Segurança climática, maiores emissores e o número 350, artigo de Carol Salsa
Os maiores emissões de CO2
[EcoDebate] O conceito de segurança climática surgiu em 2006. Como parte das agendas internacionais é de fundamental importância à compreensão da questão da governança ambiental. Segundo pesquisadores, entende-se por segurança climática a manutenção da estabilidade relativa ao clima global decisiva para a construção da civilização desde o fim do último período glacial há 12.000 anos.
Segurança climática, segundo alguns pesquisadores, significa o desenvolvimento de uma arquitetura global da governança das mudanças climáticas que impulsionam a governabilidade climática.
O marco conceitual da mudança climática ressalta a combinação do crescimento da população mundial, consumo generalizado de energia fóssil e o desenvolvimento tecnológico num paradigma de que o excesso de carbono na atmosfera tem sido a principal causa do processo de aquecimento global.
Entre os ambientalistas, há evidências de uma inércia globalizada no discurso de uma cooperação internacional em favor da segurança climática. O comportamento dos governos signatários do Protocolo de Kyoto está muito distante do que nele foi acordado.
O impacto da aceleração da revolução da tecnologia da informação tem levado as sociedades de todo o mundo a uma rápida conscientização da ação antropogênica sobre o clima e suas conseqüências para o Planeta. A expansão do movimento ambiental entre 1985 a 1995 deve-se ao processo de crítica ao impacto da prosperidade econômica e do desenvolvimento científico tecnológico sobre a qualidade ambiental.
Há um dado em relação ao volume de informações (em gigabytes) que entre 1940 e 2000 foi constatado o mesmo volume de informações entre 2000 e 2001. A avalanche de notícias que circula o mundo e o surgimento de novas tecnologias tem ajudado a entender os fenômenos naturais para a adoção de políticas públicas face às mudanças climáticas. O aquecimento global está no centro da dinâmica do sistema internacional a partir de 2007, e para minimizá-lo, há inúmeros desafios.
Alguns exemplos de eventos naturais a partir de 1999 tais como os furacões Kathrina e Wilma nos Estados Unidos e Austrália, mortes por ondas de calor na Europa, intensificação dos tufões em Japão e China, inundações catastróficas simultaneamente à secas severíssimas na Índia são citadas como um efeito do aumento da temperatura no Planeta. Na América Latina, eventos como chuvas intensas na Venezuela em 1999 e 2005, inundação nos pampas argentinos (2000-2001), seca na Amazônia, em 2005; chuva de granizo na Bolívia e em Buenos Aires em 2006, furacão Catarina no Atlântico Sul, em 2004 e vários furacões na Bacia do Caribe, em 2005.
O impacto do aquecimento global foi tratado pedagogicamente no filme “Uma verdade incoveniente até que se prove o contrário, ou seja, que se trate na realidade de “Uma mentira conveniente”. O antagonismo é necessário ser destacado uma vez que há pesquisadores céticos que afirmam a existência de fenômenos climáticos independentemente de ações antropogências.
Uma outra revolução na cultura ambiental foi o lançamento do Relatório Stern sobre o custo econômico das mudanças climáticas assumido oficialmente pelo governo britânico em 2006.
“O mundo em 2007”, número especial da revista The Economist antecipa os efeitos das mudanças climáticas. A variabilidade climática e eventos extremos na região da América Latina foram relatados no 4ª Relatório do IPCC, publicado em 2007. Nele, confirma-se não haver dúvida sobre a influência antropogênica em relação ao aquecimento global.
Qual seria a amplitude do desafio relativo ao clima supondo este inserido num contexto político, econômico e institucional heterogêneo e dinâmico?
Governança sem governo tem sido aventada para explicar que não basta que haja governo é necessário investigar qual a sua efetiva capacidade de atuação.
“Uma Nova Agenda Econômica e Social para a América Latina”, publicado pela CEPLAN, é a fonte do quadro a seguir.
País/Dados | População | PIB
US$ |
PIB per capita
US$ |
Emite toneladas de carbono | % emissões globais | Emite carbono em tonelada per capita | Toneladas de carbono por cada US$1000
produzido |
China | 1,3 bilhão | 3 trilhões | 2.300 | 5,7 bilhões | 20 | 5 | 2,1 |
EUA | 300 milhões | 14 trilhões | 48.000 | 5,6 bilhões | 20 | 19 | 0,4 |
Japão | 127 milhões | 5,3 trilhões | – | 0,8 bilhão | 3 | 6 | 0,15 |
UE(27 países) | 430 milhões | 15 trilhões | 35.000 | 4 | 15 | 9 | 0,3 |
Índia | 1,1 bilhão | 930 bilhões | 830 | 1,6 bilhão | 7 | 0,8 | 0,3 |
Federação Russa | 142 bilhões | 1,15 bilhão | 8.100 | 1,4 bilhões | 5,5 | 10 | 1,2 |
Brasil | 190 milhões | 950 bilhões | 5.000 | 1 bilhão | 4 | 5 | 1,1 |
Fonte: CEPLAN/iFHC- Eduardo Viola, Ana Flávia Barros-Platiau, Hector Ricardo Leis
Nota: O PIB per capita relativo ao Japão pode ser calculado, no entanto, não foi citado no quadro.
A China, maior emissora dos gases de efeito estufa, é detentora de uma economia muito intensa em carbono e média em termos per capita devido à sua matriz energética fortemente baseada em carvão e petróleo e, notadamente, à sua baixa eficiência.
O Brasil também possui um perfil extremamente singular, já que 75% das emissões derivadas do desmatamento algo inusitado para países de renda média ou alta e porque sua matriz energética é de baixa intensidade de carbono, devido à alta proporção de hidrelétricas na geração de eletricidade e a crescente importância dos biocombustíveis nos combustíveis líquidos.
Apesar da citação dos números sobre as emissões o que preocupa o ambientalista Bill McKibben é o número 350. O escritor e ambientalista americano Bill McKibben, diz que o número 350 é o limite de concentração de carbono na atmosfera e que o mundo deve adota-lo para evitar uma catástrofe ambiental, medido em partes por milhão. Ele lidera um grupo que pretende disseminar o “350” pelo mundo como palavra de ordem.
O dia 24 de outubro próximo é o Dia Internacional da Ação Climática.
O nível atual de concentração já é maior do que isso: 381 ppm (partes por milhão) em algumas fontes e 387, em outras, considerando-se um aumento da temperatura em torno de 0,7ºC. Os climatólogos defendem o número 550 ppm como crítico para limitar o aquecimento a 2 graus centígrados de temperatura. Neste cenário não haveria segurança climática.
Fontes:
http://www.plataformademocratica.org/Publicacoes/Publicacao_788_em_11_08_2008_16_34_18.pdf
Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM.
EcoDebate, 21/10/2009
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