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Artigo

Sobrepesca e sobrevivência dos oceanos: Uma reflexão com as crianças, artigo de Magda von Brixen

Anchoveta (Engraulis ringens)(Wikipedia)
Anchoveta (Engraulis ringens)(Wikipedia)

[EcoDebate] A Anchoveta (Engraulis ringens) é um pequeno peixe que habita o oceano Pacífico ao longo da costa do Chile e do Peru. Considerada a maior massa biológica reunida no mar e em todo o planeta, o cardume, quando cercado, pode ser capturado quase que inteiro. A anchoveta é, principalmente, pescada com propósitos industriais, como ração e fertilizantes; ao contrário de sua prima, a enchova, que vive nos oceanos Atlântico e Mediterrâneo, presente às melhores mesas, e da anchova, peixe veloz e robusto da costa do Brasil, bastante procurada no mercado, mesmo sendo peixe de segunda.

A população da anchoveta flutua tremendamente porque sofre com o efeito atmosférico do El Niño, que acarreta mudança de temperatura nas correntes marinhas e consequente diminuição da oferta de nutrientes necessários à sobrevivência dos peixes. A isso se acrescenta a sobrepesca indiscriminada da espécie com o uso de modernas tecnologias, que desconsideram a capacidade de reprodução de ambientes naturais e bancos pesqueiros. Para se ter uma idéia da oscilação da produção da pesca, entre 1972 e 1973 houve a queda de 20 milhões de toneladas para 2 milhões, e uma redução de 85% na população da avifauna marinha costeira, dependente direta dessa fonte de alimento.

Essa situação dramática que, a partir de uma única espécie, vai comprometer em cadeia todo um meio ambiente vivo correlacionado, fez com que Carlos Secchin, fotógrafo responsável por algumas das melhores imagens já registradas dos ambientes marinhos brasileiros, escolhesse a Anchoveta como personagem de sua primeira história infantil. Com Anchovinha – nem tudo que brilha no fundo do mar é escama de peixe ele traz para o universo da criança temas de grande relevância na formação de uma nova consciência ambiental, o que permite fazer do livro muito mais do que uma história bem contada.

Segundo o autor, “essa espécie tornou-se objeto de preocupação mundial porque representa um grupo cujo sistema de defesa e sobrevivência encontra-se fragilizado, não apenas em razão da mudança climática acelerada no planeta, mas, sobretudo, pelo emprego da alta tecnologia pesqueira que potencializa o perigo da captura total do cardume. A população humana continua crescendo, ao passo que o pescado vem perdendo rapidamente espaço no mar, em razão também da presença cada vez maior de águas turvas, poluídas e pobres em nutrientes”.

De tempos em tempos, a elevação da temperatura das águas superficiais impede que as correntes frias, vindas do fundo, tragam o alimento esperado e, não havendo comida suficiente, aves e peixes morrem. O aumento da temperatura está diretamente ligado ao das chuvas na costa dos países andinos, o que resulta no maior volume despejado de água doce e sedimentos, diminuindo no mar o grau de salinidade e turvando as águas – fatores prejudiciais ao desenvolvimento e sobrevivência das espécies mais sensíveis. Severamente pescada, a anchoveta tem seus estoques naturais reduzidos, a ponto dos governos estabelecerem cotas para controle de sua captura. A queda da produção é expressa pela tonelagem pescada. Mas se, por um lado, há diminuição da produção, por outro, há o aumento e a modernização da frota pesqueira.

Com elevada taxa de nascimento e sobrevivência, esses peixes atingem, rapidamente, a idade de reprodução; chegam à fase adulta em doze meses, medindo cerca de 10 cm de comprimento. No sexto mês de vida, entretanto, já atingem 8 cm e vivem cerca de três anos. Habitam águas frias a 10ºC, em média, na superfície do mar, onde são facilmente localizados. As grandes concentrações de anchovetas estão até a 100 km da costa; chegam aos 50 metros de profundidade, mas são detectadas por instrumentos, como sondas e fotografias enviadas por satélites que orbitam a Terra.

“Muitas leis internacionais de pesca estão sendo elaboradas e discutidas, mas não se sabe se serão cumpridas”, complementa Secchin. “Parece-me um bom começo protegermos o que está perto e diante de nós – o espaço onde a maioria dos peixes pertencentes à cadeia alimentar dos oceanos surge: as águas rasas, os mangues, lagoas e estuários, o entorno desses mananciais de vida. E, nesse aspecto, cada um de nós, gostando ou não de comer peixe, pode contribuir de alguma forma. Gerar um novo paradigma de consciência e comportamento nas novas gerações é uma delas”.

Uma das referências fundamentais para o entendimento da criança sobre o meio ambiente e a responsabilidade que toca a cada indivíduo da cadeia de seres vivos – incluindo ela própria, claro – é a forma interdependente com que esses seres se relacionam na natureza. Para garantir sua sobrevivência, cada um deles desenvolve uma maneira particular de se alimentar, de lidar com o ecossistema em que está inserido e de se proteger dos perigos a que está exposto. No livro ‘Anchovinha’, Secchin enfoca ludicamente essas relações para despertar o interesse e a compreensão da criançada. Mas precisava ir além. Pensando também no universo escolar como multiplicador nessa formação de nova consciência ambiental, Carlos fez uma parceria com Cauam Cardoso, jovem e experiente engenheiro sanitarista ambiental, para elaborar um caderno especial aos professores. A escola que adotar ‘Anchovinha’ receberá gratuitamente da editora esse caderno, que propõe atividades em grupo para a criança vivenciar conteúdos do livro em sala de aula.

O suplemento decodifica a história e a traz para o dia a dia da criança, apoiando o professor ao propor situações que o grupo vivencia, discute, corrige, acresce, modifica. Essa experimentação é que vai gestar mudança comportamental, uma nova consciência fomentada em mentes jovens que levarão seu aprendizado para dentro de casa, a pais, irmãos, vizinhos e amigos. Foi assim que o ainda estudante universitário Cauam conseguiu uma real transformação na favela da Serrinha, em Florianópolis. Um verdadeiro trabalho de formiguinha que foi crescendo a partir de apenas duas pessoas idealistas, hoje continua se multiplicando dentro da universidade e das comunidades do entorno, com mudanças que atingiram a administração pública local e geraram novo paradigma no comportamento de famílias que antes conviviam passivamente imersas no seu próprio lixo. A experiência foi reconhecida internacionalmente pelo Banco Mundial, que deu a Cauam o 1º lugar na International Essay Competition of World Bank (Tóquio, Japão – 2006). Então, é possível a transformação; ela é real quando a cadeia de consciências se forma no sentido de favorecer a mudança. E é nisso que Carlos Secchin e Cauam Cardoso apostam com sua parceria nesse trabalho editorial – uma semente que alcança o universo didático para melhor dinamizar o efeito multiplicador no meio.

Como diz Cauam em suas orientações aos professores, “o sistema de interação da vida em nosso planeta é caracterizado por sua sensibilidade e interdependência, no qual todos os seres, a exceção do homem, consomem exatamente o que precisam para sobreviver. Com isso, todas as espécies se encontram em número suficiente, ocupam um determinado espaço e têm demandas alimentícias capazes de manter um conjunto harmônico. Mas o ser humano vem transformando sensivelmente essas relações, na medida em que consome alimentos sem respeitar a capacidade dos seres vivos de se reproduzir naturalmente em seu ambiente. Como consequência desse cenário, as espécies entram em extinção, os solos ficam pobres para a agricultura, e os rios e mares não conseguem absorver a poluição. É preciso, cada vez com mais urgência, desenvolver uma educação voltada para a construção de uma nova forma de viver no planeta”.

“As atividades propostas no caderno didático que acompanhará ‘Anchovinha’ nas escolas auxiliarão os professores a responder e, segundo a sua realidade e criatividade, desenvolver junto com os alunos o porquê desta maneira de convivência no planeta precisar ser mudada, o como agir em prol de mudanças e, além disso, o que fazer para que nosso ambiente comum seja efetivamente transformado em um lugar melhor”, diz Cauam. “Selecionei quatro temas principais como sugestões de trabalho:

Interdependência, que trabalha a importância da harmonia na convivência entre os seres humanos e, destes, com a natureza.
Cooperação, que ajuda a construir exemplos práticos de como alcançar metas em conjunto e de forma solidária, em detrimento de uma visão essencialmente competitiva.
Sustentabilidade, responsável por criar novos conceitos em relação à redução do consumo e uma postura mais consciente para com a natureza.
Cidadania, que aborda o estímulo à reflexão sobre a relação entre direitos e deveres, assim como a participação concreta do aluno na sociedade.

A partir das atividades apresentadas, incentivamos o professor a adaptá-las à sua realidade, potencializando ainda mais o aprendizado das crianças e tornando mais agradável e motivante o ensino”, complementa Cauam.

SOBRE O AUTOR
Carlos Secchin é um dos maiores fotógrafos submarinos do Brasil. Há mais de 30 anos combina a paixão pela fotografia e o mergulho, que pratica desde os 12. Com pesquisadores zoólogos descobriu formas de vida ainda não documentadas, como o coral-chicote (Cirripathes secchini), que leva seu nome. Contemplado com vários prêmios, entre eles o Nikon International na categoria de foto submarina, Secchin é autor de livros sobre reservas e parques marinhos brasileiros, entre eles: Parque Nacional Marinho dos Abrolhos; Arquipélago de Fernando de Noronha; Angra – Ilha Grande; Mar do Rio; Narcosis e Peixes do Brasil, lançado em 2008, onde apresenta, em belíssimo livro totalmente inédito entre nós, as principais espécies de peixes em seus habitats naturais. Seu trabalho espelha uma dedicação esmerada à documentação das espécies mais representativas do oceano Atlântico sul ocidental, mas foi no oceano Pacífico que pescou a idéia para este seu primeiro livro infantil, Anchovinha.

CARLOS SECCHIN
www.carlossecchin.com.br

SOBRE O CONSULTOR DIDÁTICO
Cauam Cardoso, 27 anos, é Engenheiro Sanitarista e Ambiental formado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Desenvolveu, como autor e consultor, diversos projetos socioambientais e de educação ambiental em favelas de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Por seu trabalho já recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Primeiro Lugar  na International Essay Competition of World Bank (Tóquio, Japão – 2006). Também atuou profissionalmente em Angola, onde exerceu funções de consultoria, coordenação e direção na área de resíduos sólidos, junto aos setores público e privado. Hoje reside na Austrália, onde faz pós-graduação.

CAUAM CARDOSO
e-mail: cauamcardoso{at}yahoo.com.br

SOBRE A COORDENADORA EDITORIAL
Magda von Brixen é jornalista, produtora editorial, redatora e assessora de projetos corporativos. Formada em Comunicação Social, Propaganda e Relações Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em Marketing e Psicologia de Vendas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi profissional de telejornalismo na TV Gaúcha – RS e publicitária em agências de propaganda do Sul e do Rio de Janeiro. É atualmente produtora editorial e redatora junto a editoras do Rio de Janeiro. Em 1996 lançou o livro “Em Terra, Pisando Estrelas”, pela Editora Mauad.

MAGDA VON BRIXEN
e-mail: mvonbrixen{at}terra.com.br

EDITORA IMPERIAL NOVO MILÊNIO
Tels. (21) 2580-6230 e 2580-4868
Responsável: Susi Bluhm
e-mail: editorial@imperiallivros.com.br
www.imperiallivros.com.br

EcoDebate, 24/07/2009

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