O Cerrado e as futuras gerações, artigo de Pedro Wilson
[EcoDebate] Pensando em preservar a natureza, os constituintes de 1988 incluíram na nossa Constituição Federal a Amazônia, a Mata Atlântica, a Zona Costeira e o Pantanal como patrimônio nacional. No entanto, por omissão e preconceito, deixaram de fora o Cerrado e a Caatinga, o que tornou a conservação destes biomas uma tarefa ainda mais difícil.
Buscando corrigir esta lacuna legal, tramita na Câmara dos Deputados uma emenda constitucional, de nossa autoria que, se virar lei, garantirá ao Cerrado (e também à Caatinga e aos Pampas) mais recursos para o desenvolvimento de estudos, pesquisas e projetos que potencializem seus respectivos usos. Também propiciará a contenção do desmatamento extensivo, a redução da degradação do solo e a minimização do assoreamento e da contaminação dos rios.
Aprovar essa lei deve ser uma tarefa não apenas de um político, mas de todos e todas que têm compromisso com o desenvolvimento sustentável, daí a importância do envolvimento da sociedade. Nesse sentido, o jornal Tribuna do Planalto, por meio do concurso “Goiás na Ponta do Lápis”, tendo como tema Cerrado: Berço das Águas, cumpre seu papel de agente que interfere no presente visando proteger o futuro do planeta Terra, Água, Fogo e Ar.
Um concurso de redação que envolve 710 mil estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio em todo o Estado de Goiás, na prática mobiliza toda uma geração formadora de opinião que pode ser disseminadora de muitas informações que grande parcela da população ainda não conhece.
Familiares e amigos da comunidade escolar poderão saber, por exemplo, que o Cerrado possui 12.356 espécies de plantas, 195 espécies de mamíferos, 607 espécies de aves, 225 espécies de répteis, 186 espécies de anfíbios e 800 espécies de peixe. É que é o maior bioma incluído totalmente em território brasileiro, ocupando mais de 2 milhões de quilômetros quadrados nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão e Distrito Federal.
Poderão saber que cerca de 80% do carvão vegetal consumido no Brasil vem das árvores do Cerrado; que o aquífero Guarani depende de áreas de recarga que estão no Cerrado; e que a matriz energética brasileira depende das águas do nosso bioma, das árvores de troncos retorcidos e raízes profundas.
A população saberá que o Cerrado abriga as nascentes de importantes bacias hidrográficas da América do Sul: Platina, Araguaia/Tocantins/Amazônica, São Francisco, Paranaíba/Paraguai, daí o nome Berço das Águas, ajudará essa mesma população a tornar-se defensora do bioma, porque a sua defesa representa a defesa da vida atual e futura. (Silva, Carlos Eduardo MAZZETTO. O Cerrado em Disputa, 2009).
É certo que estatísticas e números por si não viabilizam a conscientização necessária para avançarmos rumo à construção de um mundo sustentável ambientalmente. É preciso atingir o coração de todos e todas para a necessidade de se irmanarem na defesa do Cerrado como condição de vida. Como afirma o teólogo e educador Leonardo Boff, é preciso “dar centralidade ao coração, à sensibilidade, ao afeto, à compaixão e ao amor, pois são estas dimensões que nos mobilizam para salvar a Mãe Terra e seus ecossistemas”.
Pedro Wilson é deputado federal (PT-GO), autor da PEC do Cerrado, que inclui na Constituição Federal os biomas Cerrado, Caatinga e Pampas como patrimônio nacional. Professor da UFG e da UCG e ex-prefeito de Goiânia
* Colaboração do Fórum Carajás.
EcoDebate, 18/07/2009
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