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Empresas alemãs iniciam projeto de energias renováveis no Marrocos

Obtenção de energia solar no deserto
Obtenção de energia solar no deserto

Na Alemanha, 12 grandes empresas deram início ao Desertec, um megaprojeto de energias renováveis a ser dirigido por europeus e situado no norte da África. Uma ideia que suscita também muitas críticas.

Nesta segunda-feira (13/07) foi dado em Munique o sinal verde para o desenvolvimento do projeto internacional Desertec, pioneiro no âmbito das energias renováveis. A proposta é gerar energia solar e eólica nas regiões desérticas do norte da África e transportá-la através de redes de alta tensão para a Europa.

Até 2050, a energia gerada pelo projeto poderá ser responsável por até 15% do consumo energético no continente europeu. O sonho da energia obtida do sol do deserto, no entanto, divide os ânimos, numa divergência entre especialistas que elogiam e aqueles que criticam o megaprojeto.

Altos custos

Entre as críticas estão as acusações de que a ideia não é de forma alguma realista e as de que só se trata de uma estratégia de marketing. Além disso, diz-se que a realização do projeto depende não somente da vontade política de implementá-lo, mas principalmente de ideias concretas a respeito de seu financiamento, de cerca de 400 bilhões de euros.

Entre as empresas envolvidas no Desertec estão grandes grupos como a Siemens, as empresas de fornecimento de energia RWE e E.ON, a seguradora Münchner Rück, a fornecedora de energia solar Schott Solar e o Deutsche Bank, além de representantes da Fundação Desertec, autora do projeto.

Previsão realista

Entre os defensores da ideia está Robert Pitz-Paal, professor de Tecnologia Solar e diretor de Pesquisa Solar no Instituto de Termodinâmica, que faz parte do Centro Alemão Aeroespacial, que também participou do desenvolvimento do Desertec.

“A realidade é que a oferta de energia solar no norte da África e no Oriente Médio é muito melhor do que entre nós, na Europa Central. Mesmo na Espanha o sol não brilha como no norte da África. Lá há também muitas regiões inutilizadas. E bastariam, em princípio, 2% ou 3% da superfície do deserto para suprir a demanda de energia da região e da Europa”, diz Pitz-Pall.

Caso o projeto realmente vingue, os responsáveis acreditam que, até o ano de 2050, a Europa poderia realmente ter 15% de seu consumo energético suprido pela energia obtida nos desertos da África. Essa é uma previsão realista, garante Pitz-Pall. O importante é a cooperação entre os parceiros, afirma o especialista.

Vantagem mútua

Para Amal Haddouche, diretora do Centro de Incentivo às Energias Renováveis do Marrocos, o projeto é uma parceria na qual os dois lados devem tirar proveito. “Não podemos ser somente um país de trânsito. O Marrocos tem também grandes problemas de abastecimento; 95% do nosso consumo vem de nossos fornecedores. No que diz respeito à segurança de abastecimento, temos as mesmas preocupações que a Europa”, diz Haddouche.

Dentro do Ministério marroquino de Energia, no entanto, há vozes que alertam para o perigo de que o país possa se deixar colonizar novamente: do ponto de vista energético e pelos grandes grupos empresariais alemães.

O ceticismo frente ao projeto Desertec vem também da França. Possivelmente porque Paris certamente preferiria fornecer ao Marrocos a tecnologia para usinas nucleares e não para energia solar.

Briga de lobbies

O presidente da Federação de Energia do Marrocos, Abdellah Alaouivê, também vê vantagens no uso de energia atômica, principalmente devido a seus baixos custos. “Contamos que, até 2020 ou 2025, teremos dois reatores nucleares. Especialistas marroquinos e estrangeiros estão examinando os melhores locais para posicioná-los. Mas também avaliamos se realmente precisamos da energia nuclear”, diz Alaoui.

Da vizinha Espanha, a discussão é acompanhada com um olhar crítico. Lá a satisfação não seria grande caso o Marrocos passasse a dispor de usinas atômicas. Isso faz com que o tema seja visto com extrema sensibilidade, num contexto em que os lobbies energéticos disputam a cooperação do país. A corrida está aberta. E, na ex-colônia francesa, a antiga metrópole pode acabar levando vantagem.

SV/dw
Revisão: Alexandre Schossler

Matéria da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, publicada pelo EcoDebate, 15/07/2009.

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