos países pobres para com as empresas privadas ocidentais, em detrimento de outros métodos, locais e mais baratos.

No relatório consagrado à nanotoxicologia, o projeto europeu NanoSafe2, encarregado de “desenvolver uma estratégia de risco e de administração para uma produção industrial segura de nanopartículas”, avalia que:

“O estudo dos efeitos tóxicos dos nanomateriais ainda está em andamento e numerosas questões ainda não têm respostas. O número de nanoprodutos evolui muito rapidamente. É urgente examinar, para cada um deles, os riscos de exposição e sua potencial toxicidade. Novos métodos de toxicidade devem ser desenvolvidos e validados. O potencial impacto sobre a saúde humana e ambiental deverá ser testado no conjunto do ciclo de vida dos materiais”.

Um novo escândalo do amianto?

O problema é também sanitário: muitos estudos demonstraram, destacam o IPEN [Rede Internacional para a Eliminação dos Poluentes Orgânicos Persistentes] e o EEB [Escritório Europeu do Meio Ambiente], que nanomateriais já disponíveis no mercado podem causar prejuízos ao DNA humano, causar a morte de certas células, comprovar-se tóxicos para certas espécies vegetais e animais, prejudicar a reprodução das minhocas (cujo papel, no ecossistema, é fundamental).

Os nanotubos de carbono, utilizados para aumentar a eficácia das baterias de lítio, e agilizar carros e aviões, são vistos por sua capacidade de efetuar consideráveis reduções de consumo de energia, mas é impossível saber se sua produção comporta mais, ou menos, consumo energético que a sua utilização permitirá economizar.

Para voltar à questão da saúde, muitos estudos demonstraram que alguns nanotubos de carbono causam inflamações e fibroses que podem provocar ataques cardíacos e danos genéticos, assim como o mesotelioma, forma rara e virulenta de câncer conhecida até então como resultado da exposição ao amianto.

Em agosto passado, um estudo publicado no European Respiratory Journal fazia, pela primeira vez, a ligação entre a exposição a nanopartículas e o desenvolvimento de doenças nos humanos: sete trabalhadoras chinesas, hospitalizadas, foram expostas ao longo de muitos meses e sem a proteção requerida às nanopartículas em seu estúdio de pintura. Elas sofriam de erupções cutâneas e de doenças pulmonares devido à presença, em seus organismos, de nanopartículas prejudiciais ao bom funcionamento de seus corações e pulmões. Duas delas morreram.

Em um outro relatório consagrado ao impacto sanitário e ambiental dos nanomateriais, o EEB também aponta a ausência de informações sobre os volumes de produção, a natureza dos procedimentos e dos nanomateriais utilizados (especialmente, sob a alegação de segredo industrial), os riscos crescentes da exposição para os seres humanos, e a dispersão no ambiente, tanto assim que não se conhece os potenciais riscos que, no médio e longo prazo, cada um desses nanomateriais representa.

Por sua natureza química, mas também por suas propriedades físicas (dimensão, superfície, forma e estrutura), as nanopartículas se comportam de maneira muito diferente, e podem, por inalação, ingestão ou absorção através da pele ou dos órgãos internos, atravessar barreiras que, ordinariamente, protegem os nossos órgãos de qualquer intrusão exterior. Assim, alguns nanomateriais seriam suscetíveis de atravessar a barreira da placenta e entrar em contato com os bebês mesmo antes de nascerem, afirmam os autores do relatório.

Não somente os cientistas, e aqueles que se interessam pelas nanotecnologias, sofrem com a falta de respostas, mas as perspectivas oferecidas devem também incitá-los a se colocar novas perguntas.

Em sua resposta à consulta pública europeia sobre o voo científico da nanotecnologia, o EEB e o ramo alemão dos Amigos da Terra estimam assim que convém também debater os desafios sanitários, éticos e legislativos das próximas gerações de nanomateriais, dos medicamentos “inteligentes” que são direcionados a estes ou aqueles tipos de célula até às esperanças transumanistas da biologia sintética ou do aumento do corpo humano.

Nota do EcoDebate: sobre o mesmo tema leiam, ainda, a reportagem “Nanotecnologias: o ponto de vista ambiental (1)

(Ecodebate, 28/10/2009) publicado pelo IHU On-line [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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