População do litoral de Santa Catarina repudia instalação de mineradora
Para a extração e processamento do fosfato, a Yara Brasil e a Bunge Fertilizantes projetam o desmatamento de mais de 300 hectares de Mata Atlântica. Fórum das Entidades e de Movimentos Sociais realizam audiências públicas para impedir a instalação da empresa. >
Moradores da Grande Florianópolis e também do Litoral Sul do estado lutam contra a instalação da Indústria de Fosfatados Catarinense (IFC). Criada em parceria entre as multinacionais Yara Brasil e Bunge Fertilizantes, a mineradora já adquiriu cerca de 1.760 hectares em Anitápolis (SC), e pretende expandir as ações na região litorânea, único local no Sul do Brasil que possui fosfato. A mata nativa dará lugar a uma mina a céu aberto e a uma fábrica que usará a matéria prima na produção de um tipo de fertilizante.
Para a extração e processamento do minério, as empresas projetam o desmatamento de mais de 300 hectares de Mata Atlântica, o que equivale a 550 estádios do Maracanã. Decorrente dessa exploração, estudiosos alertam que a saúde da população e o desenvolvimento da agricultura familiar seriam negativamente afetados.
Para Luiz Lorenzetti, morador da região e coordenador do Fórum das Entidades, comissão organizadora que engloba 88 entidades filantrópicas da Grande Florianópolis (SC), a construção poderá comprometer o abastecimento de água de 21 municípios. Ele cita o exemplo da cidade de Santa Rosa de Lima (SC), que será um dos locais mais afetados. Este município, de 2.093 habitantes, possui mais de três mil nascentes. Luiz ainda acrescenta que as empresas irão dificultar o desenvolvimento da agricultura familiar na região, ocasionando mais desemprego.
“Essa fosfateira diz que vai criar dois mil empregos braçais no início e depois apenas 423 empregos diretos. Na verdade esses empregos não iriam ser para trabalhadores da região, mas sim para trabalhadores de fora, pois ela é uma multinacional. Se gera muito mais emprego estando nessa situação, com as atividades da agricultura familiar”, conta.
Nesta mesma direção, professor Wilson Schimidt, pesquisador do Núcleo de Educação do Campo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), salienta que a implantação da empresa mineradora alteraria as formas de sobrevivência que historicamente foram construídas pelas famílias da região.
“Esse território é um verdadeiro santuário. Nascem, por exemplo, o rio Itajaí, rio Cubatão que abastece Florianópolis, e nasce o rio Braço do Norte, afluente do rio Tubarão. Em segundo lugar, essa mineradora causaria tantas conseqüências no sentido daquilo que é mais valoroso para as famílias que é a preservação ambiental. Isso comprometeria os empregos e as perspectivas de renda que os agricultores familiares construíram com muito sacrifício ao longo da história”, afirma.
O professor ainda destaca que o projeto já foi discutido em três audiências públicas nas cidades de Anitápolis e também em Lages, cidade onde se pretende armazenar os fertilizantes. Na tarde desta última quinta-feira (16), mais de trezentas pessoas ligadas ao Fórum das Entidades e de Movimentos Sociais, se reuniram na Assembléia Legislativa do estado para negociar com as empresas. Porém, nenhum representante das multinacionais compareceu alegando que seus consultores ambientais já possuíam compromissos agendados. A intenção, de acordo com o professor, é continuar realizando novas audiências em outros municípios do estado.
Reportagem de Joel Felipe Guindani, da Agência Chasque de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 20/06/2009.
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