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Equador, para preservar a floresta, abre mão de explorar o petróleo do Yasuní

Quito está determinada a proteger a rica biodiversidade de uma área de 950.000 hectares no fronteira com o Peru
Quito está determinada a proteger a rica biodiversidade de uma área de 950.000 hectares no fronteira com o Peru. Foto de Guillermo Granja/Reuters

Sob a selva, petróleo. Deve-se explorá-lo para garantir o desenvolvimento de um pequeno país como o Equador? Deve-se deixá-lo sob a terra para preservar a floresta amazônica? A “revolução cidadã” prometida pelo presidente de esquerda Rafael Correa se pretende verde: Quito acaba de confirmar sua decisão de não explorar o potencial de 920 milhões de barris sob o parque Yasuní. Mas o governo equatoriano espera uma compensação financeira da comunidade internacional.

“Já que o aquecimento global se tornou uma prioridade mundial, vamos evitar a emissão de 410 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, ao deixar o petróleo sob a terra”, explica Roque Sevilla, presidente do conselho de direção da iniciativa Yasuni-ITT – do nome dos três campos petroleiros Ishpingo, Tambococha e Tiputini. Uma delegação equatoriana foi à Europa, na Alemanha e Grã-Bretanha, em meados de junho, para apresentar o projeto. Matéria de Marie Delcas, no Le Monde.

Servir de modelo

O protocolo de Kyoto fixou como objetivo a redução das emissões de dióxido de carbono. O Equador quer que seja reconhecido o valor da “não emissão”. A ideia é emitir certificados de garantia Yasuní (CGY) e fazer com que sejam aceitos no mercado dos certificados de redução de emissão de carbono (CER). À tarifa do dia, a não exploração de Yasuní poderá render mais de US$ 5 bilhões (quase R$ 10 bilhões).

O parque Yasuní é uma reserva inigualável de biodiversidade: “1.000 espécies de árvores em toda a América do Norte, 1.000 espécies de árvores por hectare do parque Yasuní”, resume Sevilla. Esse parque se estende sobre 950 mil hectares de floresta na fronteira peruana.

Além da riqueza de sua flora e fauna, ele abriga dois dos últimos povos isolados do planeta. Os tagaeri e os taromenane, já ameaçados pelos traficantes de madeira, certamente não sobreviveriam com a chegada das perfurações e torres de petróleo.

As companhias petroleiras juram que as técnicas adequadas permitiriam reduzir ao mínimo o impacto ambiental da extração do óleo cru.

Em 2007, Correa havia apresentado às Nações Unidas uma primeira versão da iniciativa Yasuní, em forma de “ultimato ecológico”. Para não explorar seu petróleo, o Equador exigia da comunidade internacional uma compensação anual equivalente à metade da estimativa do que o país teria deixado de lucrar, ou seja, US$ 350 milhões durante treze anos. Os Estados não fizeram fila para pagar. Somente o Parlamento alemão demonstrou um real interesse em votar uma moção.

Desde então, o Equador adotou uma nova Constituição, que reconhece os direitos da natureza. O preço do barril despencou. E Quito deu um acabamento melhor à sua proposta, graças também a estudos de viabilidade financiados pelos europeus. “O Equador abre mão de uma vez por todas de explorar o petróleo de Yasuní”, afirma Sevilla. Qualquer ideia de negociação ou ultimato desapareceu. Mas a vontade de obter uma compensação permanece.

É verdade que as reservas do Yasuní representam 20% das reservas certificadas de petróleo do país. O Equador, que voltou à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), produz 500 mil barris por dia. O petróleo corresponde a mais da metade de suas exportações e mais de um quarto das receitas do Estado. O dinheiro obtido com a venda dos CGY será destinado para um fundo administrado sob controle internacional. Ele permitirá financiar a política ecológica do país e o desenvolvimento social da Amazônia.

O reflorestamento de um milhão de hectares em trinta anos consta no programa, assim como uma estratégia de economia e de substituição de energia – para garantir, em especial, a valorização dos recursos geotérmicos desse país andino rico em vulcões. Segundo o governo, esses programas deverão permitir evitar a emissão de mais de 1.000 toneladas de CO2.

Em dezembro, em Copenhague, o Equador espera servir de modelo. “A iniciativa Yasuní poderá servir de projeto piloto para renegociar e aperfeiçoar o protocolo de Kyoto”, afirma Sevilla, ex-prefeito de Quito, dono da maior empresa de turismo do país e ecologista. “Em 1989, quando a organização Natura que eu dirigia propôs o resgate da dívida equatoriana para com a natureza, por um montante de US$ 10 milhões, todo mundo achou que éramos loucos. Deu certo”, ele repete, empolgado.

Tradução: Lana Lim

* Matéria [L’Equateur renonce à exploiter le pétrole du Yasuni] do Le Monde, publicada no UOL Notícias.

[EcoDebate, 10/07/2009]

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