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Artigo

A inutilidade de Belo Monte, entre outras coisas, artigo de Mayron Régis

Localização proposta para a UHE de Belo Monte. Imagem ISA
Localização proposta para a UHE de Belo Monte. Imagem ISA

[EcoDebate] Bem que o título desse artigo poderia ser “A inutilidade da democracia…” depois do artigo do Jerson Kelman “Tentativa de desmonte de Belo Monte”. No final do seu artigo, ele atiça a fogueira das vaidades com esse trecho: “Ultimamente essas minorias organizadas têm se comportado de forma muito ousada. Por exemplo, uma carta aberta dirigida ao presidente Lula, disponível na internet (http://gestaopublicaesociedade.blogspot.com/2009/08/belo-monte-carta-ao-lula.html), contém explícita tentativa de intimidação do governo federal: “Diferentemente do que foi feito no Rio Madeira, os povos do Rio Xingu não se subordinarão à decisão sobre a construção da AHE de Belo Monte.”

Ou seja, “os povos do Xingu” ameaçam não se subordinar à decisão do governo do Brasil, legitimamente eleito e que tem observado o devido processo legal, inclusive no que diz respeito ao licenciamento de obras. O mais surpreendente é que, segundo o que consta no sítio eletrônico, dois procuradores da República assinam a ameaça!”. Dava para fazer uma análise social, antropológica, política e ambiental dessas mal traçadas linhas para diagnosticar um quadro de patologia. A primeira frase espreme ou exprime o comportamento tido como “severo” da maior parte da elite e da classe média que ascendeu socialmente na cauda dessa mesma elite nas últimas quatro décadas.

No que consiste esse “comportamento severo” por parte da elite e da classe média quando elas perseveram na mesma cilada das soluções energéticas fáceis? Ao texto o que é do texto. A um leitor desavisado, as respostas de Jerson Kelman comprimem o que se sabe a respeito do licenciamento da hidrelétrica de Belo Monte, só que as questões levantadas pelo Painel de Especialistas a respeito da viabilidade econômica e ambiental da hidrelétrica não autorizariam ninguém a respondê-las em um só artigo. Essas são questões de décadas passadas e para décadas futuras.

Como sempre, o discurso do setor elétrico, e o senhor Jerson Kelman o representa muito bem quando o defende, pauta a defesa de hidrelétricas como Belo Monte naquele tipo de escolha “dos males o menor”, ou seja, se não hidrelétricas a opção mais viável será as termelétricas e não queremos isso por causa dos gases do efeito estufa e etc. Por mais que os setores do governo absolvam o licenciamento de Belo Monte exemplificando este licenciamento como protótipo de processo democrático para quem quer que discorde, esses setores governamentais negam o debate com os setores que serão atingidos e com a sociedade de maneira geral e aqui se refere não ao mero debate que vem sendo travado de mitigação e de compensações financeiras e sim o debate de que grandes obras podem sim contribuir e muito com a propagação dos gases do efeito estufa tanto no caso do aumento do desmatamento nas áreas de floresta como no aumento da produção da indústria de eletrointensivos (alumínio, ferro, cimento e etc).

Mais do que uma oferta futura para a indústria de alumínio, a Alcoa estica mais e mais seus interesses para o oeste paraense, a construção de Belo Monte também enseja um fluxo de caixa bastante gratificante para a construção civil e para a indústria de equipamentos pesados. Daí a inutilidade de Belo Monte. Bilhões e bilhões em cimento e maquinário para a Alcoa beneficiar bauxita em Juruti. E a democracia talvez seja só um navio transportando commodities para a China.

Mayron Régis, assessor de comunicação do Fórum Carajás, colaborador e articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 28/10/2009

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3 thoughts on “A inutilidade de Belo Monte, entre outras coisas, artigo de Mayron Régis

  • Nerio Jorge Susin

    Caro Mayron
    Parabéns pelo seu texto, porém
    não consegui entender bem o seu raciocínio: Se Belo Monte não for construída a Alcoa e outras mineradoras de bauxita vão encerrar as suas atividades no sudoeste do Pará? Ou as mineradoradas continuarão explorando a Bauxita e outros recursos minerais e exportando o mineário praticamente em natura e apreçcos vis?
    A inutilidade de uma obra deve se caracterizar pela pouca serventia do seu produto. Energia é um produto essencial.

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