Nanotecnologias: o ponto de vista ambiental (1)
No ano passado, Christian Joachim, pioneiro da manipulação em escala atômica, lembrava em um livro intitulado Nanosciences: la révolution invisible (Nanociências: a revolução invisível) como “as” nanotecnologias desviaram “a” nanotecnologia de seu projeto sustentável.
A reportagem é de Jean-Marc Lamach e está publicada no Le Monde, 16-10-2009. A tradução é do Cepat.
Porque desde os anos 80, as indústrias se apropriaram do assunto, e mais do que esperar uma hipotética viabilidade “da” nanotecnologia, elas se debruçaram sobre “as” nanotecnologias que, como lembrava Joachim, “não dizem respeito mais apenas à manipulação da matéria átomo por átomo, mas se referem a todas aquelas técnicas que permitem a fabricação de ‘pequenos objetos’”:
“Hoje, as nanotecnologias não estão mais associadas à esperança de uma indústria mais econômica dos recursos do planeta, mas ao contrário a medos: são elas tóxicas? Não há o perigo de escaparem do nosso controle?”
No momento em que é possível encontrar mais de 1000 produtos de grande consumo no mercado que contêm nanomateriais (cf. Nanotechnologies: ce qui se vend), o Escritório Europeu do Meio Ambiente (que se apresenta como “a voz ambiental dos europeus” e que agrupa mais de 140 ONGs de 31 países) e a Rede Internacional para a Eliminação dos Poluentes Orgânicos Persistentes (que reúne mais de 700 ONGs de mais de 80 países), quiseram fazer o balanço da questão:
“Apresentam-nos as nanotecnologias como suscetíveis de oferecer soluções tecnológicas inéditas para muitos problemas ambientais, tais como o aquecimento global, a poluição e o acesso à água potável. Seus partidários afirmam que elas podem contribuir para o desenvolvimento econômico e suscitar novos produtos e mercados que reduzem de maneira sensível a nossa pegada ecológica”.
Em seu relatório intitulado Nanotechnologie et environnement : un décalage entre les discours et la réalité (Nanotecnologias e meio ambiente: um desnível entre o discurso e a realidade) as duas federações de ONGs ambientais estimam, ao contrário e baseados em dezenas de estudos e relatórios acadêmicos e científicos, que esta visão quase angelical esconde “sérios riscos ambientais, assim como custos ocultos que não se tem razões para ignorar”.
“A ‘face oculta’ do custo ambiental da produção de nanomateriais (tais como uma demanda crescente de energia e água) raramente é reconhecida, ao passo que seus ‘benefícios’ anunciados são muitas vezes exagerados, não testados e, na maioria dos casos, estão a anos de poder ser concretizados”.
Uma produção mais limpa… ou mais suja?
Química “verde”, redução do consumo de recursos naturais e de matérias-primas… Para seus idealizadores as nanotecnologias podem contribuir para a redução da pegada ecológica dos processos industriais.
Ora, estimam os autores do relatório, a fabricação de nanomateriais requer muita água e energia, produz (paradoxalmente) muito lixo, para rendimentos depois de tudo muito baixos.
Além disso, os produtos químicos utilizados, assim como os próprios nanomateriais, são muitas vezes “altamente tóxicos” e produzem gás de efeito estufa que contribui para o aquecimento global e o esgotamento da camada de ozônio.
(Ecodebate, 24/10/2009) publicado pelo IHU On-line [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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