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Cidadão do Mundo, artigo de Ruben Siqueira

dom Luiz Cappio, em foto de arquivo
dom Luiz Cappio, em foto de arquivo

[EcoDebate] O bispo da Barra-BA, dom Luiz Cappio, recebeu o Prêmio Cidadão do Mundo, da Fundação Kant, em Freiburg, Alemanha, em maio. Sua luta contra a transposição do Rio São Francisco tem reconhecimento internacional. No ano passado, recebeu o prestigiado Prêmio Pax Christi, dado a pessoas que se destacam na promoção da paz. O Prêmio Kant também tem esta finalidade. O filósofo iluminista alemão Immanuel Kant pretendia que a paz viesse pela aliança entre razão e ética, os homens conhecendo e praticando os seus direitos como válidos para todos em todo o mundo.

No Brasil, não são poucos que o veem como um suicida ingênuo e equivocado promotor de conflitos. Acusam-no até de “dividir” o Nordeste…

Como se já não estivesse dividido, pelos mesmos conflitantes interesses, não entre sub-regiões, mas entre ricos e pobres, no mesmo e único semiárido, no São Francisco e no setentrional… A acusação tem origem óbvia: os grandes interessados na transposição.Os que querem, além do negócio da água bruta, estender ao setentrional o modelo intensivo de irrigação já falido, mas ainda muito “lucrativo” no São Francisco.

Esta disputa é muito menor diante do imenso desafio planetário da crise ecológica, muito maior que a econômica. É justamente a percepção disto que motiva estas premiações.

Dom Luiz tem sido visto lá fora como alguém que tem a coragem de tomar atitude diante da inconsistência das falsas soluções para os agravados problemas sociais e ambientais de hoje.

Ao agradecer o Prêmio Kant, ele disse: “Entenderam nosso gesto: tal projeto sintetiza a falácia do sistema, pois em nome dos pobres sedentos pretende criar segurança hídrica para grandes empreendimentos privados de produção e exportação de produtos hidrointensivos socialmente danosos, como a cana-de-açúcar para etanol”.

A transposição é a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento, eixo do governo Lula, que insiste no desenvolvimentismo. Esta política tem sido um desastre social e ecológico e um sucesso econômico duvidoso. Aumenta miséria, que não se resolve com programas assistencialistas, paliativos. Ecossistemas e biomas são devastados, o que não tem conserto.

Em nome da “retomada do crescimento”, o retrocesso atual na legislação social e ambiental atestado de mediocridade e da cegueira.

Concluiu o bispo na Alemanha: “No Brasil em lugar nenhum, não cabe mais o crescimento ilimitado e obsessivo. É urgente mudar nosso modo de produção e nossos padrões de consumo, estabelecendo como critério a destinação universal dos bens necessários. Temos de aprender a ‘viver mais com menos’”.

É esta sintonia com o sentimento do mundo que é premiada, com intenção de repercuti-lo.

Por isso as palmas das cerca de 300 pessoas presentes à premiação, quase a cada parágrafo de seu discurso de agradecimento. Já aqui, no Nordeste recém-inundado de tanta água de chuva, a transposição segue, pelas mãos do Exército…

Ruben Siqueira, Sociólogo, agente da CPT na Bacia do Rio São Francisco, colaborador e articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 11/07/2009

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