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Pesquisadores afirmam que as queimadas alteram ciclos biogeoquímicos e clima da Amazônia

Pesquisadores afirmam que as queimadas alteram ciclos biogeoquímicos e clima da Amazônia

queimada

As queimadas na floresta amazônica, provocadas pela criação de áreas de pastagem, exploração da madeira e agricultura familiar, estão causando alterações nos ciclos biogeoquímicos (os percursos realizados no meio ambiente por um elemento químico) e afetando ainda mais o clima da região.

A revelação foi feita pelos pesquisadores Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), e Flávio Luizão, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), em uma mesa-redonda realizada, realizada no dia 15/07, durante a 61ª Reunião Anual da SBPC, realizada em Manaus (AM).

De acordo com os pesquisadores, um dos exemplos mais evidentes de alterações de ciclos biogeoquímicos na Amazônia provocados pelas queimadas é o do nitrogênio – um nutriente essencial para as plantas, que está presente no solo, no ar e na água. No estado gasoso, este elemento químico representa 78% da atmosfera, mas, para que seja aproveitado pelas plantas é necessário que os micróbios presentes nos caules das plantas e no solo capturem e quebrem o nitrogênio para disponibilizá-lo na forma de outros elementos. A partir daí, parte desse composto é fixado no solo sob as formas de nitrito e nitrato, por exemplo. E através das chuvas, chega aos meios aquáticos na forma de amônia.

Segundo os pesquisadores, o que está ocorrendo na Amazônia é que ao queimar a floresta parte dos compostos nitrogenados presentes nas árvores, como a amônia, por exemplo, são vaporizados e vão para a atmosfera onde se combinam com outros elementos e acabam formando chuva ácida. Isso também gera um aumento da quantidade de nitrogênio armazenado na biosfera, contribuindo para mudanças no ciclo hidrológico – de chuvas – e nas condições climáticas da região.

“A gente observa um impacto importante do homem na emissão de nitrogênio aqui na região amazônica através de queimadas”, afirma o pesquisador da USP Paulo Artaxo. Mas ele ressalva que o problema não diz respeito apenas à região. “Embora boa parte dessas ações ocorram na Amazônia, na verdade há uma contribuição global muito importante de queimadas, principalmente da África e da Oceania, que alteram o ciclo do nitrogênio. Mas é importante termos em mente que apenas o desmatamento no Brasil corresponde a 41% do desmatamento global”, compara Artaxo.

Para o pesquisador Flávio Luizão, as queimadas também causam uma enorme perda de nutrientes na biomassa e deterioram as condições do solo. “O solo de uma área de pastagem se deteriora em 13 anos e, em condições naturais, são necessários 70 anos para recuperar o ciclo de hidrogênio desse sistema”, diz o especialista.

Solução – Uma das alternativas indicadas pelo pesquisador para recuperar áreas degradadas abandonadas na Amazônia – que correspondem a mais de 50% do total de 17% da área desmatada da floresta – é o uso de culturas leguminosas ou a substituição da atividade agropecuária por sistemas agroflorestais. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por exemplo, já conseguiu, em apenas 13 anos, recuperar a parte biológica de um sistema degradado na região por meio da plantação de culturas de pupunha e açaí.

Os pesquisadores também se manifestaram absolutamente contrários à recente concessão do licenciamento ambiental para restauração e pavimentação da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO). “Nessa região, onde estão querendo pavimentar a estrada, há uma altíssima biodiversidade, maior do que em outras regiões da Amazônia. Essa obra não tem justificativa econômica. O número de famílias que habita essa região é baixíssimo. Será, sem sombra de dúvida, um desastre ambiental”, avalia Luizão.

Reportagem Elton Alisson, para a Agência SBPC, publicada pelo EcoDebate, 20/07/2009

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